Lendo o livro “A Teoria do Poder Global” de Fiori (2024) percebe-se que todo modelo de geração de crises pontuais na economia mundial já se encontra traçado.
A lógica estabelecida após 1973 sob a hegemonia norte-americana é de crescimento do processo de globalização financeira fora do eixo asiático. Para esse continente se direcionam os investimentos produtivos, razão pela qual as grandes corporações mundiais estão lá instaladas.
Na América do Sul e Latina, os investimentos têm alimentado o sistema financeiro internacional pois o caráter é eminentemente especulativo. Nesse contexto, a escalada do dólar verificada no Brasil, no final do mês de novembro e por todo o mês de dezembro do ano de 2024 faz parte desse movimento já programado na economia mundial.
A questão levantada sobre o déficit fiscal de 104,0 bilhões de reais é apenas um balão de ensaio, para justificar o que move o mercado financeiro, que é a incerteza.
O mercado financeiro lança a chama do déficit fiscal para retirar o foco das despesas com juros da dívida pública. O valor pago pelo governo federal nesse aspecto sim, preocupa haja vista que, por mais que a receita cresça, não consegue acompanhar a velocidade do montante de juros a serem pagos. No ano de 2024 essa conta foi de 869,0 bilhões de reais.
A troca de presidentes feita no Banco Central nada irá modificar esse cenário até porque essa autoridade monetária é independente e tem um único objetivo: voltar a inflação ao centro da meta no caso (3,0%).
A receita para combater a doença que no caso se chama inflação, já está prescrita pelo sistema financeiro internacional, que é o de aumento das taxas de juros, fato que tende a se verificar nas próximas reuniões do comitê de política monetária.
Os percentuais já foram estabelecidos na última reunião desse comitê que são de (14,25%) independente do perfil da inflação, demanda ou custos.
O que interessa para o país hegemônico não é trazer a inflação ao centro da meta, mas sim continuar proporcionando alta lucratividade aos integrantes do sistema financeiro internacional por ele comandado.
A economia doméstica vai bem dentro do que é possível os indicadores econômicos e sociais mostram isso. O PIB cresceu 3,5% , a taxa de desemprego fechou o ano em 6,1% e os programas sociais em curso, retiraram milhões de pessoas da linha de extrema pobreza.
Governos precisam ter acuidade fiscal mas sem deixar que isso venha a comprometer a justiça social.
*Julio Paschoal é economista, professor e mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal de Uberlândia.