Mônica Parreira
Goiânia - Inaugurada há pouco menos de um mês, a praça que os próprios moradores do Residencial Humaitá construíram foi depredada na madrugada de sábado (14/6). A cena era lamentável: bancos virados de cabeça para baixo, mudas de plantas arrancadas e placas decorativas destruídas.
O vandalismo é mais um obstáculo que os moradores da região enfrentam. Inconformada com a tentativa da Prefeitura de vender a área pública, a população local se mobilizou para transformar o terreno em um espaço de lazer.

O mutirão popular, realizado no dia 24 de maio, reuniu dezenas de pessoas e tornou realidade um sonho antigo.
Campo de futebol de terra batida, brinquedo para crianças, pista para caminhada e plantio de 100 mudas de espécies nativas e frutíferas.
A partir de então, o terreno se tornou a melhor opção de convivência dos moradores do Residencial Humaitá e de outros bairros vizinhos.
A engenheira agrônoma Ludmilla Luciano de Carvalho é uma das ativistas na construção da praça.
Em entrevista ao jornal
A Redação, ela disse que todos os materiais vieram de doação dos próprios moradores, que também são responsáveis pela manutenção do espaço. "É muito triste ver o fruto de todo nosso esforço ser destruído assim, em um ato de vandalismo", lamentou.
Dezenas de moradores fizeram mutirão para construir o parque (Fotos: divulgação)
"A vizinhança não ouviu barulho nenhum naquela madrugada. Foi tudo feito de forma sutil, eles destruíram nosso memorial de inauguração da praça. Estamos cismados e na dúvida se foram mesmo vândalos ou se foi uma ação direcionada. A prefeitura nunca concordou com a nossa iniciativa", completou a engenheira.
Entrave político
No dia 13 de maio, a Câmara dos Vereadores aprovou o projeto de desafetação de 18 Áreas Públicas Municipais (APMs) - entre elas está o espaço onde atualmente funciona o parque construído por moradores do Residencial Humaitá. Com 19 votos a favor e 11 contra, o projeto seguiu para sanção de Paulo Garcia (PT).

No início deste mês, a Justiça suspendeu liminarmente a lei complementar nº 259/2014, que autoriza a venda das áreas públicas.
De acordo com Ludmilla Carvalho, a esperança dos moradores é aproveitar a oportunidade para tentar fazer com que a Prefeitura desista de vender o território onde está o Parque Humaitá, como ficou popularmente conhecido.
"Moro lá há dez anos, e é antiga a discussão de se aproveitar o espaço para construção de Cmeis e postos de saúde", disse. "O problema é que nunca saiu do papel. Não bastasse isso, agora querem vender o terreno. Então nossa iniciativa foi fixar faixas protestando contra a ideia da prefeitura", comentou.
Faixas com os dizeres "Esta área não está à venda" e "Existe muita criança na fila de espera por uma vaga no Cmei" também foram destruídas no ato de vandalismo denunciada pelos moradores. No sábado (21), um novo mutirão vai acontecer para restaurar todos os danos causados. "A luta continua. Esta área não está à venda, e vamos continuar zelando desse espaço", concluiu a engenheira.
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Resposta
Em nota, a Prefeitura de Goiânia explicou o motivo da desafetação das 18 APMs que, segundo ela, foi proposta com a aprovação do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Ainda de acordo com o comunicado, o recurso financeiro proveniente da desafetação vai resultar em diversas obras públicas, como construção de um hospital e viadutos, implantação do Parque do Cerrado, entre outros.
Sobre o Residencial Humaitá, "os moradores decidiram, por conta própria, construir uma praça. A Prefeitura de Goiânia explica que não há necessidade dessa atitude, uma vez que, somente no bairro há outras oito áreas públicas, além da que está sendo desafetada", explicou a nota.
"Outros benefícios estão previstos para essas APMs, como é o caso das áreas já existentes das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) para implantação dos seguintes parques: Parque Municipal Urias Alves Tavares I, Parque Municipal Urias Alves Tavares II e o Parque Municipal Ione Martins do Carmo, que são cortados pelo Ribeirão Caveirinha", completou.