Se tamanho é documento, então cada metro mal planejado é desperdício assinado em cartório.
Trabalhando com habitação econômica, aprendi rápido: cada metro quadrado custa — e quem paga é sempre o cliente.
A ineficiência da empresa, o projeto sem aderência, a norma urbana mal redigida, o processo público engessado — tudo isso vira preço, vira atraso, vira exclusão.
“Mas estamos falando do mínimo.”
Sim, estamos.
E o mínimo, para milhões de brasileiros, ainda é luxo. O teto que alguns discutem como o “padrão mínimo” é, na prática, o máximo que 7 milhões de pessoas conseguem sonhar.
E aqui deixo um recado incômodo: quem entrega um MCMV dentro da regra da Caixa e do FGTS, atendendo à NBR 15575, já faz mais do que boa parte do mercado tradicional. Porque cumpre com dignidade o que outros ainda chamam de “mínimo técnico”.
O problema é que tem gente que trata esse tema como se estivesse falando de planilha. Não está. Está falando de gente. Projetar com um metro a mais ou a menos muda tudo. Cada m² não usado, mal pensado ou ineficiente custa mais do que cimento. Custa acesso.
E não, o problema não é (só) do governo federal. O município que não atualiza seu código de obras e plano diretor, que ignora a viabilidade urbana, que dificulta PPPs ou se omite na legislação, está empurrando famílias para a informalidade.
A política pública de moradia não acontece no discurso — acontece na lei de uso do solo, no incentivo à habitação social adequada e na coragem de assumir que o problema é coletivo.
Quer melhorar a habitação social? Comece aceitando que o básico bem feito ainda está longe de ser o padrão. E que “mínimo” não deveria ser o máximo alcançável.
*Carolina França Lacerda é engenheira civil, diretora do Sinduscon-GO e consultora em desenvolvimento imobiliário, estratégia e viabilização de empreendimentos.