Jales Naves
Especial para A Redação
Goiânia - O resgate da memória, sempre presente nas preocupações e ações do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), ganhou um novo amparo com o lançamento na manhã de sexta-feira (8/8), na Casa Rosada de Goiânia, do livro “Ribalta Carioca – Clássicos do Teatro”, do escritor Sergio Fonta, presidente da Academia Carioca de Letras. Ele discorreu rapidamente sobre essa questão que é, como demonstrou, de historiadores, estudiosos e pesquisadores, diante da dificuldade em encontrar apontamentos, documentos e registros que amparem suas buscas para escrever sobre pessoas e fatos regionais e nacionais, e não deixar grandes nomes caírem no esquecimento, como acontece muito.
“O que o leitor de hoje sabe da dramaturgia do passado?”, indagou, para ele mesmo responder: “Pouco, quase nada”. E acrescentou: o teatro tem a capacidade de divertir, de informar, e, também, de formar pensamentos, senso crítico e comportamentos, “se analisarmos como era a sociedade de quase 200 anos atrás e de como é nossa sociedade agora, de como nos inserimos nela”.
O que dizer de peças como “O noviço” (1845), “O demônio familiar” (1857), “Caiu o Ministério” (1882), “A capital federal” (1897) e “A bela Madame Vargas” (1912)? São clássicos escritos por nomes como Martins Pena, José de Alencar, França Júnior, Artur Azevedo e João do Rio, “todos com biografia e bibliografia exemplares”. Foi como justificou a publicação de seu livro – para “abrir uma janela dos velhos tempos para os novos tempos e, ainda por cima, divertir, com comédias com as de Pena, Alencar, França Jr. e Azevedo e ou se empolgar com o drama sofisticado e quase policialesco de João do Rio”.
Dificuldades
Há sempre dificuldade – como explicou – entre estudantes e, por vezes, professores, para encontrar clássicos do teatro brasileiro em edições recentes, para defender sua proposta, de trazer à tona textos que há muito não ocupam as prateleiras das livrarias e que retratem o Rio de Janeiro em suas variadas vertentes, sendo aquela cidade “o centro dos acontecimentos”.
As tendências ou críticas pertinentes àquele tempo e situadas na dramaturgia de então, “ironicamente, não estão muitos distanciadas de hoje e ainda sobrevoam – ou atormentam – a sociedade e a política do país”. “Por incrível que possa parecer, ideias sugeridas ou abordadas há mais de 100 anos continuam atuais”, afirmou, para completar: “Palmas para nossos grandes clássicos, que conseguiram entreter a plateia de outros séculos e podem entreter o público de hoje”. “Mesmo falando do passado, autores de peso conseguem falar do presente, o que não quer dizer, necessariamente, que seja um bom saldo histórico... Mas todos eles, apesar de serem de outra época, estão vivos na memória nacional”.
Para o livro foram selecionadas cinco peças pontuais “de nossa dramaturgia seminal, encenadas de quando em quando, desde seu lançamento no século XIX e início dos anos 1920, todas em domínio público, e que há muito não chegam aos palcos”. Percebe-se por meio de enredos, cenários e rubricas como o Rio de Janeiro, enquanto corte e depois enquanto república, capital federal, “era uma força-motriz”. A obra – afirmou – “é também um caminho para que se tenha acesso a cinco grandes clássicos nacionais e, até quem sabe, estimular produtores e diretores a encená-los”.
Capa do livro (Imagem: divulgação)
O autor
O escritor Sergio Fonta nasceu no Rio de Janeiro, é dramaturgo, jornalista, ator e diretor teatral. Tem 11 livros editados, entre eles “Rubens Correa – Um salto para dentro da luz”, indicado ao 6º Prêmio APTR; “O esplendor da comédia e o esboço das ideias: dramaturgia brasileira dos anos 1910 a 1930”; e “Rua Feliz Lembrança” (Concurso Internacional de Literatura / UBE – Prêmio Martins Pena). Além de peças encenadas em diversas cidades brasileiras, teve outras duas premiadas, traduzidas e transmitidas pela Rádio de Colônia, na Alemanha. Em teatro e poesia conquistou numerosas premiações, entre elas o 1º lugar no IV Concurso Opinião de Dramaturgia e menção especial por unanimidade no Prêmio Guararapes de Poesia.
É membro titular do PEN Clube do Brasil, da Academia Brasileira de Arte (Cadeira 40), cujo patrono é Artur Azevedo, e da Academia Carioca de Letras (Cadeira 14, que tem como patrono Dom Pedro II).