Sarah Mohn
Goiânia – Advogado há 42 anos, desde 1973, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) por cinco mandatos, Felicíssimo Sena, é hoje uma das vozes mais expressivas do universo jurídico goiano.
Em entrevista exclusiva concedida ao jornal A Redação na manhã de quarta-feira (22/4), na sede da Cooperativa de Crédito dos Advogados (Credijur) – instituição na qual é presidente e acaba de ser reeleito para mandato até 2019 –, Felicíssimo analisou nomes de possíveis candidatos à presidência da Ordem, fez um balanço da atual gestão de Enil Henrique Filho e destacou as características que deve ter o próximo cabeça de chapa para vencer as eleições da OAB-GO, em novembro, para o triênio 2016/2018.
Jornal A Redação: Como está a escolha do nome que vai representar a OAB Forte na próxima eleição?
Felicíssimo Sena: Neste momento, nós temos apenas uma mobilização das pessoas que têm interesse em discutir a Ordem. Não há uma definição de chapas. Houve uma reunião há mais ou menos 15 dias, em que reunimos cem pessoas. Das pessoas convidadas, nós tivemos apenas cinco ausências, sendo que três foram justificadas. Agora, não há definição de chapa. A única definição que tenho é que não sou candidato. Eu não posso, não quero e não devo.
AR: Qual perfil deve ter o candidato à presidência da OAB?
Felicíssimo: Tem que ser um perfil desenvolvimentista, sem vinculações político-partidárias, que seja uma pessoa que tenha estímulo de progresso e que tenha experiência em gestão. A Ordem não pode ser uma oficina de aprendizado. Não pode ser um aprendiz de feiticeiro. A pessoa precisa ter habilidade, competência, qualificação.
AR: O advogado Flávio Buonaduce Borges declarou à imprensa que o nome dele está à disposição para a disputa. Seria um bom nome para a chapa OAB Forte?
Felicíssimo: Entendo que sim. Embora não queira limitar essa discussão ao nome dele. Há diversos outros nomes que estão passando pela análise, que estão se oferecendo, que aceitam a ideia... É preciso que a pessoa aceite ser dirigente da Ordem não como exposição, não para faturar com o fato de ter sido dirigente da Ordem. É preciso que a pessoa tenha alguma coisa a doar para a OAB. É preciso que haja uma qualificação intelectual.
AR: A Ordem não pode ser um trampolim para um projeto pessoal?
Felicíssimo: Não deve ser. É obrigatório que não seja. É indispensável, é necessário que não seja. A Ordem não deve ser o caminho para alguém progredir na vida. A Ordem deve ser uma instituição de colaboração. Quem vá assumir a Ordem deve estar disposto a prestar serviços à Ordem, e não a se utilizar dela, utilizar os serviços da Ordem em proveito próprio. Todas as pessoas que assim o fizerem fatalmente terão rejeição da categoria.
AR: O senhor defende a reeleição do atual presidente, Enil Henrique Filho?
Felicíssimo: Não. Não defendo a reeleição do atual presidente, até porque ele me disse, pessoalmente, que não quer ser candidato à reeleição. E não querendo ser candidato à reeleição, não sou eu que vou defender.
AR: Caso ele mude de ideia?
Felicíssimo: Caso ele mude de ideia, eu não o apoiarei.
AR: Ele disse ao jornal A Redação, na semana passada, que poderia ser, caso o grupo o escolhesse.
Felicíssimo: Ele me disse que não seria candidato, e não sendo candidato houve mobilização da categoria para sucedê-lo. Agora, não me parece razoável que ele queira. Até me parece difícil, porque na diretoria também o Julio Meirelles me disse que é candidato. Então, nós teríamos o presidente candidato à reeleição e o secretário-geral também candidato. Parece pouco razoável que a diretoria esteja tão dividida a ponto de ter dois candidatos à presidência.
AR: Julio Meirelles tem chance se ser presidente?
Felicíssimo: Eu não tenho compromisso com o Julio. Me abstenho de fazer análise, exatamente porque não tenho compromisso eleitoral com ele. É uma pessoa da minha relação de cordialidade, mas não da minha relação política.
AR: E Pedro Paulo de Medeiros?
Felicíssimo: É um bom candidato, mas não sei se Pedro Paulo está interessado em disputar a presidência da Ordem. Acredito que ele esteja mais interessado em ser titular do Conselho Federal da Ordem, que é um local onde ele tem prestado relevantes serviços à advocacia brasileira. É um conselheiro federal dos mais ativos, com qualificação intelectual muito positiva e saudável. Por isso eu defendo a manutenção do Pedro Paulo no Conselho Federal da Ordem, engrandecendo o nome da advocacia goiana.
AR: Há boatos de que a chapa OAB Forte pode seguir rachada nessa campanha. Existe essa possibilidade?
Felicíssimo: O Enil não foi eleito presidente na nossa gestão. Foi eleito tesoureiro. Depois, com a renúncia do Henrique (Tibúrcio), foi candidato contra o (Sebastião) Macalé, obteve êxito e chegou à presidência. De modo que eu não sei se a OAB Forte vai ter partilha, se vai partilhar, se vai dividir, se não vai dividir. O importante é que as pessoas estão se agrupando. Com esse título (OAB Forte) ou sem ele, alguém vai disputar a presidência da Ordem pelo grupo do qual faço parte.
AR: O senhor continua politicamente aliado ao ex-presidente Henrique Tibúrcio?
Felicíssimo: Nós disputamos a eleição juntos, fizemos parte do mesmo projeto. Só que ele fez uma opção partidária, política, que eu não fiz. Ele até deu uma resposta a mim, em certo momento, dizendo que eu também teria filiação partidária. Tive, é verdade, só que quando fui filiado a um partido eu não era presidente da Ordem. Então, não levei a instituição a isso. Entendo que quem está dirigindo uma instituição do porte da OAB não tem direito de, concomitantemente, no mesmo período de mandato, fazer filiação partidária.
AR: O senhor acredita que os últimos acontecimentos prejudicaram a OAB?
Felicíssimo: O estrago que está aí demonstra isso. O desconforto que todos os advogados estão vivendo demonstra isso. A Ordem passou a imagem de que está quebrada, o que não é verdade. A Ordem tem uma realidade financeira saudável positiva, não está quebrada, não há nada disso. Mas isso foi passado para a opinião pública. E a direção da instituição não está conseguindo demover essa impressão, embora tenha assessoria de comunicação. Eu entendo que a assessoria de comunicação da Ordem está falhando para desmontar essa má impressão passada à sociedade. A Ordem está saudável, está economicamente positiva. Na gestão política, partidarizar, para mim, foi um equívoco.
AR: E quanto à gestão do presidente Enil, como o senhor a avalia?
Felicíssimo: Enil está segurando o andor para terminar o mandato. Na verdade, não estou percebendo grande iniciativas, até porque ele tem um mandato pequeno. Ainda que queira e tenha boa vontade, ele não consegue ter grandes resultados, fazer grandes obras, embora esteja continuando as obras físicas. E isso é uma coisa que a Ordem tem o dever de fazer, tem o dever de instrumentalizar as subseções com sede própria, com salas de advogados, isso é um dever da Ordem.
AR: Vemos hoje disputa por candidatura dentro da diretoria e divergências envolvendo comissões temáticas. Alguma vez a OAB esteve tão dividida internamente?
Felicíssimo: A OAB era, quando eu a dirigi, as pessoas eram mais humildes. Os conselheiros eram mais unidos, assumiam a instituição como tarefa, não como vantagem. As pessoas, na medida em que são menos humildes, a desunião é mais frequente. Acho que a falta de humildade é que está provocando essa desunião, essa divisão, que entendo como totalmente prejudicial aos interesses da categoria, da advocacia.
AR: Como o senhor avalia a destituição da presidente da Comissão de Mediação, Conciliação e Arbitragem da OAB-GO, Carla Sahium?
Felicíssimo: Eu não faria isso. O que foi explicado é que teriam feito uma notificação para que não acontecessem novas operações de crédito. E isso foi entendido pela diretoria, ou pelo presidente, talvez, como uma provocação. Eu entendo que não foi provocação.
AR: O próximo presidente da Ordem deve sair de algum desses nomes, Flávio Buonaduce Borges ou Pedro Paulo Medeiros?
Felicíssimo: Se depender de mim, deve. Mas temos adversários.
AR: E como o senhor vê a movimentação dos adversários? Lúcio Flávio está agregando a oposição?
Felicíssimo: É um nome que conheço pouco. E, se conheço pouco, não tenho análise nem positiva nem negativa. Não posso fazer nenhum comentário sobre o que ele é ou deixa de ser. Então, me abstenho de fazer qualquer comentário sobre ele.
AR: Muitos nomes na disputa é um fator positivo ou negativo?
Felicíssimo: À medida que estejam todos com boa vontade de servir, e não de serem servidos, é ótima. Se quiserem ser servidos, é péssima.
AR: Uma possível composição entre Enil Filho e Leon Deniz seria surpresa?
Felicíssimo: Eu me reservo o direito de não comentar a oposição. Aliás, lá atrás, eu disse que adversário tinha uma grande utilidade: perder para a gente.
AR: O senhor tem sido visto como o grande coordenador dessa sucessão na OAB, ao lado do ex-presidente Miguel Cançado. O senhor assume esse papel de coordenação da escolha de nome do futuro presidente?
Felicíssimo: Eu não sou coordenador, eu sou um parceiro. Estou submetido às consequências desse vazio que se criou. Então, estou contribuindo com boa vontade, com a conclusão inarredável de que não sou, não posso e não devo ser candidato. Essa é a única exigência que faço. Não tenho interesse nenhum. Acredito que contribui com o que podia e recebi da Ordem o que ela poderia me dar.