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Marcus Coelho

Amizade nos negócios

| 16.07.25 - 07:57
Fazer negócios com amigos é uma aposta ousada. Para muitos empreendedores, a confiança forjada em anos de convivência representa uma base sólida para construir algo grandioso. Para outros, é um terreno escorregadio onde as emoções podem sabotar decisões racionais e colocar em risco uma amizade preciosa. O dilema é real: amizade e sociedade podem ser combustível ou armadilha.
 
Ao contrário das parcerias formadas apenas por conveniência profissional ou capital, empreender com um amigo significa colocar em jogo valores, histórias e afetos. A sintonia pessoal pode facilitar a comunicação, promover decisões mais rápidas e criar um ambiente de trabalho leve e coeso. Mas essa mesma proximidade pode dificultar conversas difíceis, esconder conflitos sob o verniz da amizade e impedir a tomada de decisões objetivas.
 
O grande trunfo de uma sociedade entre amigos — a confiança — também é seu ponto mais vulnerável. A informalidade típica dos laços afetivos, se não for controlada, pode se infiltrar nos processos de gestão, enfraquecendo o profissionalismo. Expectativas mal alinhadas e a relutância em estabelecer regras rígidas, por medo de parecer "frio" ou "desconfiado", são erros recorrentes que abrem brechas para desentendimentos profundos.
 
Para que a sociedade prospere, é necessário um pacto de maturidade. Isso inclui: separação clara entre amizade e gestão, acordos formais e transparentes e planejamento para o conflito, prevendo mecanismos de mediação e resolução. Há casos emblemáticos que mostram que a aposta pode valer a pena. Larry Page e Sergey Brin (Google), Bill Gates e Paul Allen (Microsoft), Steve Jobs e Steve Wozniak (Apple), Ben Cohen e Jerry Greenfield (Ben & Jerry’s), Bill Hewlett e David Packard (HP) são exemplos de amizades que geraram gigantes da inovação, da tecnologia e da cultura.
 
Em comum, essas parcerias sustentaram-se em uma visão compartilhada e, muitas vezes, em uma gestão complementar. Mas mesmo essas histórias de sucesso enfrentaram tensões. Algumas amizades se desgastaram ao longo do tempo, provando que nem o êxito financeiro garante a longevidade do vínculo pessoal se ele não for cuidado. Empreender com amigos não é para os ingênuos. É para quem tem coragem de enfrentar os riscos com responsabilidade, combinando afeto com racionalidade. A amizade pode ser, sim, o maior ativo de uma sociedade. Mas só será sustentável se vier acompanhada de diálogo franco, planejamento e disciplina.
 
Mais do que ter uma boa ideia ou uma conexão pessoal, é preciso construir um negócio sobre pilares firmes — e isso começa com clareza, respeito e compromisso mútuo. Quando bem conduzida, a jornada empreendedora entre amigos pode ser não apenas bem-sucedida, mas transformadora. E provar, na prática, que o melhor dos dois mundos é possível.
 
*Marcus Coelho é advogado, negociador e conselheiro de empresas

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