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Fabrícia  Hamu
Fabrícia Hamu

Jornalista formada pela UFG e mestre em Relações Internacionais pela Université de Liège (Bélgica) / fabriciahamu@hotmail.com

Inspiração

Velha, sim, senhora!

| 06.08.13 - 10:31
Goiânia - Recentemente, li um artigo da atriz Betty Faria em que ela queixava-se do fato de ter sido alvo de duras críticas, por haver “ousado” ir à praia de biquíni. “Querem que eu ande de burca? Querem que eu me envergonhe?”, questionava ela, indignada com os comentários ácidos dos inconformados com o fato de uma “velha de 72 anos” exibir o corpo.

Algum tempo depois, vi na internet uma matéria sobre a modelo Luiza Brunet, na qual ela era elogiada pela boa forma aos 51 anos e dava dicas de beleza. Para provar que estava mesmo com tudo em cima, ela tirou uma foto sem maquiagem para o site. Os comentários à tal foto – coisas como “passada” e “maracujá podre” – também não foram nada elogiosos.

Fui pesquisar e, fuçando daqui e dali, constatei que a maior parte das críticas era vinda das mulheres. Havia, claro, homens que implicavam com o biquíni da Betty Faria e as rugas da Luiza Brunet. No entanto, nas opiniões masculinas não havia um décimo da ferocidade e das condenações feitas pela ala feminina. Essa última foi implacável.

Fiquei pensando que as mulheres que não suportam ver uma atriz com mais de 70 anos exibindo o corpo ou uma modelo cinquentona sem maquiagem devem ser as mesmas que se queixam de serem tratadas como objetos sexuais. Devem ser aquelas que assistem às propagandas de cerveja com as gostosonas da vez e condenam a “exploração da imagem feminina”, que querem ter sua essência mais valorizada que a aparência.

Vivemos uma grande incoerência entre discurso e atitude. O que mais ouço por aí são mulheres dizendo que estão cansadas da “ditadura da beleza”, que não suportam mais a cobrança pelo corpo perfeito, pelo rosto sem marcas. Entretanto, quando uma de nós decide quebrar o padrão vigente e se mostrar sem artifícios, é fortemente repudiada, como se cometesse um crime.

Sei que o componente cultural conta muito. Somos bombardeadas todos os dias por outdoors, programas de TV, anúncios, novelas e reportagens com mulheres lindíssimas, jovens, que parecem ter saído de um desfile de moda. Pregam que sejamos assim, sempre belas e desejáveis, intactas à ação do tempo e às limitações impostas pela rotina corrida.

Assistimos a tudo em meio a um misto de ansiedade e revolta, porque no fundo sabemos que essa é uma exigência impossível de ser cumprida. A menos que viva da própria imagem, mulher alguma consegue ter dois filhos, trabalhar oito horas por dia, fazer supermercado e chegar em casa sarada, de barriga chapada, maquiadíssima e com os cabelos esvoaçantes.

Ao vermos “gente como a gente”, ou seja, mulheres que também têm flacidez, celulites, rugas e cabelos brancos, que sofrem a ação do tempo e envelhecem, deveríamos nos sentir aliviadas, rendidas, de certa forma. Mas a cultura da beleza e da juventude a qualquer preço está tão internalizada, que nossa reação é de repúdio violento.

Talvez fosse a hora de trocarmos a raiva e a condenação pela reflexão. Não seremos sempre jovens, não conseguiremos ser sempre belas. A bunda vai cair, os peitos vão murchar, os cabelos vão ralear e os olhos ficarão com vincos. Ainda que nos tornemos bonecas infláveis de botox, silicione e megahair, o tempo passará. Nossa “juventude” soará fake.

O que fazer diante disso? Cortar os pulsos? Firmar um pacto com o diabo? Creio que o mais sensato seria refletir sobre o fato de que o envelhecimento não é algo que possamos escolher. Ele sempre vem, o tempo é inexorável e não leva nossa vontade em conta. Não podemos agir sobre ele. Mas podemos, sim, decidir como vamos encarar sua passagem.

Quem envelhece fica velho. Portanto, a mulher que envelhece fica velha. Velha, sim, senhora! Leia de novo a palavra em voz alta e repita até que o pânico e o desconforto passem: “Ve-lha”, “ve-lha”, “velha”! Não é um xingamento, não é o fim dos seus planos, não é a decadência total nem a impossibilidade de ser feliz. É a vida, com seus ciclos que não param.

Em vez de criticar quem fez as pazes com o tempo, quem aceita a sua passagem com serenidade e alegria, reflita. Você tem vergonha da sua própria história? Tem prazo de validade para ser feliz? Sua satisfação é diretamente proporcional à quantidade de pele lisa e músculos do seu corpo? Sua vida daqui a 30 anos será um inferno?

Se a resposta para as questões anteriores for “sim”, talvez seja o momento de rever seus conceitos. A vida não começa aos 40, ela começa todos os dias. A cada segundo que se olhar no espelho, você encontrará uma imagem diferente, provavelmente mais envelhecida. Então, quem sabe não seja a hora de cuidar da cabeça? Essa a gente consegue controlar. E, pode ter certeza, ela não está no topo, acima da barriga, do bumbum e dos peitos por acaso.

Comentários

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  • 24.08.2013 18:20 Sheila de A B Ditscheiner

    Lindo o texto.Parabéns!

  • 14.08.2013 22:09 Marcos Arruda

    Parabéns Fabrícia! Permita-me, guardada as devidas particularidades e propriedades, o mesmo é válido para nós homens.

  • 09.08.2013 23:53 Lara Lobo

    Bravooo!!!!!!

  • 06.08.2013 12:17 Clarisse Berga

    Muito bom mesmo Fabrícia Hamu. Eu só acho que a I Pessoa não entendeu nada do que você escreveu, ela critica a mesma coisa que você ;)

  • 06.08.2013 11:54 I Pessoa

    "Fiquei pensando que as mulheres que não suportam ver uma atriz com mais de 70 anos exibindo o corpo ou uma modelo cinquentona sem maquiagem devem ser as mesmas que se queixam de serem tratadas como objetos sexuais. Devem ser aquelas que assistem às propagandas de cerveja com as gostosonas da vez e condenam a “exploração da imagem feminina”, que querem ter sua essência mais valorizada que a aparência." Fabrícia Hamu, com todo o respeito, creio que você está equivocada. Vejo muitas pessoas apontando contradições possíveis, como você, mas não reais. Isso tem sido tão recorrente em colunistas jornalistas! Mas, eu condeno a objetificação dos corpos femininos. Como também condeno a opinião a respeito dos corpos alheios. E isso não tem a ver com o que a mídia impõe. As propagandas, o discurso midiático devem ser questionados, os corpos alheios, não. A violência sim. Cada pessoa faz o que bem entende com o seu corpo, espero, sinceramente, que tenham consciência do que fazem com eles, mas quem sou eu pra julgar? Acho lindo uma mulher não ter medo do julgamento, como a Betty Faria, e curtir a sua vida e o seu corpo da maneira como lhe apetecer. Achei a sua suposição grotesca e mal intencionada.

  • 06.08.2013 10:44 Mariana

    Mais um texto perfeito de Fabrícia Hamu!!!! É isso mesmo, a velhice chega pra todo mundo, ainda bem. As cocotinhas critiqueiras de plantão que se cuidem.

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