Para adicionar atalho: no Google Chrome, toque no ícone de três pontos, no canto superior direito da tela, e clique em "Adicionar à tela inicial". Finalize clicando em adicionar.
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351
Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Cena de 'Uzumaki' (Foto: divulgação)Junji Ito é considerado um dos maiores autores contemporâneos de terror e que encontrou no mangá a sua mídia escolhida. Apesar de ter décadas de carreira, nunca uma obra sua havia ganhado uma adaptação até agora: Uzumaki, seu trabalho mais conhecido, finalmente virou um anime de quatro episódios produzido pelos ocidentais da Adult Swim. A minissérie já está completa na Max.
E a espera valeu a pena? Certamente! A adaptação é quase uma reprodução fiel quadro a quadro do mangá, tanto na composição dos quadros quanto nos diálogos. A trama acompanha uma Kirie e Suichi, dois amigos presos em uma cidadezinha no interior sofrendo o que eles descrevem como a maldição da espiral.
A maldição é incompreensível: aparentemente "do nada", as pessoas começam a enlouquecer e a ficar obcecadas por espirais, algo que pode se manifestar de formas completamente estranhas, inesperadas e aterrorizantes, retorcendo o corpo em formas impossíveis; sendo sugado por vórtices internos ou até mesmo se transformando inteiramente em caracóis.
Rapidamente, a maldição escapa de controle, e uma saída parece se tornar impossível. Usando o absurdo e o inesperado, Ito trabalha de forma estética diversos temas ao redor da espiral: a inevitabilidade dos fatos, a imprevisibilidade da vida, a inescapável realidade cíclica das coisas.
Particularmente, minha leitura me remeteu às crescentes catástrofes climáticas. Nossos protagonistas são pessoas comuns e todas suas ações são fúteis em relação ao terror ao seu redor. Esta futilidade, essa pequeneza e essa imprevisibilidade me fizeram pensar nos crescentes desastres cada vez maiores e mais frequentes que estão totalmente fora do controle da pessoa comum e que poderiam ter sido evitados apenas por estruturas de poder muito maiores ao ponto de serem inatingíveis e incompreensíveis para o cidadão comum.
Seu ponto mais fraco está na produção ocidental que não consegue manter o padrão de qualidade do oriente em seus quatro episódios. O primeiro é verdadeiramente o mais impressionante, com uma animação impecável, da mesma forma em que o segundo é o que tem a pior qualidade, com alguns quadros de animação francamente amadores. O terceiro e o quarto caem confortavelmente num meio termo, mas sem atingir a qualidade superior do episódio de estreia, o que é um tanto decepcionante.
Uzumaki é fantástico, estranho e aterrorizante, mas sua execução fora da casinha e nada convencional pode ter dificuldade em convencer públicos já resignados com a banalidade de vampiros, zumbis e assombrações: inteiramente, a minissérie é um convite ao estranho.