O Dezembro Vermelho, mês dedicado à conscientização sobre o HIV/AIDS, destaca um cenário alarmante: os jovens seguem como o público mais exposto à infecção. Entre 2012 e 2022, foram registrados 114.593 casos de HIV em jovens de 15 a 24 anos, representando 23,4% do total de infecções no Brasil. Além disso, mais de 52 mil jovens nessa faixa etária tiveram evolução do HIV para AIDS entre 2011 e 2021, evidenciando a urgência de ações educativas que dialoguem diretamente com essa população. Os dados são do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids do Ministério da Saúde.
A escola desempenha um papel estratégico nesse processo. Segundo a UNESCO, instituições de ensino são fundamentais para prevenir a reinfecção e a transmissão do HIV. Além disso, ao educar sobre a convivência saudável com o vírus, elas contribuem para reduzir o estigma e a discriminação que ainda afetam profundamente quem vive com HIV/AIDS. Promover um ambiente acolhedor e informativo ajuda a combater a desinformação e fortalece o apoio emocional para jovens soropositivos.
Nesse contexto, iniciativas como o projeto HDT nas Escolas, promovido pelo Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), vão se mostrar essenciais. A ação busca levar conhecimento diretamente aos adolescentes e jovens de escolas próximas ao hospital, abordando dúvidas e mitos comuns por meio de uma abordagem interativa e mediada por profissionais da saúde. Essa metodologia ativa, que respeita os aspectos biopsicossociais da juventude, é uma das formas mais eficazes de engajá-los, estimulando reflexões e mudanças de comportamento.
A educação sexual abrangente é outro pilar indispensável no enfrentamento da epidemia. Mais do que informar sobre os riscos de transmissão, é fundamental discutir temas como sexualidade, autocuidado, consentimento e relações saudáveis. Essas discussões promovem autonomia e fortalecem a autoestima, elementos cruciais para a prevenção de novas infecções e para o bem-estar emocional dos jovens.
No entanto, o impacto de iniciativas como o HDT nas Escolas vai além da prevenção. Elas também são instrumentos para desconstruir preconceitos e disseminar uma mensagem de respeito e acolhimento. Em um mundo onde informações falsas se propagam rapidamente, a educação torna-se uma barreira essencial contra os estigmas prejudiciais que ainda cercam o HIV/AIDS.
Por fim, é fundamental que as ações do Dezembro Vermelho não se restrinjam ao mês de conscientização, mas que sejam contínuas e articuladas ao longo do ano. Governos, instituições educacionais e a sociedade civil precisam garantir acesso à informação confiável, testes rápidos, tratamento e suporte emocional para jovens.
O enfrentamento do HIV/AIDS exige um compromisso coletivo. Transformar o ambiente escolar em um espaço de acolhimento, prevenção e combate à discriminação é investir no futuro de uma sociedade mais informada, saudável e inclusiva. Afinal, educar os jovens de hoje é proteger as gerações de amanhã.
* Anamaria Arruda é Diretora Geral do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), unidade gerida pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG)