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EMPREENDEDORISMO

De Goiás para o Brasil: insumos do Cerrado conquistam mercado de cosméticos

Empresa goiana aposta na bioeconomia | 07.06.25 - 13:59 De Goiás para o Brasil: insumos do Cerrado conquistam mercado de cosméticos Flor de Jatobá e bioativos (foto: Anna Stella/A Redação)
Caroline Louise

Goiânia
No coração do Cerrado, onde a diversidade natural pulsa com força e ancestralidade, uma empresa goiana tem inovado ao transformar espécies nativas como baru, jatobá e barbatimão em insumos de alto valor para os setores de saúde e beleza. “Essas escolhas não apenas diferenciam nossos produtos no mercado, mas também fortalecem cadeias produtivas regionais e promovem o desenvolvimento sustentável”, afirma Nathália Barbosa, fundadora da LunaGreen.

Criada em Aparecida de Goiânia a partir de uma pesquisa de mestrado, a LunaGreen une ciência, tradição e sustentabilidade para desenvolver cosméticos naturais com base em plantas do Cerrado. A iniciativa mostrou que é possível transformar conhecimento popular em pesquisa e gerar impacto ambiental positivo, além de transformar a ideia em um negócio de verdade, competitivo e com raízes profundas no bioma com a maior área desmatada do Brasil, segundo o MapBiomas Alerta.  “A empresa nasceu da minha pesquisa acadêmica, onde identifiquei o potencial de resíduos agroindustriais, como a goiaba, para gerar inovação no mercado cosmético”, conta Nathália, doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFG.
 

Nathália Barbosa, responsável pela LunaGreen (Foto: Anna Stella/ A Redação)

Bioeconomia em expansão
Esse movimento está inserido em um cenário global de transformação. A bioeconomia movimenta atualmente entre US$ 4 e 5 trilhões por ano, segundo o relatório Financing a Sustainable Global Bioeconomy, publicado pela organização NatureFinance em 2024. A estimativa é de que esse valor possa chegar a US$ 30 trilhões até 2050, refletindo a crescente demanda por soluções sustentáveis baseadas na biodiversidade, tecnologia e inovação. Nesse contexto em plena expansão, o Cerrado goiano surge como território estratégico.

O bioma, reconhecido por sua biodiversidade única, tem sido alvo de investimentos públicos e privados. No ano passado, o Governo de Goiás investiu cerca de R$ 200 milhões nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, com foco em bioeconomia, saúde e conservação ambiental, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). 
 
Mais que uma localização geográfica, o bioma é a essência da LunaGreen, que além de apostar nos insumos nativos, realiza a extração em parceria com uma cooperativa de mulheres em Jussara, no interior de Goiás. "Valorizamos parcerias com comunidades locais, pequenos produtores e iniciativas de agricultura familiar. Os insumos são obtidos respeitando práticas sustentáveis de coleta e cultivo, priorizando fornecedores que atuam com manejo responsável e rastreabilidade. Em alguns casos, oferecemos apoio técnico para garantir a qualidade e a padronização da matéria-prima, incentivando também a geração de renda e a valorização dos saberes tradicionais dessas comunidades", conta a empresária.
 

Cooperativa de mulheres em Jussara-GO (Foto: divulgação)
 
"Cada ingrediente carrega uma história, uma origem ética e uma composição rica em fitocomplexos. Por serem extraídos de espécies nativas e adaptadas ao bioma do Cerrado, muitos apresentam alta concentração de compostos bioativos, como antioxidantes e ácidos graxos essenciais. Isso confere aos produtos finais uma performance diferenciada, além de agregar valor em termos de sustentabilidade, rastreabilidade e propósito", acrescenta.
 
E a inovação vai além das plantas. Um dos ingredientes desenvolvidos pela empresa reaproveita quartzo descartado pela indústria mineradora, mostrando que até resíduos minerais podem ganhar novo significado dentro de uma cadeia cosmética de baixo impacto ambiental.
 
"Também incorporamos práticas de upcycling em nossa linha de ingredientes, como o uso do quartzo de reaproveitamento da indústria mineradora local, transformando um resíduo industrial em um ativo funcional e estético para a cosmética, reforçando nosso compromisso com a sustentabilidade e a inovação de baixo impacto ambiental", explica.
 

Bioativos da empresa LunaGreen (Foto: Anna Stella/A Redação)

Sebrae como elo entre ciência, mercado e empreendedorismo
Goiás vem se destacando na área e o conhecimento é a chave para o sucesso. "O Sebrae apoia diretamente a profissionalização do negócio, que é o primeiro passo para se posicionar estrategicamente nesses mercados diferenciados. Também colocamos à disposição dos pequenos negócios um amplo leque de informações para fomentar decisões estratégicas", afirma Douglas Paranahyba de Abreu, economista e coordenador do Polo de Referência Nacional em Agronegócio do Sistema Sebrae, liderado pelo Sebrae Goiás.
 

Douglas Paraneda de Abreu, coordenador do Douglas Paranahyba de Abreu, coordenador do Polo de Referência Nacional
em Agronegócio do Sistema Sebrae, liderado pelo Sebrae-GO (Foto: divulgação)

 
A instituição tem apoiado negócios que apostam na biodiversidade como diferencial competitivo e estratégico. "O consumidor final está cada vez mais valorizando elementos ligados à bioeconomia e à sustentabilidade. Isso gera oportunidade real de ganhos para os pequenos negócios, que são nosso público prioritário", afirma Douglas.
 
Ele destaca o programa Inova Cerrado, que conecta tecnologia, inovação e produtos da sociobiodiversidade goiana. "Nosso papel é conectar oportunidades e fornecer suporte completo: da identificação do insumo à estratégia de mercado, com consultorias, mentorias, treinamentos e missões técnicas", explica.
 

Sede so Sebrae em Goiânia (Foto: divulgação)
 
Nathália também contou com esse apoio, que foi decisivo para o crescimento da empresa. "O Sebrae foi um grande catalisador da nossa trajetória. Participamos de vários programas de aceleração, capacitações e consultorias em áreas como marketing, gestão de inovação e internacionalização, como Sebrae Delas, Empretec, Sebraetec, Capital Empreendedor, Sebrae Like a Boss, Programa ALI e outros. Fomos também reconhecidos no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2024, na categoria Ciência e Tecnologia. Esse apoio foi fundamental para transformar nossa base científica em um modelo de negócio viável e competitivo", ressalta.
 

Fachada da empresa LunaGreen (Foto: Anna Stella/A Redação)
 
Além disso, o Sebrae tem investido em parcerias com instituições como o Senar e promovido iniciativas que integram diferentes polos de referência em bioeconomia, artesanato e agronegócio. O apoio vai desde a formalização do negócio até a construção de narrativas de marca. "É importante que o empresário saiba comunicar bem sua diferenciação. Layout, cor, imagem e mensagem precisam acessar o desejo do consumidor e traduzir os atributos do produto. Sem isso, ele corre o risco de competir apenas por preço — e perder valor", alerta Douglas.

Cerrado como potência
Goiás reúne todos os elementos para se consolidar como protagonista da nova bioeconomia brasileira, unindo inovação, tradição e natureza na construção de um futuro mais sustentável e próspero. E mais do que uma alternativa aos mercados convencionais, essa visão representa uma transformação na forma de produzir, consumir e cuidar do território.
 
 

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no município de Alto Paraíso-GO
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
 
"Empreender com sustentabilidade não é apenas sobre produto, mas sobre propósito e sobre atender às reais necessidades das pessoas. É preciso buscar soluções que gerem valor para o mercado e para a sociedade ao mesmo tempo. E, principalmente, construir redes: ninguém inova nem cresce sozinho. Parcerias com universidades, instituições como o Sebrae e com quem já cuida da biodiversidade há gerações são fundamentais para crescer com impacto positivo", reforça a empresária Nathália Barbosa.
 
"O futuro passa pela reconexão com a natureza como fonte de soluções. Goiás tem tudo para liderar essa agenda, unindo inovação, ciência e valorização das comunidades locais", conclui Douglas Paranahyba.

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