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Papangu: som experimental e folclore nordestino conquistam os palcos

Banda de rock vai se apresentar em Goiânia | 19.01.25 - 08:00 Papangu: som experimental e folclore nordestino conquistam os palcos Banda Papangu (Foto: Adri L)José Abrão
 
Goiânia – No dia 8 de fevereiro, Goiânia será palco de um show imperdível da Papangu, uma das bandas mais inovadoras do rock nacional. Nomeada em homenagem às figuras mascaradas do carnaval de Bezerros (PE), a banda de João Pessoa (PB) mistura rock pesado com elementos do misticismo e da cultura popular nordestina, criando um som único e 100% brasileiro.
 
Formada em 2012, a Papangu ganhou destaque no cenário nacional e internacional com seu disco de estreia, Holoceno (2021), que foi amplamente elogiado pela mídia especializada europeia. O sucesso se consolidou com o lançamento do Lampião Rei (2024), um álbum mais maduro e poderoso, que mergulha no realismo mágico e na narrativa rica do cangaceiro Lampião.
 
Com uma sonoridade que vai de Sepultura a Hermeto Pascoal, a banda se apresentou no Knotfest Brasil em 2024 e já está se preparando para uma turnê europeia. Em uma entrevista exclusiva ao jornal A Redação, a Papangu falou sobre o seu som e os próximos passos na carreira.
 
O show em Goiânia será realizado na Casamarela, na Rua 91, no Setor Sul. Os valores dos ingressos ainda não foram divulgados.
 
A mídia geralmente se refere à banda com sendo de rock progressivo, mas como vocês tentariam definir ou explicar o som de vocês?

Marco Mayer (baixista e membro fundador): Rock experimental é, talvez, o jeito mais fácil de descrever o som da Papangu. Mesclamos várias vertentes do rock e do heavy metal com ritmos e harmonia típicos do Nordeste, como o maracatu e o baião, e essa mistura é apresentada com a energia improvisadora do jazz fusion.
 
Termos como rock progressivo e "prog metal" podem levar algumas pessoas a nos associar a artistas que ficam em espectros opostos da intenção artística e do som propriamente dito — por exemplo, nós soamos bem diferente de grupos como Dream Theater — mas sentimos que adotamos parte da estética e da missão que grupos mais aventurosos como King Crimson assumiram. Tem um pessoal que até nos chama de "hermetocore", em homenagem a Hermeto Pascoal, que muito nos influenciou.
 
O ‘Lampião Rei’ está sendo muito bem recebido, foi por meio dele que fiquei conhecendo a banda. Me chamou a atenção ele ser tão diferente do primeiro disco. O que influenciou essa transformação?

Marco: De fato, Lampião Rei não é um disco tão pesado quanto o Holoceno, nosso álbum de estreia, e se aventura muito mais pelo jazz e pela música nordestina. Isso se deve bastante ao perfil dos três novos integrantes: Vitor Alves (baterista que vem da cena do power metal e toca triângulo em trios de forró pé-de-serra), Rodolfo Salgueiro (tecladista veterano do blues, rock, e forró de João Pessoa), e Pedro Francisco (um camaleão musical com profundo conhecimento de jazz e de música brasileira). A bagagem musical desses caras também trouxe uma paleta de cores maior, que foi bem utilizada para contar a primeira metade da biografia de Lampião.
 
Imagino que, como eu, a maior parte dos fãs ouve vocês pelas plataformas de streaming. Qual é a importância dessas plataformas para artistas independentes? Elas pagam extremamente mal, mas o alcance, de alguma forma, compensa? A renda tem vindo mais de merchã?

Marco: As empresas de streaming pagam muitíssimo mal e duvidamos muito que o alcance compense. A Papangu só passou a chamar atenção na cena brasileira após o nosso disco de estreia atrair a comunidade independente estrangeira do RateYourMusic.com e, assim, surgir em sites de crítica musical estrangeira.
 
Com isso, conseguimos vender muitas cópias digitais do disco na plataforma Bandcamp — uma loja on-line independente de música, em que artistas podem vender o material e ainda reter mais de 85% do faturamento, coisa que nunca aconteceria no streaming — e conseguir lançar a versão física por uma gravadora inglesa.
 
Hoje a nossa renda primária vem de vendas de discos no Brasil e no exterior, e da venda de merchandising no Brasil. Sem merchã, nenhuma banda brasileira consegue sobreviver.
 
Como foi a experiência de tocar no Knotfest? Deu um frio na barriga de tocar para um público grande, em que muita gente não conhecia a banda?

Marco: Foi absolutamente incrível e surreal, uma oportunidade fantástica pela qual somos imensamente gratos. Sinceramente, metade de nós não sentiu nervosismo, porque não só temos experiência de palco como também tínhamos grandes amigos na equipe técnica, o que nos tranquilizou bastante. E a recepção da galera nos trouxe bastante instiga para entregar um show enérgico e se arriscar no palco. Mal vemos a hora de tocar no próximo festival!
 
Acho que é sempre importante ressaltar a escolha por cantar em português e fazer música inspirada na cultura brasileira. Essa escolha foi feita desde o início? Muitas bandas brasileiras de rock optam pelo inglês para viabilizar um ano todo de turnê no circuito de festivais da Europa. A pegada brasileira fechou essa porta ou existe um atrativo pelo fator ‘made in Brazil’?

Marco: Foi uma decisão feita desde a gênese da banda. Como a gente sempre quis cantar sobre o folclore e a cultura do Nordeste, não fazia sentido algum para nós cantar em inglês; pareceria artisticamente desonesto, sabe? E mesmo cantando em língua portuguesa, atraímos a atenção de uma agência de booking europeia e temos uma turnê marcada na Europa em agosto, com passagem confirmada por dois dos festivais mais tradicionais de rock experimental da Europa (ArcTanGent, na Inglaterra, e o festival holandês Complexity Fest), então isso não foi obstáculo algum para nós. Mais importante do que a escolha da língua é unir muito esforço a um nível obsessivo de esmero com o trabalho da banda, para que ela se destoe do resto.
 
Ano passado vocês sofreram um revés grande que foi o assalto no Rio de Janeiro [criminosos entraram na van da banda e levaram mais de R$ 50 mil em equipamentos]. Vocês conseguiram se recuperar de lá pra cá? A mobilização dos fãs conseguiu cobrir o prejuízo?

Marco: Graças ao apoio de muitos fãs generosos, conseguimos repor mais de oitenta por cento dos custos que sofremos com o assalto (sinistro do seguro do carro, custo de fabricação do merchã e dos discos, etc.), mas ainda não conseguimos recuperar o valor de tudo, tampouco conseguimos recuperar os instrumentos perdidos. Daí a necessidade de entrar novamente em turnê e trabalhar ainda mais para repor nosso caixa e viabilizar nossos planos.
 
Goiânia tem uma cena underground de rock forte, mas que já foi muito efervescente no passado recente. Vocês chegaram a ter contato com alguma galera daqui, curtem algum artista de Goiás?

Marco: Temos contato com o grande Augusto "Chita", que tocava na excelente banda goiana Frieza, de sludge metal. Também adoramos o Trio Cerrado, grupo de jazz do baixista Marcelo Maia, e o chorista Rogério Caetano, lenda do violão de sete cordas.
 
Por fim, para além desta turnê, quais são os planos e projetos para 2025?

Marco: Faremos outra turnê no Nordeste, ainda no primeiro semestre, e tocaremos nossos primeiros shows fora do Brasil em agosto, na Europa! Também planejamos lançar um split com o Test, grupo lendário de grindcore e grandes amigos nossos, e um EP da Papangu com alguns convidados especiais. Vai ser um ano de muito trabalho e som maluco!


 
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