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Blenda Costa Alves

Educar em tempos de desconexão emocional

| 18.08.25 - 10:06
Vivemos uma era de hiperconectividade, mas marcada por crescente desconexão emocional — incompatibilidade que impacta a sala de aula. O espaço dedicado ao conhecimento e desenvolvimento do estudante passou a abrigar tensões, desigualdades e, em muitos casos, tornou-se o último refúgio seguro para crianças e adolescentes em vulnerabilidade.
 
A escola enfrenta uma crise silenciosa. Não só o desempenho acadêmico está comprometido, mas também a saúde emocional de quem ensina. Estudo da Unifesp mostra que 32,75% dos professores da educação básica têm síndrome de burnout, 55,92% apresentam burnout pessoal e 43,58% relatam esgotamento relacionado ao trabalho. A sobrecarga de funções, a pressão por resultados e a falta de apoio institucional tornam o cenário ainda mais desafiador.
 
Do outro lado da sala, os estudantes também chegam emocionalmente sobrecarregados. Muitos não têm ferramentas para lidar com frustrações ou conviver em grupo, o que compromete a aprendizagem. O que deveria ser espaço de desenvolvimento pleno se transforma em palco de tensão. É fundamental cuidar da saúde dos educadores para que possam oferecer apoio emocional. Além disso, governos devem ampliar parcerias com profissionais da saúde mental, oferecendo suporte psicológico à comunidade escolar, sem sobrecarregar os docentes.
 
O desgaste emocional impacta a todos: alunos e professores veem sua relação fragilizada e perdem-se as condições mínimas para a aprendizagem. O resultado? Baixos índices de aprendizado, evasão crescente e um ciclo de frustração e desmotivação.
 
Em algumas redes estaduais já existem políticas que monitoram indicadores de bem-estar e clima escolar, orientando práticas pedagógicas. No entanto, isso ainda não se aplica a todas as escolas, especialmente as públicas, o que gera distorções na avaliação da educação no país. É necessário reconectar a escola com seu papel humano para romper o ciclo de adoecimento, violência e evasão. Essa responsabilidade deve ser compartilhada com famílias e comunidades, ampliando a rede de proteção.
 
Embora a BNCC reconheça que educar vai além do conteúdo acadêmico, um dado alarmante mostra a gravidade da crise emocional nas escolas: segundo o DataSenado, cerca de 11% dos estudantes brasileiros sofreram algum tipo de violência escolar, o que representa aproximadamente 6,7 milhões de alunos, segundo pesquisa de 2023.
 
Isso confirma a urgência de uma resposta sistêmica. Não basta segurança: é preciso transformar a forma de educar. Essa mudança passa pela formação continuada de educadores com foco em empatia, escuta ativa e regulação emocional.
 
As escolas precisam de espaços regulares de acolhimento — como rodas de conversa, tutoria afetiva e práticas restaurativas — que fortaleçam vínculos e previnam conflitos. Os currículos podem incluir projetos interdisciplinares com arte, meditação e temas ligados à convivência, diversidade e cultura da paz.
 
Mesmo com tantos alertas, os dados persistem. Investir em competências socioemocionais não é modismo: é urgência educacional, social e humana. A pergunta que fica é: onde estamos errando e qual o melhor caminho a seguir? Parte da resposta, nós já conhecemos.
 
*Blenda Costa Alves  é gestora do Instituto MRV&CO

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