Goiânia – O médico urologista Fernando Franco Leão é o único especialista em cirurgia robótica em Goiás. Segundo ele, a prostatectomia radical - remoção da próstata que possui câncer - assistida com um robô apresenta um grau de satisfação para o profissional e para o paciente 50% maior do que a cirurgia convencional ou aberta.
Em 2014, 68.800 novos casos de câncer de próstata surgiram no país, ou seja, 70 a cada 100 mil homens possuem a doença. Os dados consolidados são do Insituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). As estimativas do mesmo ano para Goiás foram de 1.800 novos casos e em Goiânia o número foi de 170. É o segundo tipo mais frequente em homens. Existem duas formas de fazer a retirada da próstata com tumor malígno ou benígno: a cirurgia aberta ou convencional e a robótica.
De acordo com o médico, a cirurgia robótica é um procedimento mais sofisticado e minimamente invasivo. "Sangra e dói menos e a recuperação no pós-operatório é mais rápida. Na cirurgia aberta o paciente fica internado até 5 dias, já a robótica esse tempo não passa de 48 horas. Os resultados em relação à potência e continência rivalizam com aqueles obtidos com a cirurgia aberta. Além disso, devido ao emprego de incisões menores existe benefício adicional em relação ao aspecto estético das cicatrizes cirúrgicas. A robótica trouxe uma evolução para os médicos e para os pacientes", explicou.
O equipamento ainda é todo importado de uma única fabricante, a
Intuitive Surgical. O robô se chama Da Vinci e todos os modelos no Brasil têm alta definição de imagem. Atualmente, poucas cidades contam com o equipamento, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro. “Como Goiás ainda não possui um exemplar, eu levo meus pacientes daqui para São Paulo. Chego a realizar até dois procedimentos desse tipo por mês só de pacientes goianos”, disse.
Fernando faz parte do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e do Sírio Libanês, ambos de São Paulo e para onde os pacientes são encaminhados. O cirurgião também atua no Hospital Anis Rassi, que recebeu uma visita no começo deste mês para a possível compra do robô. “Seria um marco para o Estado contar com um tecnologia dessa”, disse.
A cirurgia
O robô não opera sozinho. É o médico quem comanda os procedimentos. Durante a cirurgia, o cirurgião observa o campo operatório em três dimensões, além de não precisar manejar diretamente os órgãos ou realizar procedimentos delicados com suas próprias mãos. Para isso, controla os braços de um robô por meio de uma cabine de comando.
Os braços robóticos funcionam como extensões dos braços do próprio cirurgião, só que com movimentos altamente precisos. A área operada pode ser ampliada na tela, que também permite ajustes de luminosidade e contraste, contribuindo para identificar, de forma ainda mais precisa, as diferentes camadas de tecido.
Ao lado do paciente estão ainda um auxiliar, um instrumentador e um anestesista. O médico faz a cirurgia sentado, numa posição ergonômica que permite encarar procedimentos bastante longos, se necessário.
(Foto: reprodução/Estadão Conteúdo)
Custo
Atuando com o robô há mais de um ano, Fernando Leão é o único urologista capacitado para manusear o equipamento em Goiás. "Quem já é médico especializado em cirurgia-geral, em urologia ou ginecologia, por exemplo, deve fazer uma sub-especialização em cirurgia robótica. Isso é oferecido pelo próprio fabricante do robô, desde de que exista um equipamento no local onde o profissional trabalha. Além disso, é necessário fazer um treinamento em São Paulo e alguns procedimentos com supervisão fora do país. Todas as etapas, até você estar apto, leva cerca de três anos e isso acaba desmotivando muitos médicos", disse.
Além das dificuldades de criar mais condições para que os médicos aprendam a técnica no Brasil, outro desafio da área de cirurgia robótica é o custo. “Só existe uma empresa que fabrica os robôs e elas determinam o valor. Hoje, um equipamento custa 3 milhões de dólares, o que corresponde a mais de R$ 11 milhões, com a cotação atual. É um valor muito elevado quando se põe na balança o pouco invetimento que o país faz na saúde. Mas em uma perspectiva a médio prazo, acredito que novas empresas deverão surgir, o preço baixar e teremos acesso a essa tecnologia em todos os Estados", conclui.