Carolina Pessoni
Goiânia - Inaugurado em 5 de outubro 1942, mesmo ano do batismo cultural de Goiânia, o Coreto da Praça Cívica é uma importante construção na paisagem do centro histórico da capital. Nos registros, manifestações artísticas, culturais e políticas. O monumento se destaca pela riqueza dos detalhes e do acabamento, com composição simétrica, laje plana e elementos que também remetem ao ecletismo arquitetônico. O espaço é considerado um dos exemplares mais elaborados do patrimônio art déco goianiense, uma obra-prima pelo conjunto dos elementos que o compõe.
O Coreto possui tombamento nas esferas federal, estadual e municipal. Na esfera federal, em 2003 o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou Conjunto Arquitetônico Art Déco e Urbanístico de Goiânia, que inclui parte do traçado urbano dos núcleos pioneiros da capital, mais 21 edifícios e monumentos públicos, concentrados no centro da cidade e no núcleo pioneiro de Campinas.
A história do Coreto passou por três fases, sendo a primeira a partir de sua inaguração, quando foi ocupado por eventos, em que o edifício apresentava aspectos ecléticos em função dos decorativismos. Na segunda fase, entre 1973 e 1978, abrigou o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), durante a administração do prefeito Manoel dos Reis. Em 1978, foi reconstruído e retomou a sua função de equipamento urbano e monumento de embelezamento da cidade.
Restauração
Iniciada em 2019 e entregue em maio de 2020 pelo Iphan, a obra de restauração do Coreto buscou valorizar a linguagem arquitetônica. O trabalho foi realizado de forma a garantir a integridade e arquitetura do edifício. A ação faz parte das obras de recuperação do conjunto tombado por parte do Iphan. Arquiteta do Iphan, Déborah Aires Souto explica que a intervenção foi pensada em duas fases, sendo a primeira de estudo, com ensaios em laboratório, e a segunda de execução.
(Foto: Acervo Iphan)
"Foi feita a recuperação integral da laje, dos pisos, bancos em granitina, revestimentos de pedra portuguesa na área externa, restauração do reboco, dos adornos do balcão e platibanda, da recomposição de luminárias, paisagismo, execução de calçada acessível e, por fim, a pintura", pontua Déborah.
A arquiteta relata ainda que a obra foi uma grande oportunidade de estudo para o Iphan em Goiás, já que o Instituto está mais habituado a trabalhar com arquiteturas coloniais. "Temos muitas ações nas cidades históricas, como Goiás e Pirenópolis. Então, trabalhar em uma obra do século XX era uma novidade para nós, pois precisamos usar técnicas diferentes das quais estávamos acostumados".
Déborah conta ainda que já é perceptível a mudança de comportamento da população com relação ao Coreto. "Como o prédio do Iphan fica ao lado, podemos ver claramente como a ocupação está diferente. As pessoas estão indo mais, quem trabalha perto usa o local nem que seja para dar um telefonema em seu horário de almoço, vemos muitas pessoas fazendo ensaios fotográficos. A restauração conseguiu resgatar esse valor do monumento", ressalta.
A pedagoga Jordana Muniz tem o hábito de frequentar o Centro na companhia da família, principalmente aos domingos. Ela diz que gosta de ir com o marido e o filho, o pequeno João, para passear de bicicleta na Praça Cívica e pelas ruas da região. "Temos um carinho muito grande, pois parte da nossa adolescência foi por ali e gostamos da ideia de apresentar a cidade pro nosso filho. Antes da pandemia, gostávamos de ir aos sábados tomar café da manhã em uma lanchonete tradicional ali perto", conta ao destacar que o Coreto é uma das belezas encontradas no caminho.
Para ela, é interessante ver tantas famílias aproveitando o Centro de um jeito diferente e vivendo essa parte da cidade que era tão pouco frequentada para o lazer. "Amamos o Coreto. Gostamos muito da revitalização, achamos que ficou lindo. É gostoso ver ele ali e poder contar a história da nossa cidade pro João e como eram diferentes os costumes da época em que a cidade foi construída."
Jordana considera imprescindível a conservação do patrimônio histórico do Centro, como uma forma de preservar a história da cidade. "Espero que os planos de conservação se mantenham e a restauração continue sendo uma pauta nesse governo e nos que virão. Espero também que Goiânia, sua história, arte e cultura possam fazer mais parte do currículo escolar para ensinarmos para as nossas crianças como conservar a história e a beleza de onde vivemos", finaliza.
A coluna Joias do Centro tem o apoio da Sim Engenharia