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Sarah Mohn
Sarah Mohn

É jornalista graduada pela UFG e especialista em Comunicação Empresarial e Publicidade Estratégica. Nesta coluna, escreve artigos de opinião / sarahmohn@gmail.com

Meias Verdades

Elogio, sim. Cantada, não!

A solução é criatividade | 16.04.15 - 20:12 Elogio, sim. Cantada, não! (Foto: Reprodução/Facebook)
Sarah Mohn

Goiânia – Pouca coisa nessa vida é mais irritante do que receber cantadas na rua. “Vai, gostosa”, “boa tarde, deusa”, “essa é gatinha demais”, quando pegam leve conosco. Quando não, somos alvo de baixarias comumentemente verbalizadas em comparativos com suínos e equinos – potrancas, cachorronas e afins. E assim por diante, até o fim da linha, que fica bem próxima à audição daquele característico chiado de ar sendo sugado por entre os dentes e prensado pelo maxilar, numa versão piorada de assovio. Esse tira qualquer uma do sério.

Não há mulher que suporte andar por aí e perceber que seu corpo serve de alimento a esfomeados olhos alheios. Aliás, deve existir, mas não conheço ser humano do sexo feminino que goste de passar por isso. A meu ver, esse tipo de atitude é muito mais desconcertante do que propositiva. Provoca muito mais repulsa do que atração. Então, por que é que boa parte dos homens insiste em se comportar como animal irracional no cio diante de uma mulher visualmente interessante?

Tenho duas suposições. A primeira explicaria o famoso “vai que cola?”. O cara que é capaz de proferir cantadas indiscriminadamente é adepto da teoria de que o "não" ele já tem. Se conseguir o "sim", será lucro. Duvido muito que essa espécie humana já tenha obtido sucesso utilizando-se dessa bela estratégia de autoengano.

Minha segunda sugestão remete a uma característica sociocultural. Questiono se homens afeitos a esse tipo de prática não se sentem vangloriados ao tentar rebaixar mulheres à categoria de objetivo sexual merecedor de maus dizeres. Agridem-nas publicamente sob falsos elogios, certos de que não serão retrucados e conquistarão deferência de outros machos. Necessidade de afirmação de sua masculinidade.

É ruim enfrentar essa realidade. Eu confesso que não sei como lidar com isso e, muitas vezes, me pego possessa de raiva, desejando que uma bomba repentina surja em cima do cidadão que me agride. Afora o pensamento vingativo, o máximo que consigo fazer é ignorar. Finjo não ver e ouvir, porque tenho medo desse tipo de homem. Penso que quem é capaz de atacar verbalmente não mede esforços para partir às vias de fato, caso assim deseje. Por isso, fico na minha. Engolindo meu ódio, não enfrento.

Mas admiro mulheres corajosas, como a estudante mineira Débora Adorno, de 22 anos, que genialmente traçou uma estratégia para se livrar das investidas masculinas. “Estava perto da rodoviária (em Belo Horizonte), e quem conhece a região sabe que lá os passeios e ruas ficam lotados de vendedores ambulantes. Uma das ruas estava bem cheia e fui obrigada a andar mais devagar. As cantadas começaram de forma agressiva e eu me senti presa, impotente e quase sufocada mesmo. Um cara veio na minha direção me encarando. Antes de ele falar alguma coisa eu soltei logo a careta do dentinho. Ele achou tão estranho que passou reto”, explicou Débora em entrevista ao portal G1.

A técnica consiste em encolher o lábio superior e deixar dentes e gengivas à mostra. Aqui em Goiás, já vi essa expressão física ser chamada de “sorriso de cavalo”. Não importa o nome. O interessante é constatar que o negócio deu certo. De acordo com a estudante, diante da careta, os homens ficam sem reação e não proferem palavras desrespeitosas. “Depois disso, choveu um arco-íris dentro de mim, porque de uma hora pra outra não era mais eu quem estava desconfortável. De uma hora pra outra não era mais eu quem estava desviando o olhar, não era mais eu quem estava apertando o passo”, disse à reportagem do G1.

Sensacional. O desconforto ocupou seu devido lugar: na mente de quem o provocou. Débora merece ser parabenizada pela audácia e pela sacada e nós devemos seguir o exemplo de coragem. Acho que a solução é criatividade para lidar com esse tipo de situação. Se reagirmos com bom humor, ou sarcasmo, que seja, mas sem responder na mesma moeda da violência verbal, quem sabe um dia poderemos alterar o comportamento masculino e fazer os homens entenderem que a melhor cantada que podem nos oferecer é o respeito? Não custa tentar. E a perspicácia pode nos abastecer com boas risadas.

Comentários

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  • 22.04.2015 16:50 João Paulo Silveira

    Sarah, infelizmente você vive num país onde a maioria esmagadora não possui a mínima educação necessária ao convívio social. O brasileiro é um povo quase que acéfalo. Você faz bem em ignorar. Claro que nos dias de hoje, com as mulheres cada vez mais lindas, é quase impossível passar um dia sem tecer um elogio, mas como você bem frisou..ELOGIO, além do que, ao menos no meu convívio, se eu for elogiar toda mulher gatíssima que passa do meu lado não vai sobrar tempo pra mais nada. Abraço. Ótimo texto.

  • 21.04.2015 15:40 Juliana Rocha

    com certeza a mineira é amiga da estagiária que escreveu a matéria, só isso explica!!! Virou até marca registrada, só no Brasil mesmo. E o cara que da uma cantada desrespeitosa, vê-la fazendo esse tipo de careta, vai achar que ela tem sérios problemas mentais, e não que seja uma tática de defesa.Não sou contra as mulheres se defenderem, tem todo esse direito, mas tem umas coisas tão bobas que da vergonha de ver!!!

  • 18.04.2015 02:26 Kadu Albuquerque

    Ok meninas...agora vamos analisar isto de uma perspectiva masculina então...É o seguinte...eu penso que esse modo de abordar uma mulher na rua,está totalmente ultrapassado,obsoleto,é arcaico,eu sou Homem e acho constrangedor.Existem tantas outras formas de se aproximar de uma bela mulher,também não estou dizendo com isso, que os Homens não podem,nem devem observar uma bela mulher na rua,o problema é como isso transparece,acho que precisa ser de um modo sutil,sem os "olhos famintos",com respeito sim,porém sem deixar de lado o interesse,mesmo que comedido...é isso.

  • 17.04.2015 19:35 Thaís

    Eu apenas me recuso a acreditar que é mesmo uma mulher quem vem dizer coisas do tipo "feminista fica sozinha". Quero acreditar que não seja porque, se for, é alguém que não entende sequer de amor próprio, que dirá de respeito ao outro. Sarah, você disse tudo! Vontade de vomitar diante desses coitados.

  • 17.04.2015 13:15 Campos

    Achei o texto muito bom! acho que a situação dessa garota "cara de cavalo" se equivaleria a um homem hétero, com a mesma proporção de beleza, jogado no meio de uma parada gay...

  • 17.04.2015 10:24 Maira

    As feministas de tanto ódio de homem acabam todas sozinhas e tendo como companheiro o grande e sonhado Rivotril. Feminismo está transformando as mulheres em machos mal acabados.Vergonha é escrever sobre uma idiota que faz uma careta e vocês acham que trata-se de um ato relevante.

  • 17.04.2015 10:08 Nathalya Otzi

    Não conheço uma mulher que goste de cantada na rua também.. O alto teor sexual que esses comentários carregam constrangem, dão medo, exatamente como disse: "Penso que quem é capaz de atacar verbalmente não mede esforços para partir às vias de fato, caso assim deseje". Falta muita informação para as pessoas sobre o que é o feminismo, a importância histórica da luta das mulheres por direitos...VERGONHA ALHEIA! Parabéns pela coluna, toda vez o assunto é bacana! Pena que alguns leitores se ocupem da crítica vazia, ao invés de buscar conhecimento sobre o tema e uma troca de ideias produtiva..

  • 17.04.2015 10:04 Edilaine Pazini

    Como sempre: ótimo texto, Sarah! Gosto da forma como você se pauta. Sempre antenada em pesquisas e assuntos atuais, expondo sua opinião de forma sincera e muito bem elaborada. Parabéns! :)

  • 16.04.2015 23:13 Taveira

    Tava indo bem, depois ficou se achando e saiu da pista no desfecho.

  • 16.04.2015 21:39 Maira

    O feminismo acabando com tudo. Uma idiotice dessa de fazer careta e vira "genial" na boca dos jornalistas. Quanta bobagem! Mulher antigamente recebia cantada e ficava até feliz por saber que seus atributos eram percebidos. Hoje fica enfurecida. Com raiva de homem. Quando tudo vira veado elas reclamam, enchendo a cara nos botecos. E resmungando que nunca encontram ninguém.

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É jornalista graduada pela UFG e especialista em Comunicação Empresarial e Publicidade Estratégica. Nesta coluna, escreve artigos de opinião / sarahmohn@gmail.com

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