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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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‘Nosferatu’ é terror gótico em diálogo com o contemporâneo

| 06.02.25 - 10:21 ‘Nosferatu’ é terror gótico em diálogo com o contemporâneo Lily-Rose Depp como Ellen em 'Nosferatu' (Foto: divulgação)Mais de 100 anos depois de F.W. Murnau exibir o seu Nosferatu no auge do expressionismo alemão, Robert Eggers decidiu trazer novamente para as telas esta versão ligeiramente diferente do conto de Drácula. Antes dele, Werner Herzog já havia tentado, em 1979, na sua versão estrelada por Bruno Ganz, Klaus Kinski e Isabelle Adjani, e já postulava a pergunta: por que refazer um clássico? Nosferatu de Eggers consegue dar uma resposta longa para essa pergunta, ao se apegar a aspectos chave da narrativa original, conferindo sua própria abordagem, visão e estilo, em diálogo profundo com o passado, mas principalmente com o presente.
 
Pra quem não conhece, a premissa é similar à de Drácula, mas com nomes trocados: o recém-casado agente imobiliário Thomas Hutter (Nicholas Hoult) precisa deixar sua esposa Ellen (Lily-Rose Depp) para levar um contrato ao excêntrico Conde Orlok (Bill Skarsgard), na Romênia. Acaba que o conde é um vampiro, um monstro da noite, com um desejo particular e especial por Ellen.
 
A principal mudança e a mais interessante que Eggers traz para sua versão é estabelecer Ellen de maneira definitiva como a protagonista da história, assim como sua relação sobrenatural com o monstro. A jovem sofre de visões, epilepsias e uma espécie de mediunidade desde a pré-adolescência, sem saber, conectando-a ao conde imortal.
 
Para construir esta trama, Eggers mergulha fundo no gótico, tanto em estética quanto em uma intertextualidade direta com temas, obras e o folclore da Alemanha, tanto na literatura quanto na pintura. O filme foi criticado por trazer para o texto o subtexto original da história do vampiro: o erotismo do sexo proibido. O que pode parecer falta de sutileza me parece uma escolha sabida, já que este tema já é conhecido e explorado em nas versões anteriores (e em praticamente toda história vampiresca).


 
Ao invés disso, Eggers explora certa escatologia do sexo, algo que me chama a atenção como quase um fator extra no terror já que estamos vivenciando uma década em que sexo e erotismo no audiovisual voltaram a ser demonizados. O sexo à flor da pele, quase como horror corporal, se revela como uma escolha sagaz, ligada ao profano que acompanha toda a trama.
 
Tudo isso é reforçado por uma cenografia irretocável que explora um filme majoritariamente noturno e escuro e, da mesma forma, pela excelente performance dos seus atores. O destaque óbvio é Depp, que entrega uma atuação visceral, esnobada pelo Oscar, e que podia ocupar tranquilamente a indicação da enfadonha Karla Sofía Gascón e seu pavoroso Emilia Pérez.
 
O outro destaque fica não para o monstro, apesar do excelente trabalho de Bill Skarsgard como Orlok, mas para Willem Dafoe como Von Franz, a versão de Van Helsing dessa história, totalmente convincente e envolvente no seu arquétipo e sábio.
 
Caso você goste de terror e queira engajar em um filme interessante e envolvente ao redor de uma história clássica já conhecida, não deixe de conferir e, de preferência, assista de noite, para que o escuro e o silêncio cumpram seu papel na imersão.

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