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Ricardo Bairos
Ricardo Bairos

Jornalista brasileiro radicado em Nova York há 15 anos. / atendimento@aredacao.com.br

NY Pop

A volta por cima do Financial District

Tudo parecia ter acabado após ataques ao WCT | 10.08.11 - 12:32 A volta por cima do Financial District

 

 
 
A tragédia de 11 de setembro de 2001 parecia ter marcado o fim do processo de revitalização da região do Financial District, em Manhattan. Havia pelo menos dez anos que a prefeitura de Nova York investia na transformação da área, estritamente comercial, em um bairro residencial. Abatimento de impostos, conversão de prédios de escritórios em edifícios de apartamentos, projetos de reurbanização… Tudo parecia ter acabado depois dos ataques terroristas ao World Trade Center, no coração do bairro, e da morte de quase 3 mil pessoas.
 
Dez anos depois, a situação é outra. Para surpresa de muita gente, o Financial District é um dos bairros que mais crescem na cidade. A população dobrou e as opções de serviços e lazer aumentaram muito. Não há como negar as mudanças. O bairro para o qual não parecia haver futuro, depois de tanta destruição, virou uma comunidade moderna e dinâmica, com novos edifícios de apartamentos de luxo, torres de escritórios (como as várias que estão subindo na área do World Trade Center), novos hotéis, parques e muito mais.
 
 Por conta da ressurreição de sucesso, a população do Financial District cresceu 101% em dez anos, para 46 mil habitantes: a maioria jovens, com uma das maiores rendas per capita da cidade. Em um sinal de que a região é uma das preferidas de novas famílias, foram abertas seis escolas públicas e uma particular desde 2001.
 
Na área comercial, tudo vai muito bem, obrigado. Além de empresas financeiras, firmas de seguros e agências governamentais, a região passou a atrair também empresas de mídia, firmas de advocacia e muitas companhias de criação. Um das mudanças mais aguardadas, por exemplo, é a da editora Condé Nast, que publica títulos como a “Vogue”, a “New Yorker” e a “Vanity Fair”. 
 
Quando o novo prédio mais alto de Nova York ficar pronto (a ex-Freedom Tower, conhecida agora como World Trade Center 1, que terá 104 andares), em 2013, seu inquilino principal será a editora, que deixará sua sede high tech de Times Square. Foi a mesma Condé Nast que ancorou a revitalização daquela região nos anos 90. Outro destaque do Financial District é novo edifício da corretora de valores Goldman Sachs.
 
O Financial District também está virando a região que atrai o maior número de turistas em Nova York. No ano passado, foram 9 milhões. Para 2012, a expectativa é de 12 milhões de visitantes, por conta da inauguração do National September 11 Museum and Memorial, no mês que vem. O número de hotéis na região pulou de 6 para 18 desde os ataques terroristas.
 
Não é apenas o World Trade Center 1, de Daniel Liebeskind, que tem mudado o skyline da região conhecida como Lower Manhattan. Um dos destaques recentes é o edifício New York by Gehry, uma torre residencial de 76 andares projetada por Frank Gehry. O edifício residencial mais alto da América tem uma fachada de aço inoxidável ondulado (à la Museu Guggenheim de Bilbao, outro projeto famoso do arquiteto), o que dá a impressão de que foi “retorcido”. Os apartamentos de luxo são para alugar e têm preços que começam em US$ 2.650,00 por mês por uma quitinete em um andar baixo. Há apartamentos de cerca de 50 a 150 metros quadrados.
 
Outro aguardado projeto de “starchitecture” (alguma coisa como “arquitetos-estrela”) é o terminal Fulton Street Transit Center, com design de Santiago Calatrava. O projeto já começou a sair do papel, mas deve demorar para ser finalizado. A super estação de metrô (11 linhas) e trens PATH (que vão para New Jersey) ficará embaixo do World Trade Center, mas terá um edifício principal que parece o esqueleto de uma baleia. O complexo facilitará a vida de quem trabalha na região (dezenas de milhares de pessoas), além de muitos de seus moradores. Por sinal, 30% deles vão a pé para o trabalho, um dos maiores índices da cidade.
 
O sucesso deste processo de revitalização é uma combinação de muito planejamento (de organizações como a Lower Manhattan Development Corporation, criada depois da tragédia) e muito dinheiro colocado principalmente pelo governo federal. Estima-se que US$ 20 bilhões foram gastos, com financiamentos a juros baixos para construção, abatimentos de impostos, incentivos fiscais para novas empresas e moradores e muito mais. O boom de Wall Street no meio da década passada também ajudou. Mesmo em tempos de crise econômica, o pior parece ter ficado para trás no Financial District.

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