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Pablo Vinícius

O que restará de nossas emoções quando tudo isso passar?

| 08.04.20 - 21:56
Para visualizar o depois, é necessário entender o antes e o agora. Como psiquiatra, eu já vinha alertando a sociedade que estávamos vivendo muito mal. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: são 18,6 milhões de brasileiros ou 9,3% da população. Somos o país com o maior número de deprimidos na América Latina. Um dado é ainda mais aterrorizante: entre 2006 e 2015, houve um aumento de 24% no número de suicídios entre jovens de 10 a 19 anos.  Para terminar: nossa sociedade é a segunda do mundo que mais consome calmantes.
 
Esse é o retrato do antes. Uma sociedade que estava se arrastando, com graves problemas sociais, ambientais e pessoais. Arrisco-me a dizer que o uso excessivo de psicotrópicos na verdade era muito mais um anestésico emocional do que um tratamento em si. Encontramos nos antidepressivos uma forma de continuar vivendo nossas vidas estressantes. Isso estava impedindo as grandes transformações. Normalmente, as mudanças pessoais e sociais são em decorrência de situações traumáticas e dolorosas. Mas como mudaríamos se estávamos tão acostumados e anestesiados? 
 
É aí que entra o agora. O vírus é só o meio. O fim é tudo o que ele trouxe consigo. 
 
O isolamento social, o medo da morte e a angústia do desemprego potencializaram o antes. Muita coisa a gente estava guardando debaixo do tapete. Estávamos escondendo nossas debilidades nos cantos de nosso ser. A ruptura abrupta de nossas rotinas colocou tudo isso para fora de uma vez. 
 
A soma do antes e do agora explica o que estamos presenciando: uma explosão das doenças emocionais. Crises de pânico, noites insones, ansiedade e melancolia tornaram-se mais epidêmicas do que o próprio vírus.
 
E o depois? Como será? Vai depender do que vamos fazer agora. Nós estamos exatamente no meio de uma encruzilhada. Se não houver uma mudança substancial dos conceitos e do estilo de vida humano, o resultado vai ser uma tragédia. Explodirá os casos de ansiedade, depressão e suicídio.  
 
A outra opção é a mudança. Precisamos mudar quase tudo. Começando com cada um de nós. Minha pergunta é: onde você estava errando? Posso tentar acertar a resposta: sacrificando seu presente em prol de um futuro. Dando mais valor à vaidade, reconhecimento e orgulho, do que à cooperação e à simplicidade de espírito. 
 
Está tudo em nossas mãos. Estamos no agora definindo nosso depois. E aí? Qual o caminho que vamos escolher?
 
*Pablo Vinícius é médico psiquiatra, neurocientista e pesquisador no estudo da inteligência humana

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