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Tatiana Potrich

Cura a dor

| 22.09.24 - 10:29
 
Olha só eu prometendo não escrever sobre política e os dedinhos "coçando" aqui em cima do teclado...
 
Mas para minha, ou nossa sorte, a Arte se encarrega de deixar tudo desenhado facilitando a interpretação. Quem se encoraja na missão de desenhar a drástica situação nem é um artista brasileiro, mas um de nacionalidade "híbrida", o indo-britânico Anish Kaapor.
 
"Inflamação" é a mostra que acaba de abrir na Cidade Matarazzo, na Casa Bradesco, em São Paulo. 
 
A produção característica do artista transita entre a investigação de materiais, ilusão d'ótica e experimentos científicos acolhendo a cor vermelha como num prenúncio de surto coletivo já num estado crítico de enfermidade. Suas instalações, objetos escultóricos e apelo visual me remeteram de imediato às obras de alguns artistas brasileiros renomados como "Desvio para o vermelho", de Cildo Meireles, "True Rouge", de Tunga ou  "Linda do Rosário" de Adriana Varejão, todos no Instituto Inhotim. Há algo um tanto familiar e genuíno nas semelhanças, como a ideia da antropofagia de Oswald de Andrade, ou o nome da árvore que batizou nosso país, o pau-brasil, 'brasis', a brasa, a cor fatal das queimadas, tão atuantes e militantes em tempos de seca.
 
É sugestivo o termo inflamação, do latim inflammato-onis, ação ou efeito de pegar fogo, tornar ruborizado. Para Kaapor "vermelho é centro"(...) "é a primeira cor que nos envolve no útero. É a cor que nos faz viver, bem como a da dor do machucado e da tragédia", acrescenta o curador da mostra Marcelo Dantas.
 
A visceralidade estampada em  poliuretanos, resinas, látex, parafinas, lente de aumento e outros experimentos artísticos ressignificam sensações ambíguas e conflituosas de se autoinflamar, seja de dentro para fora, ou  de fora para dentro.
"Vermelho é a cor da terra, não é a cor do espaço profundo; é obviamente a cor do corpo". 
 
Descrições sagradas alegam que viemos da terra, que viemos do barro e a ele voltaremos.
 
A enfermidade coletiva desenhada no vermelho pelo artista em destaque, também pode ter a cura apoiada na ideia da Terra, das nossas origens, de quem somos e de onde viemos.
 
Tão forte quanto vislumbrar uma instalação rubro-visceral é também poder estar imerso na terra vermelha, no barro, na lama terapêutica que renova as energias, desinflama, abaixa a febre e redobra a imunidade.
 
Realizar a mostra "Barro Contemporâneo" foi ir na contramão da inflamação. 
 
Os dedinhos "coçaram", mas se curaram!
 
Ainda bem que os artistas são capazes de detectar e desenhar os diagnósticos sociais e, para nossa felicidade, os curadores são capazes de demonstrar caminhos alternativos para uma cura, um tratamento, seja através do percurso da mostra, seja através do discurso da obra. 
 
Curadoria, cura!
 
 

Tatiana Potrich, designer, curadora afetiva, especializada em cultura popular através de pesquisa de campo com a capoeira, especializada em arte contemporânea pela FAV/UFG, filha da pioneira no mercado das Artes Plásticas do Centro-Oeste e herdeira do Potrich, filho de Dª Alziria Zílio Potrich, em estudos com o livro-catálogo "through: Inhotim", página da obra "Desvio para o vermelho", 1967, de Cildo Meireles.

 
 


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