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Trânsito

Cinto de segurança obrigatório completa 20 anos com goianos mais conscientes

Flagrantes da infração reduziram 2% em 2017 | 01.11.17 - 16:35 Cinto de segurança obrigatório completa 20 anos com goianos mais conscientes (Foto: Mantovani Fernandes/jornal A Redação)
Adriana Marinelli e Mônica Parreira

Goiânia -
 “Sem o uso do cinto de segurança eu certamente não teria sobrevivido”. A conclusão é do empresário Paulo Guerra, 28 anos, que viu nesse simples ato a chance de duplo recomeço. O equipamento obrigatório – mas ainda ignorado por muitos – foi fundamental para ele sair ileso de dois graves acidentes de trânsito. Os casos aconteceram no intervalo de apenas quatro meses.
 
Era 6 de setembro de 2016, véspera de feriado, quando Paulo e a esposa entraram para as estatísticas das vítimas do trânsito. O casal estava em um Ford Ka que foi atingido por outro veículo na Avenida Independência, em Goiânia. Paulo atribui ao cinto de segurança o fato de o acidente não ter causado nada pior além das más lembranças e do prejuízo financeiro.
 
“Uma pessoa alcoolizada atravessou irregularmente um cruzamento e atingiu nosso carro, que teve perda total. O Ford Ka capotou duas vezes e, pelas circunstâncias do impacto, certamente eu e minha esposa não teríamos sobrevivido se não fosse o uso do cinto”, reforça ao lembrar do susto e do quão grave foi o acidente.


Impacto da colisão comprometeu a estrutura do Ford Ka, que teve perda total (Foto: arquivo pessoal)
 
Meses mais tarde, em março deste ano, Paulo se envolveu em uma nova colisão. Conduzindo um Honda Civic, o empresário chocou o veículo na traseira de outro carro. O acidente aconteceu no Jardim Novo Mundo, também em Goiânia. “E, mais uma vez, o cinto de segurança foi o que me salvou. O impacto foi muito forte”, lembra. 
 
Assim como Paulo, boa parte dos condutores têm se atentado para a importância do equipamento de proteção individual, cuja obrigatoriedade no Brasil completou 20 anos no último mês de setembro, conforme artigo 65 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei nº 9.503. Em Goiás, os números indicam uma sensível melhora no comportamento dos motoristas. Apesar de ser a segunda infração mais cometida pelos goianos, perdendo apenas para o excesso de velocidade, o flagrante da não utilização do cinto de segurança tem diminuído.
 
Levantamento divulgado recentemente pelo Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) mostra redução de quase 2% no número de autuações pelo não uso desse equipamento de segurança. Os dados comparam os primeiros nove meses deste ano ao mesmo período de 2016. Para o gerente de Fiscalização e Aplicação de Penalidades do Detran-GO, coronel Júlio Mota, os investimentos em campanhas educativas contribuíram diretamente com o atual cenário. O objetivo, conforme destaca, é “minimizar o impacto dos acidentes na vida das pessoas, desenvolver uma cultura de paz no trânsito e fazer com que as pessoas entendam que o comportamento delas reflete na coletividade”.
 
 
De janeiro de 2015 a setembro de 2017, o órgão estadual investiu R$ 68,35 milhões nas mais variadas iniciativas preventivas. Como exemplos, o coronel Mota cita o Detranzinho, que leva educação no trânsito para as escolas goianas, e a Balada Responsável, presente em todo Estado com a missão não só de fiscalizar, mas também de conscientizar os motoristas, principalmente sobre os riscos da combinação perigosa envolvendo álcool e direção. 
 
A mudança no comportamento dos goianos ao volante é um reflexo do que ocorre no País. Pesquisa do Ministério da Saúde, realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, de uma maneira geral, os condutores estão mais conscientes. O mais recente levantamento sobre o tema, divulgado em 2015, mostra que em Goiás cerca de 80% das pessoas com 18 anos ou mais sempre usam o cinto de segurança no banco da frente quando dirigem ou são passageiros - no Brasil o total é de 79,4%. Na capital goiana o número é ainda mais positivo: 90%.
 
Os dados justificam o número de multas emitidas pela Secretaria Municipal de Trânsito Transporte e Mobilidade (SMT). Infrações envolvendo a falta do cinto de segurança em Goiânia caíram de janeiro a setembro deste ano (3,7 mil flagrantes), se comparadas ao mesmo período do ano passado (4,8 mil flagrantes).

 
No entanto, quando o foco é o cinto de segurança ainda é preocupante a falta de consciência das pessoas transportadas no banco traseiro dos veículos. A pesquisa do IBGE indica que somente metade da população brasileira usa o equipamento de segurança no banco de trás. Em Goiás, o número é mais positivo e chega a 66%, mas ainda é motivo de preocupação para os órgãos de trânsito. Na capital, a realidade não é diferente. A infração envolvendo passageiros gerou 112 multas de janeiro a setembro de 2016, ante 140 nos primeiros nove meses deste ano. O aumento, segundo a SMT, é de aproximadamente 27%.
 
 
O empresário Vitor Leonardo, que há dois anos sobreviveu ao acidente de carro que matou o cantor Cristiano Araújo e a namorada do sertanejo, Allana Moraes, associa de forma direta a falta do uso do cinto de segurança com a dor da saudade.  “Eu sei do sofrimento que é perder uma pessoa que a gente ama, principalmente porque o simples ato de colocar o cinto poderia ter resultado em um final diferente”, diz Vitor ao lembrar que a tragédia que vitimou Cristiano e Allana poderia ter sido evitada.
 
O casal viajava de Itumbiara (GO) para Goiânia no banco traseiro de uma Range Rover Sport, que capotou na BR-153, em Morrinhos (GO), em junho de 2015. Sem cinto, Cristiano e Allana foram arremessados para fora do veículo. Ambos não resistiram aos ferimentos e morreram. O motorista e Vitor, que estava no banco da frente, faziam uso do equipamento de segurança. Eles sofreram apenas ferimentos leves.


Situação do carro que transportava Cristiano Araújo após o acidente (Foto: reprodução/PRF-GO)
 
"O cinto me livrou da morte ou de ferimentos que poderiam ter sido muito graves. Eu sempre usei cinto no banco da frente, mas não dava muita importância para isso quando sentava no banco traseiro. Depois do acidente, se tornou automático. Entro no carro, seja atrás ou na frente, e já coloco. Vou levar como uma lição de vida, para sempre”, completa.
 
Educadora de Trânsito do Detran-GO, Regina Lúcia Siqueira da Costa alerta para o impacto da imprudência de viajar sem equipamentos obrigatórios de proteção, como é o caso do cinto de segurança. “Dependendo da velocidade em que ocorrer a batida, o peso da pessoa pode ser multiplicado por oito vezes ou até mais”, diz. “Uma única pessoa sem cinto de segurança tem a capacidade de matar três ou até mais ocupantes dentro do veículo em caso de colisão. Sem falar que essa pessoa pode, inclusive, ser arremessada para fora do carro”. 
 
Outro alerta é sobre o impacto positivo do uso do cinto de segurança, já que evita em até 70% o risco de morte em acidente de trânsito envolvendo veículo em movimento e um objeto estático. É o que afirma o gerente de fiscalização do Detran-GO. “E quando é colisão onde os dois estão em movimento, frontal, a redução dos riscos chega a 90%”, afirma o coronel Júlio Mota.


(Arte: Mariana Barbosa/jornal A Redação)
 
O uso de equipamentos de segurança individual representa, antes de qualquer coisa, um zelo pela própria vida. No caso de motociclistas, o capacete é indispensável. Mesmo sendo obrigatório, conforme consta no CTB, o capacete ainda é esquecido ou simplesmente ignorado por alguns. A parcela é considerada pequena, se comparada ao número de pessoas que não negligenciam sua própria segurança, mas vale o alerta. No levantamento do IBGE, de 2015, o grupo que se protege para pilotar representa 94,2% em Goiás. Em nível nacional, a porcentagem é de 83,4%.
 
Acostumado a andar de moto pelo município de Novo Mundo (GO), o vaqueiro Ezequiel Pereira, 25 anos, está entre os 5,8% dos goianos negligentes. Nunca se importou com a obrigatoriedade do uso capacete. Vez ou outra o deixava sobre a mesa da cozinha, causando pânico em sua mãe, a dona de casa Wilma das Graças. "Eu sempre morria de medo quando meu filho saía de moto, principalmente sem capacete, até que fomos surpreendidos com o acidente. Parecia que eu estava prevendo", diz. 
 
O pesadelo para a família de Wilma começou na madrugada de 25 de junho, quando Ezequiel saía de uma festa junina. Na volta para casa, se desequilibrou da moto e caiu, batendo a cabeça. Só foi encontrado horas depois, por um vizinho que passava pela estrada. Ezequiel teve traumatismo cranioencefálico e ficou hospitalizado até o último dia 11 de outubro. Com dificuldade na fala, uma das poucas coisas que o jovem se lembra daquele dia, e faz questão de contar, é que “o capacete ficou no quarto”.


Vítima da própria imprudência, Ezequiel Pereira sofreu traumatismo cranioencefálico
após acidente de moto. Ele não usava capacete (Foto: Renato Conde/jornal A Redação)
 
Antes de deixar o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) na cadeira de rodas, já que sua locomoção ficou comprometida, ele agradeceu por estar vivo e fez um alerta: “Se eu estivesse com capacete, não precisaria estar aqui”. Dona Wilma, que acompanhou toda a internação do filho, diz que o acidente serviu de lição para toda a família, principalmente para o pai e o irmão de Ezequiel, que também não tinham o hábito de utilizar o capacete. “Agora vão usar, né? Depois do que aconteceu com Ezequiel”, reflete.


(Arte: Mariana Barbosa/jornal A Redação)
 
Chefe do Setor de Psicologia do Detran-GO, Nayane Viana atribui o comportamento de Ezequiel, e das demais pessoas que negligenciam o uso dos equipamentos de proteção individual, à questão cultural. “Muitos hábitos são adquiridos no meio em que a pessoa está inserida, é uma construção de valores. E a educação no trânsito não é diferente”, explica. 
 
Segundo Nayane, atividades educativas são realizadas com crianças e adolescentes nas escolas, mas o desafio é criar métodos eficazes para alcançar também os mais velhos. O setor de psicologia do órgão estadual está desenvolvendo um programa para abranger justamente os adultos. O objetivo é despertar a necessidade de manter a boa conduta e, consequentemente, construir um trânsito mais seguro. “Queremos alcançar os candidatos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH), aqueles que querem ser motoristas. A iniciativa contará, entre outras coisas, com aulões especializados que possam gerar conscientização”, completa.
 
 
 
 
 

Comentários

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  • 07.11.2017 12:05 Lúcia Assunção do Vale

    Cinto de segurança é fundamental para salvar vidas. Usem

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