A Redação
Goiânia - Com fé, música e partilha, a Folia de Santos Reis de Corumbajuba, na zona rural de Orizona (GO), encerrou a edição de 2025 mantendo viva uma tradição que atravessa gerações. Mais de 600 pessoas participaram das caminhadas, embaixadas e momentos de devoção, reforçando o espírito comunitário e a força da cultura popular.
Com quase um século de história, a Folia de Corumbajuba mantém viva sua essência, mesmo adaptada há mais de 30 anos para acontecer em julho, devido às chuvas de início de ano que dificultavam a participação dos mais idosos. Durante os dias de festa, a comunidade se organiza em pousos e visitas a casas, onde é recebida com acolhimento, orações e refeições preparadas coletivamente.
Entre os destaques desta edição esteve a continuidade de um importante trabalho de salvaguarda e registro cultural coordenado pela Skambau Produções, com apoio da Política Nacional Aldir Blanc em Goiás. Desde 2021, ações permanentes têm garantido a documentação da memória da comunidade, incluindo oficinas de canto e música com crianças e oficinas de comunicação comunitária com jovens, incentivando o diálogo intergeracional.
O cineasta Roger Martins, que acompanhou a festa registrando depoimentos e cenas para novos materiais audiovisuais da Skambau, conta que a experiência foi única: “Eu já havia participado de outras folias, mas nada parecido com esta. O que mais me surpreendeu foi a seriedade e o foco na oração, nas embaixadas. É uma manifestação cultural viva, que envolve pessoas jovens aprendendo com os mais velhos para dar continuidade. As embaixadas são únicas, não são músicas decoradas: são feitas na hora pelo capitão. Foi emocionante ver também a fé se materializando ali, pessoas pagando promessas e agradecendo por graças alcançadas. É algo que merece ser reconhecido como patrimônio cultural do país, pelas suas especificidades e força comunitária.”
Em 2022 e 2023, a história da Folia resultou em um curta-metragem premiado, exibido em 2024 numa mostra itinerante durante os pousos e que, em agosto, chegará a 12 escolas do município, acompanhado de conversas entre foliões, crianças e adolescentes. Em paralelo, está sendo desenvolvido um site para reunir esse acervo, além de um ebook gratuito com depoimentos, causos e registros audiovisuais.
Para Vicente Felismino de Paula, 2º capitão da Folia, preservar vai além de registrar: “É muito bonito ver menino e menina, gente de toda idade aprendendo e participando. A comunidade está achando muito bom.” Segundo ele, a maior alegria é reunir todos em oração e canto, mesmo sabendo que cada edição pode ser uma despedida para alguns.