Victor Santos
Goiânia - Pelé jogou em Goiânia sete vezes, onde marcou ao menos três gols, e um importante personagem da história futebolística local esteve lado a lado com o Rei do futebol. Trata-se de Urias Crescente Alves Junior, ex-árbitro goiano que atuou em 10 jogos nos quais Pelé esteve em campo.
Aos 97 anos, Urias relembra detalhes das partidas que apitou e fala sobre momentos históricos de sua carreira, como a participação na inauguração do estádio Serra Dourada, em 9 de março de 1975.
(Foto: Arquivo pessoal Urias Crescente)
Urias não poupa elogios para Pelé. Em entrevista ao jornal A Redação, afirmou que ele era um jogador difícil de marcar. “Quando estava com a bola no pé, ninguém tomava. Para conseguir era necessário derrubá-lo, pois a bola colava. Ele tinha uma facilidade, atraía a bola! Além disso, tinha uma elasticidade de dar inveja! Para saltar, ele conseguia pular para frente e para trás”, contou.
Além de destacar a habilidade técnica do atleta, o que não faltam são histórias envolvendo o jogador dentro das quatro linhas. Ele lembra de um jogo no qual o Rei usou de sua percepção para mudar o rumo da partida.
“Eu estava trabalhando como bandeira em um jogo entre os clubes Santos e XV de Piracicaba. A partida estava empatada. Nisso, o XV se fechou. Já no final, por volta dos 40 minutos, houve um arremesso. Ele (Pelé) fez um gesto pro companheiro, pedindo a bola no peito. Quando o companheiro arremessou, ao invés de ir na bola, Pelé jogou o corpo em cima do zagueiro e o defensor o segurou. A bola estava em jogo e o que aconteceu? Pênalti!” Disse empolgado o árbitro aposentado.
Camisa autografada
Entre as centenas de itens históricos que Urias Crescente guarda como recordação de sua carreira de árbitro, profissão exercida por 43 anos, um deles se destaca. Trata-se de uma camisa do Santos autografada por Pelé. Urias conta que a história desse valioso presente começou dentro de campo.
(Foto: Sérgio Paiva)
“Era um jogo que estava lotado. O Pelé estava muito bem marcado pelo Pacuzinho, um bom jogador que era do Goiás.[...] o Pacuzinho não deixava ele jogar. Aos 15 minutos do segundo tempo, houve uma jogada, ele balançou com o Pelé e os dois caíram”, relembrou.
Após o lance descrito, Urias conta que os atletas se estranharam e que teve que advertir os jogadores. “Eu chamei os dois e disse: Em respeito aos senhores e ao público que veio aqui ver vocês jogarem, eu não vou apresentar cartão, senão eu colocaria vocês pra fora. Então mudem o seu procedimento”. Ele ainda completa dizendo que Pelé deu um toque em seu braço e falou: “fica tranquilo, seu juiz”.
Urias recorda que quem pediu a camisa do Santos a Pelé foi seu filho, Sérgio Pato. “Após o jogo, meu filho, que tinha 10 anos, chegou perto do jorgador e disse: Pelé, me dá sua camisa? Eu sou filho do juiz”. O Pelé respondeu: “Olha, essa camisa eu tenho que doar”. Na ocasião, a camisa seria sorteada para angariar renda para uma instituição.
Mas isso não impediu que a lendária camisa 10 santista fosse parar nas mãos do ex-árbitro. Ao jornal A Redação, Urias contou como aconteceu. “Uma semana depois, eu chego na federação e me avisam que havia chegado uma encomenda pra mim. Eu estranhei pois não havia feito encomenda alguma. Quando cheguei lá, havia uma caixinha e dentro dela, a camisa autografada. Eu me assustei e fiquei emocionado ao ler a dedicatória. Toda a federação veio ver a camisa e foi uma onda para cima de mim, brincavam que eu havia comprado o Pelé”, disse Urias, em meio a risos.