Goiânia – O senso comum e o machismo nosso de cada dia nos trouxeram de bandeja nessa semana uma nova vítima para jogarmos na fogueira: a tal babá que poderia ter sido pivô da separação entre a escultura viva Gisele Bündchen e o deus grego Tom Brady.
Para começar, é absurda a fonte do boato. O fato em si não prova nada, mas nem por isso os tabloides sensacionalistas do mundo inteiro se lembraram que ética é um dos pilares do jornalismo.
Hoje, ao ler os jornais, vi que a imprensa marrom já tenta se esquivar de possível barriga que pode ter dado e começa a sugerir que Gisele poderia ter estado no mesmo avião em que Christine Ouzounian posou para foto usando os anéis do jogador de futebol, recebidos pela vitória do seu time no Super Bowl. Outras pessoas no vôo parecem que também fizeram registros fotográficos com os pertences de Brady. Ou seja, pode ser que se confirme que tudo não passou de fofoquinha.
Em segundo lugar, mesmo que fosse verdade a traição do marido de Gisele com a babá, por que raios de motivos isso estampa manchetes na imprensa? O que é que todo mundo tem a ver com a vida alheia de quem quer que seja? Nada. Um problema pessoal entre um casal e uma terceira pessoa não interessa a mais ninguém do que ao casal e à terceira pessoa.
Por fim, e o mais grave, remeter culpa à babá é machismo. Dizer que Gisele foi “corajosa” por contratar uma funcionária bonita para trabalhar em sua própria casa é machismo. Insinuar que a garota seduziu o marido da modelo é machismo. Acusá-la de ser pivô de separação é machismo.
Quando um não quer, dois não se beijam, não transam, não traem. Quando um não quer, dois não mantêm um relacionamento. Se alguém merece ser julgado pelos dogmas cristãos da monogamia, são Christine Ouzounian e Tom Brady. E julgados por Gisele e pelo companheiro da babá, se houver. Por mais ninguém.
Precisamos parar de dar pitaco no que não é da nossa conta. Precisamos parar de ser fiscais da vida alheia. Precisamos nos policiar para não fazer piadinhas perto dos amigos sobre casos como este, porque isso também é machismo, um preconceito velado e disfarçado pelo humor.
Como diria minha avó, falta a muita gente nesse mundo uma trouxa de roupa suja para lavar. Ou um caminhão de brita para descarregar. Falta também um pouco menos de hipocrisia para quem gosta de apontar defeitos nos outros. Não custa nada olhar para o próprio umbigo de vez em quando e fazer uma listinha das próprias falhas. Afinal, como bem diz o ditado popular, todo mundo tem telhado de vidro. Nem que seja no puxadinho da casa.