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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
(Foto: Vitrine Filmes)O filme selecionado pelo Brasil para tentar entrar na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é tão brasileiro que vai fazer pouco ou nenhum sentido para uma plateia americana: Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho. A produção entra para a escola de documentários ficcionalizados ou documentários narrativos, misturando o estilo de mestres como Chloé Zhao, Werner Herzog e Eduardo Coutinho à sua própria linguagem cinematográfica.
Em parte, é um filme sobre o Recife, sobre desigualdade social e sobre gentrificação, temas já presentes fortemente no trabalho do cineasta, mas é, acima de tudo, um longa sobre o apagamento da memória dos espaços, assim como em grande parte um filme sobre o próprio Kleber e como ele enxerga essa higienização cultural da cidade em que nasceu e cresceu.
Tanto que o filme é dividido em duas partes: na primeira, o diretor conta a história da própria casa, de sua mãe e do bairro onde cresceu e como ele se tornou irreconhecível após 40 anos. Não apenas sobre a mudança em si, mas como características marcantes deixaram de existir e caíram no esquecimento, tomando de exemplo a casa do vizinho, filmada em tantos filmes anteriores, e que acabou abandonada e depois ruindo, infestada por cupins.
Na segunda parte, ele leva a mesma metodologia para o Centro do Recife. Ele dá algumas pinceladas no estado de abandono e esquecimento geral do Recife Antigo, como a desvalorização do Carnaval de rua, que é um dos maiores do país, a importância histórica e arquitetônica e até anedotas envolvendo o Recife que foram esquecidas, como o fato da cidade ser um dos portos que recebia os gigantescos zepelins alemães na década de 1930. Na sala de cinema, foi possível ouvir exclamações quando a tela foi preenchida por fotos do gigantesco Hindenburg nazista ancorado na capital pernambucana.
Mas o olhar especial do cineasta conta uma história conhecida em todo o Brasil: a decadência dos cinemas de rua e suas transformações em templos, lojas, galpões ou, até mesmo, suas demolições e apagamento total. Apesar do recorte especial sobre os cinemas, o tema central do filme é mais amplo. A produção destaca como a “falta de memória” do brasileiro e nosso desconhecimento sobre nossa própria história não é um acidente, mas um projeto.
Para não terminar numa nota pesada, o filme encerra mostrando o Cinema São Luiz, um dos mais bonitos do Brasil, resgatado e preservado como cinema público, talvez transmitindo a mensagem de que, embora a única constante seja a mudança, ela não precisa ser uma transformação para o pior.