José Abrão
Goiânia – Começou nesta quinta-feira (4/9) e segue até domingo (7/9) o Festival Goiânia Noise, no Centro Cultural Martim Cererê, no Setor Sul, templo do rock independente goiano. E esta edição já começou histórica: a festa completa 30 anos de história em grande estilo, com quatro dias de programação, tendo dois dias com entrada franca.
A abertura reuniu amantes de rock (Foto: Anna Stella/A Redação)
Nesta quinta-feira, com entrada gratuita, a agenda começou às 19h30 com Sangra D’Água e encerrou com show da banda goiana Carne Doce. Léo Razuk e Léo Bigode, sócios na Monstro Discos, realizadora do evento, contam da satisfação de manter a chama do rock goiano viva por três décadas.
“Quando começou, a gente não tinha a mínima ideia de onde ia parar. Chegar aos 30 anos é uma vitória, uma satisfação muito grande. Há um orgulho muito grande em ver o que a gente construiu, o que a gente conseguiu mexer na cidade, o que influenciamos. Botamos Goiânia no mapa da música nacional”, diz Razuk. Ele destacou a ideia da gratuidade em dois dias do festival: “É uma ação de formação de plateia. Por ser de graça, um cara que não conhece pode, de repente, vir aqui e ter contato com bandas e músicas diferentes, passa a conhecer o Cererê. É uma forma de renovar a cena com essa gratuidade”, completa.
Léo Razuk (Foto: Anna Stella/A Redação)
Bigode concorda: “O papel do Noise sempre foi esse, de oxigenar a cena, de dar vazão ao novo que não está inserido na grande mídia. É emocionante e, enquanto estiver emocionante, isso vale a pena.” Para ele, é importante destacar o papel e a quantidade de bandas novas e locais na programação do festival. “Estamos sempre buscando esses sons loucos, diferentes, autorais”, celebra.
Léo Bigode (Foto: Anna Stella/A Redação)
Márcio Júnior não faz mais parte da Monstro, mas também fez parte dessa história não apenas por meio da produtora, mas por sua banda, a Mechanics, a única a tocar em todas as edições (inclusive nesta). Para ele, chama a atenção “um festival com essa longevidade em uma cidade tão jovem quanto Goiânia, em que a gente inventou que era a capital do rock alternativo e criamos esse rolê para ocupar todos esses espaços”. Ele lembra que “chamamos a atenção para uma cena que existia e não tinha onde tocar. O Noise é um marco da cultura goiana e é incrível ver que o festival se mantém íntegro e sempre pensando em música nova, independente e autoral”, completa.
Márcio Júnior (Foto: Anna Stella/A Redação)
Gerações de bandas se encontram
Lipe, guitarrista da banda Idos de Março, comenta ser um prazer imenso fazer parte do Noise. “Acabamos de lançar nosso primeiro trabalho autoral e poder estar aqui mostrando esse trabalho novo em um festival tão importante para a cidade, pra gente, é uma honra enorme.” É a 2ª vez que a Idos de Março participa, e Lipe lembra que ir a edições anteriores do Noise influenciou sua carreira musical: “Os primeiros shows que eu vim foram no Martim Cererê. Sempre foi um sonho tocar no Martim, no Noise. Então, é incrível poder se apresentar aqui.”
Banda Idos de Março (Foto: Anna Stella/A Redação)
Os veteranos que lotaram o evento desta quinta são Salma Jô e Mac, o power couple por trás da Carne Doce, que encerrou a programação. "É muito especial pra gente. Nós nos formamos, de certa forma, no Goiânia Noise. É um festival em que sempre sonhamos em conquistar esse palco e esse público e que a gente frequentava antes de ser banda e de ser artista", conta Salma.
Salma Jô e Mac (Foto: Anna Stella/A Redação)
"Esse espaço é muito importante porque a gente começou a sonhar aqui", completa Mac. "Esses caras, completando 30 anos de festival, merecem um salve, porque são 30 anos de muito trabalho em busca de sonhos. O importante é a gente não perder essa conexão com esse sonho que começou a ser construído quando ainda éramos adolescentes. Razuk e o Bigode estão de cabeça branca, mas ainda estão sonhando como quando começaram", finaliza.
Banda Carne Doce (Foto: Anna Stella/A Redação)
Fãs em busca do novo
Nada disso seria possível, naturalmente, sem o público. Centenas de pessoas lotaram o Martim Cererê em plena quinta-feira, mesmo com a sexta sendo, para a grande maioria, dia de levantar cedo e ir pro rala. Heitor Felipe e Vinícius Rodrigues cursam Ciências da Computação e ambos estão no Noise pela primeira vez. "A gente está curtindo bastante. Eu pretendo vir todos os dias. Hoje eu estou muito pilhado pra ver a banda Carne Doce, que escuto bastante. Estou muito animado", revela Heitor. Vinícius conta que acha que o espaço para bandas novas e desconhecidas é um dos seus pontos mais fortes. "Eu gosto de conhecer. A gente já tinha o costume de ver bandas mais alternativas quando se apresentam aqui, é divertido ir às escuras".

Vinícius e Heitor (Foto: Anna Stella/A Redação)
"Como músico, acho que comecei nessa área por causa do Noise. É uma resistência muito grande. Passa década, é o festival continua vivo", conta o produtor musical Antônio Victor, dessa vez acompanhado pelos amigos João Pedro Porto e João Felipe Castilho. "O primeiro show que eu vi na vida foi do Mechanics, ainda criança, meu pai me trouxe e eu pensei: quero fazer isso", completa.
Antônio Victor, João Pedro Porto e João Felipe (Foto: Anna Stella/A Redação)
Agenda
Nesta sexta (5), a goiana Tatame abre as apresentações e o encerramento fica por conta dos goianienses da Violins e com o rock mineiro da Black Pantera. Ainda estão na programação outras atrações de fora, como Mateus Fazeno Rock (CE) e os veteranos da banda Garotos Podres (SP).
No sábado (6), dia mais recheado do evento, os goianos da Banana Bipolar abrem a agenda. A noite será fechada com os titãs locais da Black Drawing Chalks, seguidos pela lenda do rock marginal Rogério Skylab. Na programação estão ainda Maré Tardia (ES) e Jovens Ateus (PR).
No domingo, último dia do festival, a banda Agnoizze abre a programação, que ainda conta com a prata da casa: Mechanics seguida pela Hellbenders. O encerramento fica pelos veteranos da Ratos de Porão.
Os ingressos estão à venda pela Bilheteria Digital a partir de R$ 50.
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