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Superintendente cita ações em Goiás | 01.08.23 - 08:33
(Foto: José Abrão/jornal A Redação) José Abrão
Goiânia – O arquiteto e teórico francês Henri Lefebvre defende ao longo de sua obra que os espaços são produzidos: eles são mais do que meras paisagens ou construções, pois só ganham sentido quando habitados, usados, transformados pelos seres humanos e pela cultura. Os espaços são plurais e precisam ser vividos. O recém-empossado superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás e ex-prefeito de Goiânia, Pedro Wilson, tem um pensamento muito semelhante.
“Muitas vezes o pessoal percebe o patrimônio apenas como prédios, e não é só prédios. É também uma paisagem”, argumenta ao destacar que a paisagem, planejada e pensada, é também composta pelas pessoas que as ocupam. “O que nós vamos agregar nesse período nosso é que nós vamos trabalhar a ideia de cultura no sentido material e imaterial”, completa o superintendente.
Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, Pedro Wilson destacou que o Instituto já está tocando junto aos órgãos municipais e estaduais dois grandes projetos: a recuperação das ruínas de Ouro Fino, na cidade de Goiás, e o restauro da Praça Cívica, em Goiânia, obra esta que o superintendente assegura que será concluída a tempo do aniversário da capital, em outubro. “É um compromisso da prefeitura e ela tem dado sinais nesse sentido”, diz. Ao AR, Pedro Wilson citou que a obra será seguida pelo restauro completo do Museu Zoroastro Artiaga.
Esse é só o início dos trabalhos da gestão. É que o superintendente tem planos muito maiores. Na cidade de Goiás e em outros municípios do interior, por exemplo, as equipes técnicas especializadas do Iphan serão ampliadas. "Lá [na cidade de Goiás] nós não temos um arquiteto, não temos um engenheiro. Agora vai ter. O presidente Lula autorizou a contratação desses quadros. Nós precisamos municiar esses municípios de gente que entende”.
Segundo o superintendente, “muitas coisas só se resolvem no susto". "Providências só são tomadas após o susto, e nós queremos prevenir o susto. Queremos fazer o trabalho de educação patrimonial, trabalhar com grupos de artesanato, com as prefeituras e câmaras de vereadores para serem sujeitos do planejamento urbano e no processo histórico dos elementos que povoam essas cidades”.
Seguindo a política para além dos prédios, Wilson também quer valorizar povos marginalizados pelo tempo. “Nós vamos trabalhar muito com os indígenas e com os quilombolas. São duas populações em Goiás que nunca receberam um olhar adequado”, ressalta. Segundo Wilson, o Iphan deve fazer um esforço para fortalecer a demarcação desses povos tradicionais, assim como a sustentabilidade material desses povos. “Não apenas pela perspectiva da cultura, mas também da economia criativa, que permita que eles sobrevivam com sua própria produção”.
Na capital
Para além da Praça Cívica, Wilson planeja recuperar ou requalificar, em parceria com a prefeitura e com os governos estadual e federal, marcos culturais e arquitetônicos da cidade, como o museu a céu aberto da Praça Universitária, o Bosque dos Buritis, a Avenida Anhanguera e a Praça do Trabalhador, entre diversos outros pontos.
“Estamos lutando para recuperar murais que foram produzidos pelos artistas Clóvis Graciano e Elder Rocha Lima na Praça do Trabalhador que foram alvos do CCC - Comando de Caça aos Comunistas - e foram retirados nos anos 1960”, conta. Outra frente é o projeto Cara Limpa, para limpar as fachadas art déco cobertas por banners em Goiânia, lançado originalmente na gestão de Wilson na prefeitura e que nunca foi pra frente. “Eles pedem que toda a pintura seja bancada. A visão de colaboração é muito difícil. Mas já existem empresários que topam fazer uma espécie de mutirão sobre isso”.
Além disso, o superintendente do Iphan em Goiás salienta que é fundamental fazer uma campanha de conscientização sobre a importância histórica e dos monumentos da capital. “Nós temos que fazer uma campanha educativa e também aplicar a lei quando necessário. A prefeitura ou o governo do Estado pinta a Praça Cívica e logo ela está pichada. Temos que descobrir uma forma educativa para, trabalhando junto com parceiros, conscientizar as pessoas em prol da cidade de Goiânia. Afinal, a cara da cidade de Goiânia vai durar até quando se a destruição continuar nesse ritmo?”, questiona.
No interior
Por fim, ao se pensar no interior do Estado, Wilson salienta que é importante desenvolver outras localidades além de Pirenópolis e Goiás, resgatando e valorizando a memória de diversos locais, como a Casa JK, em Anápolis. “O lugar foi marcado por Juscelino ter assinado o documento de mudança da capital. Você vai na Europa, qualquer coisa que uma personalidade fez, eles já montam tudo e isso atrai o turismo, que é uma consequência natural. Nós vamos fazer também o museu Bernardo Sayão na cidade de Ceres. Estamos falando de uma figura muito importante para Goiás”, exemplifica.
Outro interesse da nova gestão do Iphan é tentar resgatar o interior histórico de Goiás em municípios como Pilar de Goiás, Jaraguá, Catalão, entre outros. “Essas cidades têm casarios. Queremos trabalhar com as prefeituras e com as secretarias e tombar o que for possível”, revela.
Wilson também quer fazer parcerias para fortalecer o ecoturismo, tendo em vista a preservação das tradições ribeirinhas dos rios Araguaia e Tocantins, assim como incentivar a espeleologia e a visitação das diversas cavernas em Goiás, atrações turísticas ainda pouco exploradas no Estado.
Lefebvre escreve que os espaços só fazem sentido se vividos. E, da mesma forma, apenas se forem lembrados. Se depender de Pedro Wilson, quem sabe, o patrimônio histórico de Goiás acabe menos “desmemoriado”.