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Marcelo Camorim

Do sucesso à instabilidade

| 24.07.25 - 11:11
A vida dos empreendedores brasileiros não está fácil. Em um país que registrou 2,2 mil pedidos de recuperação judicial em 2024, o maior número da série histórica do Serasa Experian, com uma alta de 61,8% em relação a 2023, o sinal de alerta precisa estar aceso: onde estamos errando? 
 
Se olharmos um pouco mais vamos ver que somente uma empresa em cada quatro destas que pediu recuperação judicial consegue sobreviver após o processo. E somado a isso, ainda temos o alarmante dado do Sebrae: 50% das empresas fecham nos primeiros cinco anos de existência. Má sorte? Não. Falta de entender os principais erros que as empresas cometem e as levam ao fracasso. 
 
Muitas empresas possuem boas práticas de mercado e gestão profissionalizada, como controladoria, governança, ou até mesmo um Business Intelligence, que traz indicadores, demonstram fatos e ações atuais da empresa, ou até mesmo uma contabilidade muito bem ajustada e ainda assim vão do sucesso ao fracasso. Vou explicar os motivos  com dois exemplos reais de empresas não fictícias que conheço, excluindo de nosso cenário qualquer possibilidade de fraudes que possam ter comprometido alguma empresa: vamos ao ponto da gestão. 
 
Exemplo um: uma empresa familiar alemã que está na sua décima geração. Ela possui boas práticas de gestão e já dura mais de 200 anos de forma saudável e continua ampliando mercado em diversos países, ampliando sua cesta de produtos e portfólio. Um dos seus principais executivos me contou o segredo: a primeira pilastra da cultura organizacional é a empresa e não a família. Ou seja, primeiro vem a empresa, porque uma empresa desestruturada irá desestruturar toda uma família. Veja que nós, latino-americanos, costumamos fazer o contrário e colher os frutos negativos dessa escolha.  Este modelo de sucesso requer que o membro da família somente trabalhe na empresa se ele for capacitado e puder entregar o que a organização precisa dele. Se não, está fora, podendo pegar sua parte e se retirar da sociedade.  Agora eu vou te contar o modelo de fracasso.
 
Exemplo  dois: esta também é uma empresa europeia de mais de cem anos, que possui um viés latino-americano e foi do auge ao fracasso. Ela tinha bons controles,  tinha conselho de administração, é uma sociedade anônima (S.A) e não tinha família no poder. Por que aconteceu isso? Te respondo com a primeira condição do insucesso: contratar executivos errados. Contratar executivos que falam aquilo que você quer escutar, pode ter certeza que o insucesso vai vir.  Se não vir de médio, vai vir de longo prazo. Um executivo deve ter o foco no que é melhor para a empresa e fazer as mudanças necessárias, ainda que elas possam “doer” em alguém. A visão de futuro e tecnologia, adaptações às mudanças no mercado precisam ser constantes, pois ter as ferramentas de gestão não garante que a empresa  não está sujeita a turbulências, muito pelo contrário, é preciso estar preparado para não só enfrentar, mas se antever aos desafios. 
 
A partir deste exemplo, destaco o segundo passo para o fracasso: decisões completamente faraônicas. Ou seja, tomar decisões de uma forma não executível.  É preciso sempre se certificar de que os objetivos e planos são factíveis e planejar quando e como eles serão realizados. E ainda mais importante, garantir que a empresa possa continuar a executar o plano, independente de quem esteja na gestão. Porque não se trata de uma pessoa física e sim de uma pessoa jurídica, que tem vida própria. Acontece muitas vezes de se fazer um planejamento muito bonito para um longo prazo, em que todo mundo acreditou, e aí os executivos foram embora e o problema ficou no colo da família ou dos donos, que não estavam preparados para resolver. 
 
O terceiro ponto é o mais interessante: não basta somente você ter um modelo de gestão profissional, você precisa saber para onde você tem que ir de uma forma até um ponto pragmática e até um ponto sonhadora. Ou seja, o modelo de sucesso está entre o empreendedorismo e o pragmatismo. Não adianta só ser pragmático, conservador. Mas também  não funciona ser só sonhador. É preciso alinhar sonhos e expectativas à realidade e às condições da empresa, até para não dar passos maiores do que pode sustentar a longo prazo e ficar com problemas de endividamento e de confiança no mercado. 
 
Agora eu termino te perguntando qual dos dois exemplos você acha melhor? Aquele que preserva primeiro a empresa, depois a família, pois empresa quebrada, família quebrada? Ou aquele que preserva a família, e busca manter todo mundo unido, só que se depara com uma empresa quebrada e uma família magoada? Tirem suas próprias conclusões.
 
*Marcelo Camorim é presidente do Conselho de Administração e de Família do Grupo Soares, especialista em governança corporativa e sucessão familiar 

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