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Fred x Mabel

2º turno em 2024 é o 7º da história de Goiânia

Tabus persistem desde 1992; relembre | 20.10.24 - 07:56 2º turno em 2024 é o 7º da história de Goiânia (Arte: Anna Stella/jornal A Redação)
Samuel Straioto

Goiânia - Goiânia se prepara para o seu sétimo segundo turno na disputa pela Prefeitura, consolidando um histórico de eleições marcadas por tabus que nunca foram quebrados. Desde 1992, quando o segundo turno começou a ser realizado em cidades com mais de 200 mil eleitores, a liderança do primeiro turno sempre se traduziu em vitória na segunda fase em Goiânia.
 
Agora, esse cenário desafia Sandro Mabel (União Brasil), segundo colocado no primeiro turno de 2024, que busca romper com uma tradição de três décadas ao enfrentar Fred Rodrigues (PL), líder da primeira etapa, que espera manter o histórico da cidade.

Fred e Mabel (Fotos: reprodução)
 
O segundo turno nas eleições municipais brasileiras foi estabelecido pela Constituição Federal de 1988. Conforme o artigo 29, inciso II, ele é previsto para municípios com mais de 200 mil eleitores, quando nenhum candidato alcança mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno. Essa regra foi aplicada pela primeira vez em 1992.
 
O professor de Direito Eleitoral Luiz Almeida explica que o segundo turno tem o objetivo de assegurar a maioria absoluta dos votos válidos. “Ele visa proporcionar maior legitimidade ao eleito em cidades com mais de 200 mil eleitores, permitindo que a decisão final seja mais representativa”, afirma Almeida.
 
Em Goiânia, o segundo turno foi implementado pela primeira vez em 1992, quando Darci Accorsi (PT) derrotou Sandro Mabel (PMDB). Esse foi um dos primeiros episódios que deu origem ao tabu que persiste até hoje: nunca houve uma virada de resultado entre os dois turnos na capital goiana.

A cientista política Mariana Gomes afirma que o segundo turno em Goiânia tem servido como uma confirmação das escolhas iniciais dos eleitores. "O eleitorado de Goiânia tende a manter sua decisão tomada no primeiro turno, e o segundo colocado enfrenta a tarefa ingrata de convencer não apenas os indecisos, mas também de tentar atrair votos de quem já se decidiu. Esse comportamento reforça a estabilidade nas eleições locais", analisa Gomes

Além de 1992, o segundo turno também foi realizado em 1996, 2000, 2004 e 2016. Em 2008 e 2012 as eleições foram concluídas já em primeiro turno, com as reeleições de Iris Rezende (MDB) e Paulo Garcia (PT), respectivamente.

Além disso, um segundo aspecto curioso das eleições municipais em Goiânia é que, historicamente, o apoio do governo estadual não resultou em eleição do prefeito da capital. O candidato apoiado pelo governador de plantão frequentemente é derrotado, como ocorreu em todas as eleições desde 1992.

Raio x do 2º turno em Goiânia

1992: Darci Accorsi (PT) x Sandro Mabel (PMDB)
A primeira eleição com segundo turno em Goiânia, realizada em 1992, trouxe à tona o início de um padrão. Darci Accorsi (PT) liderou o primeiro turno com 36,87% dos votos, enquanto Sandro Mabel (PMDB) ficou com 25,32%. No segundo turno, Accorsi ampliou sua vantagem, vencendo com 54,69%. Mabel, que contava com o apoio do governador Iris Rezende e do então prefeito Nion Albernaz, não conseguiu reverter a vantagem do petista.

Darci e Mabel (Fotos: reprodução)

Na época, as expectativas de Mabel eram otimistas, conforme relatado pela repórter Carla Borges, do Diário da Manhã. "Suado, com um grande adesivo amarelo colado na altura do peito, o candidato Mabel fez uma análise muito positiva da campanha: ‘O nosso trabalho foi sério, apresentamos boas propostas que a população acompanhou atentamente’", declarou Mabel um dia antes da votação final. No entanto, os esforços não foram suficientes para evitar a derrota.

O mesmo jornal também trouxe a posição do vencedor, logo em que as pesquisas bocas de urnas eram divulgadas nas rádios Difusora e Anhanguera. “Para Darci Accorsi, sua eleição foi possível devido ao conjunto forças que possibilitou a formação da coligação, e também, pelo apoio recebido de todos que acreditaram em suas propostas. Darci Accorsi o PT, juntamente com partidos da coligação, honrará os compromissos assumidos pela campanha.

"A eleição de 1992 foi marcada pelo desejo de mudança. Darci Accorsi representava um novo projeto político em Goiânia, enquanto Sandro Mabel, embora bem articulado, enfrentou dificuldades para convencer o eleitorado de que seria a melhor escolha. Esse foi o primeiro sinal de que o apoio do governo estadual, que parecia um trunfo, não garantia a vitória nas urnas", explica a cientista política Mariana Gomes.

Resultados de 1992:
Turno Candidato Partido Votos % Votos Brancos % Brancos Votos Nulos % Nulos Abstenção
1º Turno Darci Accorsi PT 125.013 36,87% - - - - -
1º Turno Sandro Mabel PMDB 85.863 25,32% - - - - -
2º Turno Darci Accorsi PT 201.768 54,69% 3.891 0,96% 33.096 8,15% 16,5%
2º Turno Sandro Mabel PMDB 167.183 45,31% - - - - -
 
1996: Nion Albernaz (PSDB) x Luiz Bittencourt (PMDB)
Quatro anos depois, em 1996, Nion Albernaz (PSDB) retornou à cena política de Goiânia e consolidou sua liderança desde o primeiro turno, quando obteve 44,52% dos votos, contra 26,69% de Luiz Bittencourt (PMDB). No segundo turno, Albernaz ampliou sua vantagem e venceu com 55,71%, apesar do forte apoio do então governador Maguito Vilela (PMDB) a Bittencourt.

Nion e Bittencourt (Fotos: reprodução)

Na época, a popularidade de Albernaz foi um fator decisivo. Com uma gestão bem avaliada em mandatos anteriores, Nion era visto como uma figura de estabilidade e segurança. Em contrapartida, Bittencourt, mesmo com o apoio do governo estadual, não conseguiu mobilizar o eleitorado a seu favor. O contexto das eleições de 1996 também marcou a introdução das urnas eletrônicas para parte dos eleitores, trazendo modernização ao processo eleitoral.

"A eleição de 1996 foi um reflexo claro da importância do nome e do histórico político. Nion Albernaz representava a continuidade de um projeto bem-sucedido em Goiânia, e Bittencourt não conseguiu construir uma narrativa de oposição forte o suficiente. O apoio de Maguito Vilela não se traduziu em votos, reforçando a dificuldade que candidatos com base exclusivamente no apoio governamental enfrentam", destaca Gomes.

Resultados de 1996:
Turno Candidato Partido Votos % Votos Brancos % Brancos Votos Nulos % Nulos Abstenção
1º Turno Nion Albernaz PSDB 197.975 44,52% 5.662 1,16% 39.166 8,00% 17,5%
1º Turno Luiz Bittencourt PMDB 118.688 26,69% - - - - -
2º Turno Nion Albernaz PSDB 247.833 55,71% 5.070 1,07% 26.152 5,49% 19,77%
2º Turno Luiz Bittencourt PMDB 197.029 44,29% - - - - -
 
2000: Pedro Wilson (PT) x Darci Accorsi (PTB)
Em 2000, Pedro Wilson (PT) venceu o segundo turno após liderar o primeiro com 37,19% dos votos, superando o ex-prefeito Darci Accorsi (PTB), que havia obtido 30,05%. No segundo turno, Wilson ampliou sua vantagem e venceu com 55,77% dos votos válidos.
Esse ano foi marcado pela força do PT, que conquistou seu segundo mandato na prefeitura de Goiânia. Wilson, um político que se apresentou como um nome alinhado com as propostas de desenvolvimento social e participação popular, o que conquistou o eleitorado goianiense. Já Accorsi, apesar de sua experiência como prefeito, não conseguiu reverter a vantagem de Wilson.

Pedro e Darci (Fotos: reprodução)

"O cenário de 2000 trouxe novamente o peso do projeto político do PT, que continuava crescendo em Goiânia. Pedro Wilson soube capitalizar o sucesso da gestão anterior de Accorsi, enquanto o ex-prefeito não conseguiu renovar seu discurso para atrair os eleitores que o apoiaram no passado. Esse foi mais um exemplo da dificuldade de quem fica em segundo lugar no primeiro turno conseguir uma virada", afirma Mariana Gomes.

A cientista relata que esta eleição ficou caracterizada por uma tentativa mais aguda do governo do estado em conquistar vitória na capital, com Lúcia Vânia sendo candidata pelo PSDB de Marconi Perillo, mas que sequer chegou ao segundo turno, obrigado o tucano a apoiar Pedro Wilson.

Resultados de 2000:
Turno Candidato Partido Votos % Votos Brancos % Brancos Votos Nulos % Nulos Abstenção
1º Turno Pedro Wilson PT 201.336 37,19% 14.475 2,48% 27.168 4,66% 14,58%
1º Turno Darci Accorsi PTB 162.706 30,05% - - - - -
2º Turno Pedro Wilson PT 294.935 55,77% 12.947 2,30% 20.360 3,62% 17,63%
2º Turno Darci Accorsi PTB 233.958 44,23% - - - - -
 
2004: Iris Rezende (PMDB) x Pedro Wilson (PT)
Em 2004, Iris Rezende (PMDB) retomou o cenário político de Goiânia após um período de derrotas, enfrentando o então prefeito Pedro Wilson (PT), que tentava a reeleição. No primeiro turno, Iris obteve 47,47% dos votos, enquanto Pedro Wilson ficou com 23,03%. No segundo turno, Iris ampliou a diferença, vencendo com 56,71%.

Iris e Pedro (Fotos: reprodução)

Esse segundo turno marcou o retorno de uma das maiores figuras políticas de Goiás. Após ser derrotado nas eleições estaduais de 1998 e 2002, Iris reconstruiu sua trajetória ao vencer a prefeitura de Goiânia em 2004. O então governador Marconi Perillo, que havia vencido Iris em 1998, declarou apoio a Pedro Wilson no segundo turno, mas a força política de Iris prevaleceu.

"Iris Rezende trouxe consigo um apelo popular muito forte, especialmente em um momento em que ele buscava se reerguer politicamente. A eleição de 2004 mostrou que, apesar do apoio do governo estadual a Pedro Wilson, o carisma e a trajetória de Iris tinham um peso decisivo. Foi um dos exemplos mais claros de que o apoio governamental nem sempre é determinante", explica a cientista Mariana Gomes.

Resultados de 2004:
Turno Candidato Partido Votos % Votos Brancos % Brancos Votos Nulos % Nulos Abstenção
1º Turno Iris Rezende PMDB 299.912 47,47% 10.857 1,62% 27.061 4,04% 15,35%
1º Turno Pedro Wilson PT 145.503 23,03% - - - - -
2º Turno Iris Rezende PMDB 349.133 56,71% 6.372 1,00% 16.756 2,62% 19,26%
2º Turno Pedro Wilson PT 266.541 43,29% - - - - -


Eleições de 2008 e 2012: definidas no primeiro turno
Em 2008 e 2012, as eleições em Goiânia não chegaram ao segundo turno, sendo decididas já na primeira etapa. Em 2008, Iris Rezende (PMDB) foi reeleito no primeiro turno com uma vitória expressiva. Já em 2012, Paulo Garcia (PT), que assumiu o cargo em 2010 após a renúncia de Iris, venceu também no primeiro turno. Esses anos marcaram a consolidação de lideranças locais que não enfrentaram desafios suficientemente fortes para forçar uma segunda etapa de votação.

2016: Iris Rezende (PMDB) x Vanderlan Cardoso (PSB)
Na eleição de 2016, Iris Rezende voltou ao cenário político de Goiânia, após ter perdido as eleições para governador em 2010 e 2014, vencendo seu quarto mandato como prefeito da capital. No primeiro turno, Iris obteve 40,47% dos votos, contra 31,84% de Vanderlan Cardoso (PSB). No segundo turno, Iris consolidou sua vantagem, vencendo com 57,70%.

Iris e Vanderlan (Fotos: reprodução)

Apesar do apoio de Marconi Perillo, então governador do estado, Vanderlan filiado a época no PSB não conseguiu reverter a liderança de Iris. A abstenção, como nas eleições anteriores, cresceu no segundo turno, atingindo 24,09%, um reflexo do desgaste natural do processo eleitoral.

"Iris Rezende, com sua longa trajetória política, tinha uma conexão emocional com os eleitores de Goiânia. O eleitorado buscava alguém com experiência e confiança, e mesmo com um adversário bem-preparado como Vanderlan, o peso histórico de Iris foi decisivo. A eleição de 2016 reforça o padrão de que o apoio do governo estadual, mais uma vez, não conseguiu influenciar o resultado", argumenta a cientista Mariana Gomes.
  
Resultados de 2016
Turno Candidato Partido Votos % Votos Brancos % Brancos Votos Nulos % Nulos Abstenção
1º Turno Iris Rezende PMDB 277.074 40,47% 19.253 2,54% 53.844 7,11% 20,83%
1º Turno Vanderlan Cardoso PSB 217.981 31,84%          
2º Turno Iris Rezende PMDB 379.318 57,70% 15.478 2,13% 53.736 7,40% 24,09%
2º Turno Vanderlan Cardoso PSB 278.074 42,30%          
 
2020: Maguito Vilela (MDB) x Vanderlan Cardoso (PSD)
A eleição de 2020 foi marcada pela ausência física de Maguito Vilela (MDB), que, internado com Covid-19, participou apenas do início da campanha e a maior parte do tempo esteve em unidade hospitalar na cidade de São Paulo. No primeiro turno, Maguito liderou com 36,02% dos votos, seguido por Vanderlan Cardoso (PSD) com 24,67%. No segundo turno, Maguito venceu com 52,60%, mesmo sem poder participar ativamente da reta final da campanha.

Maguito e Vanderlan (Foto: reprodução)

O governador Ronaldo Caiado, que apoiou Vanderlan, não conseguiu reverter o cenário, marcando mais uma vez a dificuldade de um candidato apoiado pelo governo estadual em conquistar o segundo turno em Goiânia. O vencedor, Maguito Vilela tomou posse de forma remota, mas veio a falecer em janeiro de 2021, sem exercer o cargo. O vice-prefeito  Rogério Cruz, a época filiado ao partido Republicanos assumiu o mandato que será finalizado em 31 de dezembro de 2024.

"A eleição de 2020 foi um caso atípico por conta da pandemia. A ausência de Maguito Vilela, que venceu mesmo sem estar presente, demonstra o poder de uma campanha bem estruturada e uma forte conexão com o eleitorado. Vanderlan, mais uma vez, apesar do apoio de um governador popular como Caiado, não conseguiu virar o jogo no segundo turno", conclui Mariana Gomes.

Resultados de 2020:
Turno Candidato Partido Votos % Votos Brancos % Brancos Votos Nulos % Nulos Abstenção
1º Turno Maguito Vilela MDB 217.194 36,02% 26.243 3,92% 43.512 6,47% 30,72%
1º Turno Vanderlan Cardoso PSD 148.739 24,67%          
2º Turno Maguito Vilela MDB 277.497 52,60% 15.478 2,13% 53.736 7,40% 36,75%
2º Turno Vanderlan Cardoso PSD 250.036 47,40%          
 
Mariana Gomes avalia que com a chegada do sétimo segundo turno em Goiânia, Fred Rodrigues lidera a disputa, e Sandro Mabel tenta quebrar um tabu de mais de três décadas. A história eleitoral da capital mostra que o segundo turno tem servido para consolidar a escolha do eleitorado, e aqueles que ficam em segundo lugar no primeiro turno enfrentam desafios consideráveis para reverter o cenário.

A cientista política finaliza: "O segundo turno em Goiânia tem se tornado mais uma confirmação do que uma reviravolta. Fred Rodrigues está em posição de repetir essa tradição, enquanto Sandro Mabel precisa de uma estratégia diferente para quebrar tabus e mudar o rumo dessa história".

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