Adriana Marinelli
Goiânia - Pensando em restabelecer a saúde física, mental e social do reeducando dependente químico, foi criado em 2006 pela Agência Goiana de Sistema de Execução Penal (Agsep) o Projeto Renascer. Conforme consta no relatório do projeto, o uso de drogas nas Unidades Prisionais de Goiás tem constituído um dos fatores mais graves no processo de ressocialização, especialmente nos presídios que se encontram superlotados, como é o caso da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO). Com capacidade para 720 detentos, a unidade abriga atualmente mais de 1.300.
O Renascer se fundamenta na ideia de impactar positivamente a rotina do reeducando, por meio de um trabalho que visa solidificar novos valores, de interiorização de limites e entendimento da vida em sociedade, além dos aspectos psicológicos para, a partir daí, promover o retorno à vida em sociedade e reduzir a possibilidade da prática de novos crimes relacionados ao uso de drogas.
Um dos responsáveis pelo Renascer, Roberto Célio, o Xexéu, explica que o projeto deve ser ampliado nos próximos dias e englobar mais reeducandos. "É a intensificação de uma força-tarefa para livrar o reeducando de uma vez por todas do vício. Independente do tipo de crime, todos que vão para o Renascer têm envolvimento com drogas", pontua o coordenador de ações culturais da POG.
Com equipe ainda reduzida, o projeto receberá reforço em breve. É o que garante a direção da Agsep. Está prevista a contratação de assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos, odontólogos e terapeutas ocupacionais. "Queremos que o trabalho seja completo e que alcance cada vez mais resultados positivos", acrescenta Xexéu.
Ainda segundo a Agsep, o reeducando é inserido no Renascer por meio de procura espontânea, mandatos judiciais, solicitação de familiares ou encaminhamento de profissionais de saúde e segurança. Depois, é realizada uma triagem da supervisão de segurança e, caso o reeducando seja aprovado, será encaminhado para uma entrevista com profissional da equipe para avaliação.
Entre os critérios de admissão no projeto, está o desejo do preso de se recuperar e se livrar definitivamente das drogas. O convívio com os demais internos e o estado de saúde física e mental também são avaliados.
Renascendo com a Arte
Além de atividades esportivas e outras ocupações terapêuticas, o Renascer trabalha o talento que os reeducandos têm para a Arte. Buscando maior interação dos presos e com o objetivo de envolvê-los com ações positivas, um trabalho cultural passou a ser desenvolvido recentemente e já resultou na recuperação de alguns reeducandos.
Trabalhos como peças teatrais e de interpretação de texto fazem parte da rotina de quem se integrou ao Renascer. "É impressionante como eles se interessam por esse tipo de iniciativa. Formamos um coral e eles já se apresentaram algumas vezes para outros detentos", comenta Xexéu.
Preso há 12 anos no complexo, Joaquim Antônio Baltazar, de 41 anos, é um dos reeducandos que conseguiram se livrar totalmente das drogas graças ao trabalho do Renascer. Ele é membro do coral formado pelo projeto e agora, sem o vício, trabalha com serigrafia em um dos galpões industriais.
"Às vezes nem parece que estamos presos. Esse trabalho é uma confiança que eles dão para gente", afirma. "O Renascer ajuda a nos deixar limpos. Sem dúvida, o projeto foi fundamental para que eu me livrasse das drogas. Ele nos prepara para o mundo lá fora."
Emocionado, Joaquim conversou com a reportagem do A Redação. "Entramos aqui sendo bandidos e eles querem que a gente deixe o complexo como cidadãos de bem. Para dizer a verdade eu tenho nove meses de vida", finaliza, ressaltando que é esse o tempo que está totalmente livre de substâncias ilícitas.
Joaquim conseguiu se livrar das drogas graças ao Projeto Renascer (Foto: Randes Nunes)
Tecendo liberdade
Inaugurado em 2012 na área de indústrias do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da Capital, um galpão de tecelagem de 600 m² segue com trabalho contínuo. Trabalhando nos 50 teares espalhados pelo espaço, os reeducandos enxergam na atividade uma chance de gastarem o tempo ocioso para se profissionalizarem.
É assim com Hebert Bezerra Tavares, de 23 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas. Preso há quase dois anos, ele passou a fazer parte recentemente do projeto Tecendo Liberdade, que acolheu inicialmente 36 reeducandos. A ideia da Agência Goiana do Sistema Penal (Agsep) é atender, no total, 200 sentenciados.
"Vejo esse trabalho que realizamos na tecelagem como uma Arte. Me sinto um verdadeiro tecelão graças à qualificação e a tudo que aprendi. É ótimo ver o orgulho dos familiares quando eles chegam aqui e têm a certeza de que estamos trabalhando", conta o jovem, lembrando da esposa e da filha de apenas um ano que o aguardam do lado de fora.
"Independente do crime cometido, todos que se interessam e estão tendo a oportunidade de trabalhar aqui hoje têm uma chance a mais de esquecer de coisas ilegais e pensar em outra coisa."
Hebert mostra orgulhoso o resultado do trabalho (Fotos: Randes Nunes)
O Tecendo Liberdade, segundo a Agsep, atende detentos em regime de trabalho cooperativista, no qual a renda obtida com venda dos produtos é dividida entre os cooperados. Com o trabalho, eles ainda garantem redução da pena.
"Infelizmente ainda não temos um local específico para vender os produtos, que são lindos", lamenta Xexéu. "É um trabalho que tem que ser reconhecido. Isso que eles fazem aqui é uma obra de arte", completa.