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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

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Toda a tristeza da “Incompreendida” Aria

| 23.02.17 - 09:42 Toda a tristeza da “Incompreendida” Aria (Foto: divulgação)
 
Goiânia - Incompreendida (2014), dirigido por Asia Argento, filha do mestre do giallo e do terror italiano Dario Argento, promove logo em seu terceiro longa um resgate louvável do melodrama por excelência, sobretudo, da obra-prima Quando o Amor é Cruel (1966), cujo título original é Incompreso. A semelhança é notada desde o nome original de ambas as películas, visto que o de Asia é Incompresa, praticamente igual ao de Comencini. As semelhanças não cessam por aí, a filha do grande Argento, ao contrário do pai, demonstra toda a sensibilidade peculiar de Comencini, e confecciona um drama sóbrio, duro, visceral e amargo. O longa faz parte da programação da décima edição da mostra O Amor, a Morte e as Paixões.
 
O enredo descreve uma família disfuncional em que a comunicação entre seus entes parece inexistir. Aria (magistralmente interpretada por Giulia Salerno) é a filha caçula de um casal à beira de um ataque de nervos que acaba por se divorciar. A mãe, Yvonne Casella (Charlotte Gainsbourg), é uma pianista que a despreza e só dá atenção a sua filha do meio e aos seus amantes. O pai, Guido Bernadotte (Gabriel Garko), é um ator reconhecido de filmes b despudorado. É um ser absolutamente desprezível e sua truculência surge de modo avassalador. Ele despende tempo e atenção à sua filha mais velha, de 15 anos, e, como sua esposa, às suas amantes.
 
O ponto de contato entre o clássico de Comencini e o recente de Asia concerne no entroncamento entre relações familiares. A dificuldade em lidar com os sentimentos mais íntimos, a vontade de se encontrar no mundo, de ser amado e de encontrar no seio familiar um esteio para contrapor um tempo de incertezas do qual, não somente na década de 80, época em que o filme é ambientado, mas também nestes tempos atuais carregados por uma interrogação gritante. 
 
A desesperança é a tônica do longa de Asia e demonstra uma incapacidade de se estabelecer uma sólida relação entre uma família em cacos, totalmente despedaçada por comportamentos invulgares e fundamentalmente egoístas dos adultos, tal como na obra-prima de Maurice Pialat - Aos Nossos Amores (1983) -, em que a personagem vivida por uma Sandrine Bonnaire, monumental em cada cena, clama por entendimento, compreensão e amor. Os problemas familiares são semelhantes em qualquer lugar e deixam cicatrizes emocionais cravadas como tatuagem.
 
A complexa e difícil transição entre a infância e a adolescência desenvolvida de modo competente por meio de um drama seco, duríssimo, um soco no estômago que não promove soluções fáceis, e nem pretende serenar a dor que deriva de uma personagem relegada, esquecida, jogada a Deus-dará, em que não há alternativa, não há amor, e sim uma família cujos pais estão preocupados com seus próprios umbigos, trancafiados em seus vícios estúpidos e se esquecendo de que, do outro lado, há uma criança que precisa ser amada. 
 
 
Confira os dias e horários de exibição do filme na mostra O Amor, a Morte e as Paixões, em Goiânia:
 
- 28/02 - 17h50
- 01/03 - 23h

 
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Comentários

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  • 02.03.2017 09:00 Tamiel khan

    O texto nos leva a experimenta um pouco da agonia seca e árida do enredo. Ótima crítica, muito bem escrita.

  • 24.02.2017 16:17 FLAVIA BOSSO

    As referencias colocadas com maestria são precisas, e o jeito que você escreveu nos faz vivenciar as cenas e nos faz sentir as angústias do filme de tão bem escrito. Nos desperta a vontade de assistir a todos os filmes da mostra de tão bem escrito . Parabéns, Declieux Crispim!

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