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Tatiana Potrich

Bananalização

| 29.12.24 - 10:30
Sincronicidade do grego syn: junto e chronos: tempo, fenômeno descoberto pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung (1875-1961) estuda os efeitos do mundo subjetivo com o mundo objetivo.
 
A medicina ancestral do médico indiano Deepak Chopra difunde estes estudos através de programas de meditação e autoconhecimento conspirando, com base na física quântica, que as sincronicidades são consequências do que pensamos e atraímos.
 
Dito isso, posso afirmar que algumas coincidências culturais deste ano não foram acidentais.
 
O exorbitante arremate, no leilão da Sotheby's, da obra "Comedian"(2019), de autoria do artista italiano Maurizio Cattelan, pelo rei das criptomoedas, o chinês Justin Sun, em novembro, por incrível que pareça, tem uma ligação íntima com um livro e sua adaptação para o lançamento da série, neste mês de dezembro, "Cem anos de solidão", do prêmio Nobel, Gabriel García Márquez (1927-2014).
 
O realismo mágico, que se passa na cidade fantástica de Macondo, termo da língua bantu, que significa banana, não esconde o trágico realismo de combates políticos entre militares do governo e tropas liberais, lideradas pelo Coronel Aureliano Buendias. Essas passagens literárias são um resgate à um fatídico episódio, que foi esquecido e apagado da história colombiana. Conhecido como "O Massacre das Bananeiras" (1928), que aconteceu na costa caribenha, foi um manifesto grevista contra as péssimas condições de trabalho que a empresa United Fruit Company, atual Chiquita Brand impunha na porção de terras, da América Latina, que estavam sob seu domínio.
 
"Embora os números oficiais afirmam que isso resultou em 47 mortes, há relatos que pelo menos 2 mil pessoas morreram durante o massacre. A influência da United Fruit Company na política latino-americana é sentida até hoje, inclusive colaborou com o termo pejorativo, República das Bananas" (link da matéria)
 
Vendida, não menos por US$ 1,5 milhões "Comedian", a banana grudada na parede por uma fita silver tape parece uma piada pronta, mas a sincronicidade dos acontecimentos, como o lançamento da série, só potencializa uma contínua disfunção social aceita pela imposição de um 'colonialismo' que só mudou de nome (ou não) e de endereço.
 
"À preço de banana" é a sarcástica verdade do valor real que pagamos por uma anistia, ops, por uma anestesia social sintomática e cruel.
 
"Símbolo máximo do clichê tropical, a banana foi tema exaustivamente trabalhado pelo artista Antônio Henrique Amaral (1935-2015) como maneira de criticar os descaminhos do Brasil durante o período de ditadura civil-militar e aludir aos corpos torturados pelo Estado". (Sp-Arte)
 
Se pensarmos em sincronicidade, o lançamento do filme "Ainda estou aqui"(2024) é mais um sinal de que precisamos entender e estudar o passado para não 'bananalizarmos' os mesmos erros repetidamente.
 
Feliz 2025! 
 
Obra de Antônio Henrique Amaral extraída do (link)

*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais

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