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Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

Música Clássica

Eleazar de Carvalho, Claudio Abbado, Zubin Mehta, Seiji Ozawa...

| 26.10.20 - 14:15
A foto abaixo foi tirada no prestigiado Festival de Tanglewood1, nos Estados Unidos. A legenda foi disponibilizada pelo autor Sérgio Nepomuceno Alvim Corrêa (2004, p. 55) na publicação intitulada Orquestra Sinfônica Brasileira (2004):
 
“Alunos de regência de Eleazar de Carvalho (de preto):
Gustav Meyer, Zubin Mehta, Cláudio Abbado
e dois não identificados. Acervo OSB2”.
 
 
Fonte: livro Orquestra Sinfônica Brasileira (2004)
Autor: Sérgio Nepomuceno Alvim Corrêa
 

Como já mencionado em postagens anteriores, no último mês de agosto (2020), tive uma longa conversa com o maestro Emilio Cesar de Carvalho (n. 1947) - por meio do aplicativo Zoom - realizada em três diferentes dias. Nesses encontros virtuais, Emilio De Cesar - como é mais conhecido - falou bastante sobre o seu tio Eleazar de Carvalho (1912-1996), um ícone da regência brasileira.

Abaixo, os links para acesso às colunas anteriores:
 
Maestro Eleazar de Carvalho: o início de sua carreira (postado em 08/10/2020);
O início da carreira internacional de Eleazar de Carvalho (postado em 20/10/2020).


Eleazar: de aluno a professor em Tanglewood
 
Neste momento, é importante relembrar que o músico e maestro cearense Eleazar de Carvalho chegou aos Estados Unidos em 1946, com o objetivo de dar prosseguimento ao desenvolvimento de sua carreira de regente, iniciada no Rio de Janeiro. No Festival de Tanglewood daquele ano, conseguiu uma audição com o russo Serge Koussevitzky3 (1874-1951), então Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Boston.
 
A partir de 1947, já como aluno regular de Koussevitzky, o brasileiro Eleazar de Carvalho passou a dividir as atribuições do cargo de Regente Assistente da Orquestra Sinfônica de Boston com ninguém menos do que o norte-americano Leonard Bernstein4 (1918-1990). 
 
Mais tarde, em 1951, segundo Emilio De Cesar, com a morte de Serge Koussevitzky, o maestro Eleazar de Carvalho substituiu seu mestre na direção da Berkshire Music Center, entidade que promove o Festival de Tanglewood. Ao que tudo indica, o brasileiro permaneceu à frente daquela instituição até o ano de 1965.
 
Fica claro, então, que nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o maestro Eleazar de Carvalho esteve envolvido não apenas com suas atividades nos Estados Unidos, haja vista que, na realidade, ele manteve seu vínculo como um dos regentes da Orquestra Sinfônica Brasileira2.
 
Os alunos em Tanglewood
 
A primeira foto (sem data) utilizada nesta coluna destaca a atuação de Eleazar de Carvalho em uma das edições do Festival de Tanglewood. Naquela oportunidade, entre os alunos da classe de regência estavam o italiano Claudio Abbado (1933-2014) e o indiano Zubin Mehta (n. 1936). Como se sabe, aqueles dois jovens promissores se tornaram verdadeiros “monstros” da batuta.
 
Na sequência, há outra foto assaz interessante. Trata-se de Seiji Ozawa (n. 1935) tendo uma aula de regência com Eleazar de Carvalho, também no Festival de Tanglewood. Segundo o site da Orquestra Sinfônica de Boston, esta foto data de 1960, aproximadamente. Aliás, nesta página há mais de sessenta fotos contendo imagens do maestro brasileiro.


 
Eleazar de Carvalho e Seiji Ozawa
Festival de Tanglewood (c. 1960)
Fonte: Site da Orquestra Sinfônica de Boston
 
 
Durante a entrevista, o maestro Emilio De Cesar me relatou que esteve no Festival de Tanglewood, em 1965. Ele até acrescentou que assistiu a uma aula ministrada por Eleazar de Carvalho ao talentoso Seiji Ozawa, um músico nascido na China, mas filho de japoneses. Para Emílio, Ozawa havia vencido o Concurso Internacional de Regência de Besançon (França), em 1959, fato que o teria lançado no mercado. Embora este maestro já estivesse despontando no universo da música sinfônica como um grande regente, foi ter aulas em Tanglewood. Nas palavras de Emílio,
 
 “Eu me lembro do Eleazar parando ele [Ozawa], falando isso, falando aquilo outro etc.
Como ele deveria fazer isso, aquilo.
Enfim, dando aula de regência com toda a orquestra [Sinfônica de Boston],
“ao vivo”, para que você pudesse ter a experiência. Fantástico!
Um curso maravilhoso que ele dava. Realmente, uma coisa de outro mundo.”


 
Maestro Emilio De Cesar 

 
A faceta pedagógica de Eleazar de Carvalho também é explorada pelo articulista Leonardo Martinelli (Revista Concerto, 2012). Esse articulista nos informa que, além de Tanglewood, o maestro brasileiro “ocupou cargos de docência em regência em importantes instituições daquele país [EUA], tais como Hostra [sic] College, a Yale University e a prestigiada Juilliard School de Nova York”.
 

Tanglewood e o Festival de Campos do Jordão
 
Em 1970, o governo do Estado de São Paulo convidou Eleazar de Carvalho para efetuar uma reestruturação na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) e também no Festival de Inverno de Campos do Jordão. O maestro Eleazar, então, implantou nas edições seguintes desse evento o modelo de festival-escola de Tanglewood  e, a partir daí, teve seu nome vinculado a este Festival.
 
Em 2019, o Festival de Inverno de Campos do Jordão (SP) chegou à sua 50ª edição. Naquele ano, a Fundação OSESP - há tempos a responsável pelo Evento -, publicou um livreto comemorativo, cujo arquivo (pdf) encontra-se disponível no site: http://www.festivalcamposdojordao.org.br
 

Tanglewood e o Festival Eleazar de Carvalho
 
Ainda em vida, o maestro Eleazar de Carvalho criou no Brasil uma Fundação que leva o seu nome: a Fundação Educacional Cultural e Artística Eleazar de Carvalho (FUNDEC), uma instituição sem fins lucrativos. Essa entidade passou a promover, desde 1993, o Festival Eleazar de Carvalho, também idealizado a partir do modelo praticado em Tanglewood.
 
A FUNDEC produziu o Festival de Itu (SP) entre os anos de 1992 e 1995. Depois, o Festival Eleazar de Carvalho passou pelas cidades de Gramado (RS) e João Pessoa (PB). E, finalmente, desde 2005, o referido festival ocorre em Fortaleza (CE). A direção artística deste evento fica a cargo da viúva do maestro Eleazar de Carvalho, Sônia Muniz Carvalho. Por motivos já bastante conhecidos, em julho de 2020, a 22ª edição desse evento ocorreu, pela primeira vez, de forma virtual.



 
Concerto de encerramento do Festival de 1976, ao ar livre, na Praça Jaguaribe,
interpretando com a OSESP a Abertura 1812 de Tchaikovsky.
Fonte: Publicação da Fundação OSESP
50º Festival de Inverno de Campos do Jordão (2019).



NOTAS:
 
1) Tanglewood é uma propriedade rural localizada entre as cidades de Lenox e Stockbridge, no Estado de Massachusetts. Lá, no Berkshine Music Center, acontece o prestigiado festival organizado pela Orquestra Sinfônica de Boston. Nas palavras de Emilio de Cesar, o Festival de Tanglewood - realizado nos meses de julho e agosto - é um dos melhores cursos de verão dos Estados Unidos, “se não for o melhor (...). Na época, era assim, o suprassumo”. O Festival de Campos do Jordão (SP), criado pelo maestro Eleazar de Carvalho, foi inspirado no Festival de Tanglewood.

2) A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) foi fundada em julho de 1940, como uma sociedade anônima. Para Nepomuceno (2004, pp. 18 e 139), o fundador foi o maestro José Siqueira, com o apoio do empresário Roberto Marinho. Eleazar de Carvalho teve três passagens como Regente Titular pela OSB: de 1951 a 1957; de 1960 a 1962; de 1966 a 1969.

3) Serge Aleksandrovich Koussevitzky (1874-1951): era maestro, compositor e baixista russo. Regeu a Orquestra Sinfônica de Boston de 1924 até 1959.
 
4) Leonard Bernstein (1918-1990), embora nascido na cidade de Lawrence, no estado de Massachusetts, era filho de pais emigrantes judeus ucranianos. Em 1935, foi admitido no curso de Música da Universidade de Harvard, graduando-se em 1939. Participou do Festival de Tanglewood, em 1940, na classe do maestro russo Serge Koussevitzky. Foi Regente Assistente de Koussevitzky na Orquestra Sinfônica de Boston. Em 1945, foi nomeado diretor da Sinfônica da Cidade de Nova York. Em 1957, foi nomeado diretor da prestigiada Orquestra Filarmônica de Nova York.
 
 

REFERÊNCIAS:

Carvalho, Emilio Cesar de. (2020, Agosto). Entrevista concedida a Othaniel Alcântara Júnior (gravada em vídeo, aplicativo Zoom).
Corrêa, Sérgio Nepomuceno Alvim. (2004). Orquestra Sinfônica Brasileira, 1940-2000. Rio de Janeiro: Funarte.
Martinelli, Leonardo. (2012, Março). Maestro Soberano. Revista Concerto, Ano XVII, N. 181, pp. 24-27.


Comentários

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  • 28.10.2020 13:25 Eliseu Ferreira da Silva

    Parabéns pelo trabalho. É importante resgatar e manter viva a história dos nossos icones culturais!

  • 26.10.2020 15:31 Orlando

    Muito bom ter um nome reverenciado na regência mundial como o Maestro Eleazar. Excelente texto!

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Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

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