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João Novaes
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João Novaes é jornalista, diretor de cinema e vídeo e produtor executivo do Instituto Rizzo – rizzoinstituto@gmail.com / atendimento@aredacao.com.br

AMBIENTES URBANOS

Um dia especial sobre a Terra

| 21.04.21 - 12:38 Um dia especial sobre a Terra (FOTO: João Novaes) Esta quinta-feira (22/4)  será com toda certeza um dia único para todos, um dia da Terra especial e muito esperado por aqueles que se importam com os rumos civilizatórios catastróficos que a humanidade tem tomado nos últimos tempos! Nesta hora tão sombria para a sociedade brasileira, que parece a cada dia normalizar e normatizar a barbárie, acostumando-se com a presença massiva da morte nas salas de suas casas, sem que isso leve a uma mudança de postura frente à pandemia , esta quinta-feira  e a sexta podem ser dias felizes para o futuro da humanidade!  Realiza-se nesse dia da Terra o início da tão aguardada retomada dos diálogos pela implementação do Acordo de Paris, sob a liderança de Joe Biden , que conclamou 40 líderes mundiais para uma reunião preparatória da convenção do clima , a COP26, que se realizará em Glasgow no final do ano.

A questão climática se tornou uma questão de segurança nacional para os EUA a partir deste novo governo, postura diametralmente oposta  à do catastrófico governo de Trump e seu negacionismo climático! Negacionismo que infelizmente vinha sendo seguido pelo atual governo brasileiro , que precisou mudar minimamente seus rumos diplomáticos com a vitória do atual presidente norte-americano. Biden firmou, antes mesmo desta reunião,  um acordo com a China – juntos são os dois maiores emissores de gases causadores do efeito estufa com 46% das emissões globais– para liderarem esforços na diminuição da emissão de gases e pela implementação do Acordo de Paris.

O governo brasileiro enviou uma carta ao presidente norte-americano, com tons amenos, se comprometendo a diminuir o desmatamento na Amazônia, quando os números  do INPE mostram que  2020 foi o de maior desmatamento na região nos últimos 12 anos . Metas ambiciosas e redução do desmatamento ilegal , com indicadores e resultados ainda este ano são a única demanda colocada por John Kerry  (enviado especial sobre clima)  e pelo embaixador dos EUA no Brasil ,  Todd Chapman,  ao governo brasileiro.  Em recente reunião virtual, preparatória a esta do dia da Terra, o embaixador colocou a questão ambiental como central no melhoramento das relações diplomáticas entre os dois países. Segundo ele todos os outros assuntos andarão bem se este primeiro também for bem, aí incluída a pretensão de entrada na OCDE pelo Brasil , entre muitos outros assuntos . Nosso acordo comercial com a União Europeia aliás também dependerá disso!

O vice-presidente Hamilton Mourão , ecoando suas antigas divergências e disputas com o ministro do meio ambiente Ricardo Salles, disse que o Brasil não pode ser um mendigo com o pires na mão nesta reunião do dia da Terra! E em parte tem razão, porque o Brasil diminuiu o desmatamento da Amazônia em mais de 80% entre 2004 e 2012 sem a ajuda internacional. E é exatamente isso que os norte-americanos vão passar a exigir para que haja acesso aos mecanismos internacionais de financiamento. O ministro Salles queria condicionar as ações de combate ao desmatamento ao  financiamento prévio, o que o embaixador Chapman  já rechaçou sumariamente . E agora, fontes indicam que Salles está sendo dissuadido de seu discurso pelo novo chanceler Carlos França e pela ministra da agricultura Tereza Cristina.

Biden parece mesmo comprometido com a difícil questão do aquecimento global, que Sir Nicolas Stern compara à revolução industrial. Tudo indica estar comprometido com a mais do que urgente questão climática, como grande desafio de sua gestão. E realmente é um gigantesco desafio. Os países industrializados têm que reduzir em mais de 80% suas emissões de CO2 e metano, gases causadores do efeito estufa. Estima-se que custará entre 1 e 2 % do PIB mundial ao ano investir  contra as mudanças climáticas . E que custará 20% do PIB mundial não fazer nada e sofrer as consequências de um aquecimento global de 5 graus celsius ao longo do século!

Estudo recente da Universidade de Northumbria, publicado na revista Cryosfere, aponta um preocupante aumento de temperatura na parte oeste da Antártica, que está fazendo com que uma geleira ( Pine) do tamanho do Reino Unido possa se desprender , o que pode causar um aumento no nível dos oceanos de até 3 metros! Vale lembrar que 70 % das cidades em todo o mundo são costeiras. Segundo esse estudo, coordenado pelos pesquisadores e glaciologistas Hilmar Gudmundsson e Sebastian Rousier, a geleira Pine está prestes a colapsar, caso o aquecimento não diminua. E se isso acontecer é algo irreversível e impossível de conter!

Por mais incrível que possa parecer a um leitor mais desavisado, existem também estudos, de cientistas da Nasa que mostram que o eixo de rotação da Terra se alterou recentemente devido ao degelo da Groenlândia .  Um total de 7,5 mil gigatoneladas – o peso de mais de 20 milhões de Empire State Buildings – do gelo da Groenlândia derreteu no oceano ao longo do século XX. E isso fez a Groenlândia ser um dos maiores contribuintes de massa sendo transferida para os oceanos, o que por sua vez elevou o nível do mar e causou um desvio no eixo de rotação da Terra. Se a geleira Pine e a costa oeste Antártica ,  que citamos acima,  de fato se desprenderem  esse desvio no eixo pode aumentar ainda mais!

O relatório do IPCC  ( Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) de 2019 já alertava que agricultura e desmatamento juntos responderam por 23% das emissões  globais de gases do efeito estufa entre 2007 e 2016. Ou seja, quase um quarto do problema.  E que atacar a perda de vegetação, como a da Amazônia, mas também do nosso combalido Cerrado, entre muitos outros biomas , é absolutamente crucial na batalha contra o aquecimento global! Pois além de emitir gases , a destruição de florestas ainda tem um efeito duplo,  reverso e perverso, pois diminui concomitantemente a capacidade do próprio planeta de absorver CO2 da atmosfera.

Nesta semana tão especial, em que também foi comemorado o dia do índio, a ONU reconheceu os povos indígenas como os melhores guardiões das florestas! E nós aqui no Brasil mais do que ninguém temos que reconhecer isso: a importância de nossos povos ancestrais na preservação não só de nosso biomas, mas também de nossa água! O embaixador Chapman reconheceu isso também, tanto que em outra reunião virtual recebeu os líderes da APIB ( Associação dos povos indígenas brasileiros) na semana passada. Sonia Guajajara e outras lideranças indígenas alertaram os governo norte-americano das invasões, mineração e outros desmandos que estão acontecendo em seus territórios seculares. 

Mas voltando a reunião do dia da Terra, mais de 300 empresas gigantes conclamaram Biden a dobrar a meta de redução de carbono dos EUA. 310 empresas e investidores que representam 3 trilhões de dólares em receita anual e outros 1 trilhões em ativos pediram a adoção de uma meta ambiciosa e viável de reduzir as emissões de gases em pelo menos 50% abaixo dos níveis de 2005, até 2030. Atualmente a meta dos EUA apresentada à ONU ( quando da assinatura do Tratado de Paris por Obama) era de cortar as emissões entre 26  e 28%  até 2025, em relação aos índices de 2005.  Assinaram a carta empresas como Apple, Google, McDonalds, IKEA, Johnson & Johnson , Siemens, Ebay, Coca-Cola, Starbucks, Nestlé, Patagônia, Nike,  Facebook, Microsoft e muitas outras. 

Benza Deus!  Demorou , como diriam nas quebradas deste país tão ferido e fragmentado em que vivemos! Portanto, não é pouca coisa que estará na mesa de discussões neste dia da Terra! Como disse o sábio pensador e líder indígena Aílton Krenak no programa Roda Viva desta segunda-feira: “A Terra pode seguir seu curso sem a humanidade”! Esperamos que não, que sejamos capazes de reverter o  a rota e o curso em que a humanidade parece apontada, frente a um precipício climático!
 
Esta coluna “Ambientes urbanos” é promovida em parceria pelo Instituto Rizzo de cultura e meio ambiente e o jornal A Redação.
 


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João Novaes é jornalista, diretor de cinema e vídeo e produtor executivo do Instituto Rizzo – rizzoinstituto@gmail.com / atendimento@aredacao.com.br

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