Raphaela Ferro
Goiânia - Natural de Goianésia, Kamila Barbosa compartilha o caminho que vai do interior de Goiás às Olimpíadas por meio da luta olímpica com Laís Nunes. A diferença, neste momento, é que ela ainda busca a vaga olímpica já conquistada pela amiga. Kamila vai para a Bulgária para disputar a seletiva olímpica no início de maio. Ela viaja para lá para disputar o torneio preparatório para a seletiva e permanecerá no país se preparando até a data da competição que pode lhe render a vaga nos Jogos de Tóquio.
Na busca pelo sonho, a atleta viveu situações difíceis relacionadas justamente às viagens, em outras épocas tão comuns à rotina de quem participa de competições esportivas. “Nesse último mês, estive em competições fora do país e o que eu posso afirmar é que agora não é momento de viajar se não tiver um motivo real. São muitos protocolos e as companhias estão perdidas com tantos países e tantas restrições diferentes. Eu passei um terror na Bielorrússia que não desejo para ninguém. Foi horrível. Mas, graças a Deus, no final deu tudo certo”, lembra.
Kamila conta que passou pela Bielorrússia em trânsito entre a Ucrânia e a Itália, para participar de competições. “Brasileiros não podem entrar na Itália, exceto em alguns casos e um deles é para evento esportivo, mas as companhias não sabem de tudo isso. Eles me pararam e não deixaram seguir viagem. Eu estava com 1 kg de documentos e fui apresentando todos”, explica. A demora em identificar que ela poderia passar fez com que a goiana perdesse o voo para Roma. Sem internet disponível no aeroporto para os passageiros, ela teve dificuldades para entrar em contato com representantes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), no Brasil, onde ainda era madrugada.
“Eu não tinha comunicação e a companhia não moveu nem a ponta da unha para tentar me ajudar. Falaram: você precisa comprar um novo bilhete agora. Queriam me colocar para fora da sala onde eu estava, mas aí eu entraria na Bielorrússia e teria que ficar de quarentena por no mínimo 10 dias”, afirma Kamila. Ela relata que uma funcionária da companhia a tirou da zona internacional do aeroporto e a levou para uma sala, em que sofreu ameaças e esteve presa até o COB, com o qual ela conseguiu se comunicar por WhatsApp com a ajuda de uma passageira que viu seu desespero, conseguir autorização com a embaixada brasileira para que ela passasse pela Turquia e comprasse outra passagem para sair da Bielorrússia.
Segundo ela, o comitê teve que fazer a negociação pela embaixada do Brasil na Turquia porque era uma segunda-feira e só sairia voo para a Itália novamente na sexta. “Outra coisa, para viajar, você precisa do PCR negativo de até 48 horas. Nesse aeroporto, nem o exame de covid tinha para fazer. O meu exame ia vencer, porque já tinha dado tempo depois de passar o dia todo lá.” Até que o COB conseguisse resolver, ela ficou presa em uma sala sem poder sair para comer ou procurar um lugar para descansar. “O comitê olímpico se empenhou ao máximo, vendo tudo quanto é tipo de voo, mas não tinha voo, porque o aeroporto era muito limitado mesmo”, afirma.
Kamila Barbosa tem viajado para competições em busca da vaga olímpica
(Foto: Reprodução / Facebook)
Protocolos
Ela conseguiu sair do aeroporto no outro dia pela manhã. Mas, alguns dias depois, também teve dificuldade para sair da Itália, dessa vez por causa da demora no resultado de um exame RT-PCR, feito para identificar se a pessoa está com covid-19. “Viajar não está fácil. Você tem que ter feito o exame há no máximo 48 horas, na maioria dos países. Eu fiz, no total, uns sete exames durante duas semanas”, explica Kamila. Em Roma, ela não foi informada que o resultado do teste demoraria de 24 a 48 horas para ser entregue - quando o fez no Brasil e na Ucrânia, a resposta saía em até 6 horas.
“Eu sairia da Itália no domingo às 6 horas. No sábado, passei o dia inteiro competindo. Saí de tarde para noite do ginásio e fui atrás para fazer o teste de covid. Quando eu cheguei para fazer o teste, o comitê organizador falou que o teste só saía com 24 a 48 horas. Eu perdi o meu voo”, lembra a atleta. Ela teve que remarcar a passagem, com custo, duas vezes até conseguir viajar com o resultado do exame em mãos. “Em cada país que você passa, é um protocolo diferente, é muito documento para comprovar que está em evento esportivo, que sou atleta, tem o teste de covid… Para voltar para o Brasil tem que preencher check-list da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Então, é muita coisa.”
Kamila avalia que, no momento atual, só é razoável fazer essas viagens se for realmente necessário. “Além de tudo mais, você tem contato com outras pessoas, tem o contágio da covid-19… Está bem difícil mesmo de poder viajar”, considera ela, que tem medo de que a mãe seja contaminada pela doença. Ela até admite que há um certo receio de que surja notícia de cancelamento das Olimpíadas por causa do cenário da pandemia, mas acredita que elas serão sim realizadas este ano. “Não vejo a hora de estar com a minha vaga garantida rumo a Tóquio!”
A entrevista com Kamila faz parte de uma série especial sobre atletas goianos e as expectativas para as Olimpíadas de Tóquio 2020. Para conferir a íntegra do conteúdo, clique aqui.