Carolina Pessoni
Goiânia - Com a missão de colecionar, conservar e transmitir a memória cultural do Estado, foi fundado há 75 anos o Museu Goiano Zoroastro Artiaga. A criação se deu pelo Decreto - Lei nº 383 de 6 de fevereiro de 1946, que criou o Departamento Estadual de Cultura (DEC) com seus componentes culturais, dentre eles, o então Museu Estadual.
Localizado no lado leste da Praça Cívica, o museu apelidado carinhosamente por "Muza" ou "Zoga", foi o primeiro estabelecido em Goiânia. O prédio em que ele está sediado teve sua construção concluída em 1942, a tempo de constar entre os prédios públicos para a "festa de inauguração" da nova capital, o chamado Batismo Cultural, ocorrido neste ano.
O projeto é do arquiteto polonês Kazimierz Bartoszewski, que chegou em Goiânia em 1938 e trabalhou como projetista no Departamento de Viação e Obras Públicas. Além do prédio do museu, colaborou com estudos e projetos de outros prédios públicos como Ateneu Dom Bosco, Telefônica e casas particulares. O prédio possui dois pavimentos com área total de aproximadamente 950 m² em estilo arquitetônico art déco, característico da região central.
O pós-doutor em Geografia Urbana, Wilton de Araújo Medeiros, que é professor nos Programas de Pós-graduação em Ensino de Ciências (PPEC), e Estudos Culturais, Memória e Patrimônio (PROMEP) da UEG, destaca que as características marcantes do art déco que o edifício possui são volumetria geométrica, com simetria e jogo de volumes e frisos e ornamentos feitos de gesso e pintados com cores contrastantes em relação aos demais elementos da fachada. "Além disso, cores policromáticas (ocre e cinza) realçando os detalhes, pilares e os ornamentos, todas as fachadas livres, entrada de acesso bem demarcada, portas feitas de ferro fundido com desenhos geométricos e o uso de platibanda com frisos escalonados."
(Foto: Divulgação)
Wilton ressalta ainda que dentro do art déco, o museu tem uma característica própria devido ao projeto arquitetônico. "De acordo com o Boletim Goiano de Geografia de 1983, o museu possui traços mais sóbrios, diferentes das demais construções da época devido ao estilo do arquiteto Bartoszewski, que era diferente dos demais profissionais da época", explica.
O edifício, no entanto, não foi construído para ser um museu. A especialista em Avaliações e Perícias da Engenharia, Maysa Moreira Antunes, que estuda Memória e Patrimônio, afirma que o prédio foi projetado para sediar o Departamento Estadual e Imprensa e Propaganda, em 1942. "Com a extinção desse órgão, ele passou a ser ocupado pelo Departamento Estadual de Cultura e seus órgãos culturais: Serviço de Expansão Cultural, Museu Estadual, Biblioteca Pública e Serviço de Administração", diz.
Ao longo dos anos outras instituições ocuparam o prédio: Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (1947), Escola Goiana de Belas Artes (1952-1957) e Escolinha de Arte Infantil (1966-1970). Somente a partir de 1970 o edifício passou a ser ocupado apenas pelo Museu Zoroastro Artiaga.
O museu, inclusive, só recebeu este nome 20 anos depois de sua criação. "O Museu Estadual passou a se chamar Museu Goiano Professor Zoroastro Artiaga em 1965, em homenagem ao seu fundador e primeiro diretor Zoroastro Artiaga. Zoroastro atuou na direção do Museu Estadual desde a sua fundação até 1957. Em 1971 ele retomou a direção do museu, aos 80 anos de idade, e permaneceu até o seu falecimento, em 1972, explica Maysa.
Acervo
O que o Museu Zoroastro Artiaga guarda são verdadeiras preciosidades históricas sobre Goiás. O acervo é constituído de coleções formadas a partir do mostruário da I Exposição de Produtos Regionais do Estado de Goiás, realizada em 1942 no Batismo Cultural de Goiânia, e de doações de pioneiros goianos como Acari Passos de Oliveira, Joaquim Machado Araújo, Orlando Ribeiro, Olívio de Souza e do próprio Zoroastro Artiaga.
O coordenador do museu, Giulliano Santos Ramos, comenta que o local conta com uma exposição fixa, chamada Exposição de Longa Duração, e um espaço destinado a exposições temporárias. "O museu possui em suas coleções um acervo etnográfico, arqueológico, arte popular, arte sacra, mineralogia, taxidermia, dentre outros objetos", conta.
A Exposição de Longa Duração apresenta a diversidade da cultura material e imaterial do Estado de Goiás, através de diversos circuitos: a formação geopolítica de Goiás, a pré-história, a arqueologia, a mineração colonial e outros aspectos da ocupação e transformação do território goiano, com destaque para a etnologia indígena, a arte sacra, a cultura popular, o folclore, a imprensa goiana, as artes industriais e a geologia.
(Fotos: Letícia Coqueiro)
No segundo pavimento, estão localizados o Auditório Henrique Silva, Biblioteca Regina Lacerda (composta de obras raras sobre a história do Estado) e as salas especiais: Sala dos Governadores (remete sobre a história do museu, construção de Goiânia e os governantes), Sala Professor Zoroastro Artiaga (documentos sobre a vida do fundador do museu), Sala do Artista Popular (produções artísticas populares) e Casa Caipira (possui bens materiais e técnicas construtivas que representam a cultura caipira).
Com a pandemia, o museu fez adaptações, transferindo suas ações do modelo presencial para o suporte digital. "Com a interrupção do atendimento presencial, o museu passou a realizar a comunicação de seu acervo exclusivamente pelos canais digitais da Secretaria de Estado da Cultura e o atendimento aos usuários passou a ser realizado através do e-mail da instituição", explica Giulliano. Inclusive, é possível fazer um tour virtual pelo museu por meio do site www.seduce.go.gov.br/museuvirtual/zoroastro.
Desde a última segunda-feira (16/9), os museus do Estado puderam reabrir ao público. O coordenador do museu ressalta que foram realizadas reuniões periódicas, coordenadas pela Gerência de Museus, Bibliotecas, Instituto do Livro e Arquivo Histórico para a elaboração de um protocolo único de segurança para a reabertura, que contemplasse todas as áreas de funcionamento das unidades museológicas da gerência. "A equipe elaborou um protocolo preliminar informando as especificidades da unidade, que foi encaminhado para a Gerência de Museus para compor o protocolo de segurança oficial para a reabertura dos espaços", diz Giulliano.
O Museu Zoroastro Artiaga está aberto ao público de terça a sexta-feira, das 9 às 17 horas, e aos finais de semana e feriados das 9 às 14 horas.
A coluna Joias do Centro tem o apoio da Sim Engenharia
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