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Fabrícia  Hamu
Fabrícia Hamu

Jornalista formada pela UFG e mestre em Relações Internacionais pela Université de Liège (Bélgica) / fabriciahamu@hotmail.com

Inspiração

Três reais de falsidade

| 22.04.13 - 12:42

GoiâniaAmiga me manda um convite para um coquetel por e-mail e liga para confirmar. “Você vai, né? Será super chique, cheio de gente rica e famosa”. Agradeço e digo que não vou, porque não conheço ninguém. “Você parece um bicho do mato. Que mania de não frequentar as altas rodas, só anda com essa sua turminha”, dispara.

Depois do comentário, escuto um verdadeiro sermão. Ela me diz que preciso conhecer gente de peso e fazer contatos estratégicos, “porque são essas pessoas que nos ajudam a subir na vida, a ficar conhecidas”. Fala que esse meu jeito low profile não vai me levar a lugar algum, que assim vou morrer sem dinheiro nem reconhecimento.
Não adiantou, fiquei mesmo em casa. Sabe a história do “pau que nasce torto, até a cinza é torta”? É o meu caso. Não nasci para colunas sociais, notas em revistas e festanças com a “nata da nata”. Não nasci para puxar-saco de ninguém, para fazer caras, bocas e média para conseguir a atenção de quem quer seja.

Hoje em dia isso é um defeito. Bom mesmo é ser enturmado com os poderosos, frequentar todas as festas que aparecem e fazer cara de quem acabou de sair de um comercial de shampoo. A cara feliz, de quem não tem problemas, maquiada, com perfume importado e roupa chique que a gente finge que é casual e usa sempre.

Vou não, quero não, posso não, minha paciência não deixa, não. Minha vida já é tão corrida, tão estressante, que o pouco tempo livre que me resta vou perder com gente que não conheço, que não me diz nada e que, provavelmente, deverá pensar o mesmo ao meu respeito? Só para dizer que sou “in”? Sem chance.

Ir a um lugar apenas para dizer que eu estava lá, somente para que as pessoas me vejam e saibam que meu nome é Fabrícia Hamu e sou jornalista definitivamente não está entre as minhas prioridades. Se tiverem de me conhecer, que seja por algum tipo de afinidade ou pelo meu trabalho. De outra forma, não vale a pena.

Me deixem com a “minha turminha”, que nada tem de rica nem de famosa. Fazemos nosso churrasco na laje e nos divertimos horrores. Quando o tempo esquenta, chamamos a UPP e rola uma pacificação rápida. Minha comunidade anda de carro popular parcelado em 60 meses, conta os cobres no final do mês e vê que está faltando grana. Junta dinheiro para viajar e ainda divide o resto em 12 meses. Mas é feliz e me faz feliz, e é isso o que importa.

Quando a coisa aperta, são esses poucos e bons, anônimos para a maioria, que me acolhem e me acodem. Quando o triunfo chega, são eles também que comemoram verdadeiramente minhas conquistas, sem um pingo de inveja nem de maledicência. Me defendem, me protegem. São eles que merecem o melhor de mim.

Para o restante, uma convivência cordial basta, porque educação cabe em qualquer lugar. Se não me acharem simpática, bacana ou competente, sinto muito. Wander Wildner diz que não consegue ser alegre o tempo inteiro. Eu não consigo ser legal o inteiro. E desconfio muito de quem parece ser.

Essas figuras que estão em todos os lugares, conhecem todo mundo, circulam em todas as rodas, não criam polêmica, dizem não ter desafetos e vivem com um sorrisinho no rosto me causam medo. Já soube de muitas histórias em que tanta gentileza pela frente se converteu em veneno e fofoca pelas costas. 

Ser uma unanimidade não é nem nunca foi meu objetivo. Aliás, acho que não é objetivo de ninguém que pretende ser verdadeiro ou transparente. Quem tem personalidade própria não fica em cima do muro só para se dar bem, não precisa afagar o ego de quem não admira só para levar vantagem.

É por isso que tenho tanto orgulho dos meus leitores. A turma dos que gostam do que escrevo aqui está sempre presente, faça chuva ou faça sol, compartilhando suas histórias e emoções sem travas. Já a turma que não gosta desce a ripa sem medo, mostra seu desagrado sem papas na língua e defende seu ponto de vista até o fim.

Sim, podem me chamar de bicho do mato. Talvez eu seja isso e muito mais. Podem me criticar por não fazer uma network poderosa, por ter um círculo de amizades restrito. Talvez eu não me esforce o suficiente para aumentá-lo mesmo. Só não me chamem nunca de nota de três reais. É que falsidade aqui passou longe.   


Comentários

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  • 29.04.2013 15:42 Mara Publio

    Faz jus ao grande avô Miguel Hamú...

  • 29.04.2013 15:36 Crystiane Soares Lemos Pimenta Barbosa

    Adoro seus textos...são de uma sensibilidade ímpar e falam da realidade nua e crua.

  • 27.04.2013 07:33 Sara Saeghe Ximenes

    Nossa, como me identifiquei. Quando eu trabalhava no Estado, isso acontecia constantemente, e eu não ia nas festas. Algumas supostas amigas que queriam receber os tais convites ficavam horrorizadas comigo. Mas, é como vc disse. Para que ir em lugares que não conheço, não me comporto daquela maneira. Não é meu mundo, e eu sou tão feliz no meu. Acho até, que bem mais feliz do que algumas pessoas que vivem apenas de aparência. Imagino a tristeza que é fingir ser o que não é.

  • 27.04.2013 01:36 Luciana Brites

    Me identifiquei total ! Parabéns ! Como sempre, um texto maravilhoso e sincero. Quem te conhece sabe que você é assim mesmo, não faz tipo nem faz gênero. Pra ler, recomendar, curtir e compartilhar mil vezes.

  • 26.04.2013 00:43 Caroline Santana

    Adorei esse texto, tão eu! Parabéns, Fabrícia. Sou sua fã!

  • 25.04.2013 20:09 Maria Isabel de Oliveira Lima

    As pessoas sentem tanta necessidade de fazerem parte de "um grupinho social" que deixam de seguir a sua essência, de fazer o que realmente gostam, de expressar as suas próprias opiniões, de sentir o mundo a sua forma, e passam a ser meros fantoches. A quem goste da normalidade, eu prefiro mil vezes a diferença.

  • 24.04.2013 20:05 rodrigo pastori

    De que adianta construir uma networking sobre um castelo de cartas. Melhor mesmo é ser sincero, transparente e autêntico. Quem quiser se achegar que chegue. E aí são construidos relacionamentos sólidos com resultados significantes e duradouros.

  • 24.04.2013 10:30 Fabrício Cavalcante

    Você é a "bicho do mato" das mais legais que conheço. Gente fina elegante e sincera, a gente vê por aqui! ; )

  • 23.04.2013 18:43 rodrigo czepak

    Você atingiu o ponto s, de sinceridade. Muitos se identificam e são felizes, isso é o que importa. Parabéns!!!

  • 23.04.2013 15:17 Fabiana Santis

    Isso ai gente viva a comunidade dos simples e felizes sempre!!! Beijos e linda matéria

  • 23.04.2013 13:28 Fabrícia Hamu

    Manoel, essa da Maria Xuteira foi a melhor do dia (rs)... Abraços a você e aos outros leitores!

  • 23.04.2013 10:07 Manoel Eloy de Melo O. Santos

    Suas palavras são maravilhosas.......seu texto a torna tão perfeita aos meus olhos, como um jogador de futebol do barcelona para uma maria xuteira. Continue assim!! Bjos

  • 23.04.2013 07:56 Geralda Ferraz

    Muito bom quando a gente lê algo e se identifica. Parabéns pela sua sensibilidade em expressar o sentimento que muitos têm e não sabem como expressar.

  • 22.04.2013 20:53 Daniella Santiago

    Fabs que bom ler seu artigo hoje. Principalmente hoje. Depois de ler não me senti mais um ÉT. depois que li voltei a me sentir gente, viva, fazendo parte de alguma coisa. Oba sou gente!!! Estou feliz, estou me sentindo melhor, não e pecado!!!! Obrigada por esse desabafo, acredito que seja o de muitas pessoas.

  • 22.04.2013 15:28 José Abrão

    Sou como você, e tenho que aguentar esse papo interminável de networking e o carvalho de ninguém menos do que do meu pai. Não é fácil.

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