João Unes
Kiev, Ucrânia - O jornalismo digital é a modalidade que mais cresce em todo o mundo em número de leitores e em faturamento publicitário. Em alguns países, como Noruega, Estados Unidos, Taiwan e Hong Kong, a publicidade digital supera os meios tradicionais em termos de receita. Estes são alguns dos dados da recém-concluída edição 2012 da pesquisa World Press Trends (Tendências Mundias da Imprensa), revelada nesta segunda-feira em Kiev.
A World Press Trends é a mais completa pesquisa global sobre tendências em jornais, compreendendo a realidade da imprensa de150 países de cinco continentes, e patrocinado pela Associação Mundial de Jornais. O robusto levantamento é feito desde 1998 e a edição 2012 foi apresentada com exclusividade para os participantes do 64º Congresso Mundial de Jornais e do 19º Fórum Mundial de Editores, que este ano acontece na capital da Ucrânia.
Um dos fatos que mais chamou a atenção dos editores e dirigentes de jornais foi o fato de que em quatro países (Reino Unido, Noruega, Suécia e Dinamarca), a publicidade digital superou a TV e os jornais de papel. Estes países estão entre os que têm maior índice de leitura de jornais em suas populações.
Outro ponto que merece destaque foi a consolidação da revolução digital nos Estados Unidos, Canadá, Noruega e Japão, países onde a proporção de receita digital é mais alta que a média mundial.
“A pesquisa mostra que 40% das pessoas que estão na internet pelo mundo lêem pelo menos um jornal on line, o que significa um aumento de 34% em apenas um ano “, explicou Larry Kilman, diretor executivo da Associação Mundial de Jornais (WAN-IFRA), durante a apresentação da World Press Trends.
O jornal A Redação é o único veículo 100% digital brasileiro que participa dos debates em Kiev, a convite da Associação Mundial de Jornais. “O jornal A Redação é um veículo que reflete a tendência mundial de digitalização dos meios de comuicação”, avalia José Maria Moreno, um dos diretores da WAN-Ifra, organizadora do evento.
O brasileiro Carlos Fernando Lindenberg Neto, CEO da Rede Gazeta, do Espírito Santo, subiu ao palco para falar sobre o crescimento dos jornais na América Latina e destacou pontos positivos para a indústria de jornais no Brasil: “O surgimento de novas publicações, o crescimento do investimento publicitário e da receita dos jornais.“
Protestos na abertura
Além de debater as tendências globais da indústria jornalística, o Congresso Mundial de Jornais e o Fórum Mundial de Editores são marcados pela defesa da liberdade de imprensa. Por isso, houve controvérsia quanto à realização do evento este ano na Ucrânia, país criticado por organizações internacionais principalmente pelo encarceramento da ex-presidente Yulia Timschenko.
Na abertura do evento, realizada no Palácio Outubro, o presidente da WAN-IFRA, Jacob Mathew, (foto) explicou que a realização do evento na Ucrânia foi uma forma de expressar solidariedade com a imprensa local. “Alguns defenderam o boicote, mas nós decidimos pelo caminho oposto, vamos ficar em Kiev, compreender a situação”, disse.
Em seguida, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich deu boas vindas aos participantes, assinou um termo de compromisso pela liberdade de imprensa e prometeu eleições democráticas em outubro. Seu discurso foi alvo de um silencioso protesto, feito por cerca de 15 manifestantes na plateia segurando cartazes pedindo o fim da censura.
Na avenida principal de Kiev, manifestantes pediram a liberdade da ex-líder ucraniana Yulia Timshenko, presa há mais de um ano.