Jales Naves
Especial para o jornal A Redação
Goiânia - Os eventos normalmente formais no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, uma característica da entidade, pela sua tradição, às vezes surpreendem e tornam as iniciativas mais participativas. Foi o que aconteceu no Café com Arte na Casa Rosada de Goiânia na manhã desta terça-feira, dia 2, para a abertura das exposições dos artistas plásticos Dorothy Hannas, Euclides Arrais e Ionara Novais e lançamento dos livros da promotora de Justiça aposentada Eliana Curado Barbosa. Convidado do presidente da Associação Goiana de imprensa, Valterli Leite Guedes, o advogado e jornalista Jesus Leite, 70 anos, natural de Assaré, CE, descontraidamente, como é seu estilo, deu o novo tom ao ambiente: explicou que é alcoólatra – “não existe ex-alcoólatra”, explicou –, que deixou o copo há mais de 40 anos, declamou, cantou e envolveu os presentes em sua animação, com todos cantando com ele as modinhas e marchinhas, de forró, baião e xaxado, que cantarolou, como todo bom nordestino. É membro da Academia de Letras do Brasil, Seção de Araripe.
O presidente da Associação de Artes Visuais de Goiás, Pedro Galvão, de sua parte, falou da situação dos artistas e da dificuldade para tem, para venda de seus trabalhos, referindo-se a ele próprio, já com mais de 80 peças prontas e ainda não comercializadas. É um fato, como explicou, e por isso agradeceu a parceria e a oportunidade que o IHGG abriu em seus amplos e bem localizados espaços para essas mostras, sempre com bom público, boa divulgação de seus trabalhos e boa expectativa de serem adquiridos. Explicou ser essa uma das razões de muitos artistas só começarem depois de se aposentar em outras funções. Nesses quatro anos da atual gestão já foram realizadas mostras de mais de 80 artistas, todas com sucesso de público e de vendas.
Os expositores mesmo falaram que estavam ali realizando sonhos que acalentavam há muito, desse contato com a sociedade, para mostrar sua produção e poder dialogar com as pessoas sobre seu trabalho e seus propósitos. Como Euclides Arrais, que só agora, depois de se aposentar, é que está apresentando sua produção artística, e a escritora Eliana Curado, que concluiu sua participação no Ministério Público do Estado do Tocantins para exibir seus escritos, ingressando na exigente literatura infantil, de dialogar com os jovens. Ionara, mais ousada, disse que começou mais tarde e disse de seus planos, já tendo agendado uma mostra em Portugal, a partir da próxima semana. Houve a concordância da dificuldade de se viver da arte. “Sei produzir, mas não consigo vender”, tem sido a grande queixa.
Acolhida
O presidente do IHGG, Jales Guedes Coelho Mendonça, que conduziu a solenidade informalmente, afirmou que a arte tem sido estimulada e valorizada no Instituto. Citou o espaço ao lado da Casa Rosada de Goiânia, hoje o principal centro de visitas da cidade, onde as pessoas vão conhecer os trabalhos e aproveitam para tirar fotos, divulgá-las pelas redes sociais e incentivar as visitas. “É, seguramente, o espaço mais fotografado da cidade”, disse.
O Instituto, com múltiplas atividades, preserva e guarda a memória histórica e a leva às novas gerações, numa perspectiva nova, de resgate desse passado e apresentá-lo num formato dinâmico, como é o projeto “A história chama a escola”, que já recebeu mais de 10 mil alunos de escolas públicas e privadas; a hemeroteca, atualmente o principal repositório da imprensa goiana no país, com 117 jornais e publicações e 10.178 edições cadastradas e 31 cidades goianas envolvidas, e a parte gastronômica, no Café Brasileira Léo Lynce.
Na sessão de autógrafos, Eliana Curado Barbosa afirmou que, assim como um livro só ganha vida quando é aberto, “minha escrita só faz sentido quando chega até vocês. Gratidão por darem sentido a este momento”, ressaltou. Contou uma pequena história para justificar o nome de Myana, que era ela: sua avó materna, quando acabara de se casar, acolheu uma criança, 10 anos mais jovem que ela, cuja casa, incendiada nessa época, afetou seu rosto e sua fala, e por isso, nessa dificuldade em se expressar, ao invés de falar Eliana pronunciava Myana, que acabou se tornando a personagem de seus livros.
Presente ao evento, a advogada Terezinha do Prado fez questão de cumprimentar o Presidente do Instituto pelo trabalho que realiza, de não apenas ser o guardião da memória, como se constituir num centro de pesquisa e debate de grandes temas. É filha de um dos primeiros cartorários de Goiânia, Flórido do Prado, que veio de Bela Vista de Goiás, nos anos 1940, para implantar no bairro de Campinas o Cartório de Registro Civil da nova capital.