Goiânia - A rodada do Brasileirão do final de semana rendeu uma polêmica a respeito do fair play. Transcorria no Maracanã o jogo entre Flamengo e Sport. O time pernambucano vencia por 2 a 1 e o carioca pressionava pelo empate no final da partida. Detalhe dramático: devido à lesão do goleiro Magrão e o rubro-negro nordestino já ter feito as três substituições permitidas, o meia Diego Souza estava jogando no gol.
Um jogador do Sport, Élber, estava caído no ataque e o goleiro improvisado jogou a bola pela lateral para atendimento médico. Nesse exato momento, o machucado se levanta, com dificuldade, para voltar à partida. O Flamengo não devolveu a posse de bola como rege o fair play e, na continuidade do lance, saiu o gol de empate. A confusão estava armada.
Os jogadores do Sport não aceitavam a suposta falta de gentileza dos jogadores cariocas que alegavam que o pernambucano fazia cera, não sentindo as câimbras que alegava. E até hoje a jogada está rendendo debates.
Eu acho que o Flamengo deveria ter devolvido a bola. Ponto. Se era cera ou não, pouco importa: a consciência dos atletas do Sport é quem iria decidir se agiram com ética ou não. O problema é cobrar esse tipo de desprendimento e reflexão dos jogadores. Ao devolver a bola, os flamenguistas seriam achincalhados pela maioria da torcida, que, como de qualquer clube, de tão cega, chega a ser burra.
O debate ético no futebol é tão frágil quanto uma taça de cristal no meio de um tiroteio.
Dá para cobrar correção de alguém, tendo em vista que todos jogadores se jogam vergonhosamente quando entram na área adversária na tentativa de enganar o juiz e ganhar um pênalti na malandragem? Dá para cobrar correção quando os atletas fazem esse cai-cai em campo para amarrar o jogo quando o resultado lhes interessa? Tenho minhas dúvidas se algum time do Brasileirão agiria diferente do Flamengo na mesma situação.
Mesmo sendo um bando de sujos reclamando dos encardidos, é interessante levantar o debate e questionar se esse vale-tudo dentro das quatro linhas é justificável. Temo ser minoria, mas acho que não. Assim como sei que sou minoria quando acho que, fora do campo, na vida real, também penso que não devemos jogar qualquer outro valor no lixo pelo dinheiro.
Ingenuidade, eu sei. Mas, como disse, resigno-me à minha condição de minoria de perfil Pollyanna.