Samuel Straioto
Goiânia - As pesquisas eleitorais têm um papel decisivo no comportamento dos eleitores em Goiânia, influenciando tanto a percepção sobre os candidatos quanto o fenômeno do voto útil. À medida que os resultados são divulgados, muitos eleitores ajustam suas escolhas, preferindo apoiar candidatos com mais chances de vitória, em vez de manter sua opção inicial. Esse movimento estratégico, mais frequente nas fases finais das campanhas, pode ser determinante em disputas acirradas, como as projetadas para 2024.
Para muitos eleitores goianienses, as pesquisas eleitorais são uma importante fonte de informação, principalmente para aqueles indecisos ou que ainda não se identificaram fortemente com um candidato. O acompanhamento regular dos números, divulgados por institutos de pesquisa reconhecidos, pode reforçar a percepção de viabilidade de um candidato específico e, por consequência, estimular o voto útil — aquele direcionado ao candidato que o eleitor acredita ter maiores chances de vitória.
O eleitorado de Goiânia, tradicionalmente dinâmico, tende a modificar suas preferências ao longo da campanha. Nesse cenário, as pesquisas atuam como um termômetro da opinião pública, permitindo ao eleitor monitorar o desempenho dos candidatos e ajustar suas escolhas. No entanto, cientistas políticos alertam que, embora as pesquisas ofereçam um panorama relevante, elas são apenas uma "fotografia do momento", não refletindo necessariamente o resultado final das eleições.
O cientista político Carlos Mendonça destaca que "as pesquisas eleitorais podem ter um efeito psicológico no eleitor. Muitos tendem a votar no candidato que aparece melhor posicionado nas pesquisas, movidos pelo desejo de participar da vitória. Contudo, também existe uma parcela de eleitores que vê as pesquisas com ceticismo, preferindo seguir suas convicções independentemente dos números."
Pesquisas refletem intenções de voto?
A metodologia das pesquisas eleitorais segue parâmetros rigorosos para garantir a maior representatividade possível das intenções de voto. No entanto, diversos fatores podem influenciar a precisão desses levantamentos. O tamanho da amostra, a forma como as perguntas são feitas e até mesmo o período de realização da pesquisa podem impactar os resultados.
Em Goiânia, onde os desafios locais e as prioridades dos eleitores variam de bairro para bairro, as pesquisas precisam capturar essa diversidade de maneira adequada. Além disso, o fenômeno das "intenções escondidas" – quando o eleitor não revela sua real intenção de voto por medo de retaliação ou desconforto – pode gerar discrepâncias entre os resultados das pesquisas e a realidade das urnas.
Embora as pesquisas forneçam uma boa visão geral, especialmente em termos de tendências, é comum que as intenções de voto mudem ao longo da campanha, à medida que novos fatores, como debates, escândalos ou propostas mais claras, surgem no cenário político.
Como os candidatos ajustam suas campanhas com base nas pesquisas?
Além de informar os eleitores, as pesquisas também desempenham um papel crucial na condução das campanhas. Os candidatos a prefeito de Goiânia têm utilizado esses levantamentos para calibrar suas estratégias, tanto no conteúdo das propostas quanto na alocação de recursos. Quando um candidato percebe que está em ascensão, ele pode reforçar sua presença em áreas onde já possui maior apoio, consolidando sua base. Por outro lado, candidatos que aparecem com baixos índices nas pesquisas podem redefinir seus focos, concentrando esforços em regiões ou segmentos de eleitores onde ainda há potencial de crescimento.
A campanha de Rogério Cruz (Solidariedade), por exemplo, tem utilizado os dados das pesquisas para intensificar ações em áreas onde o prefeito já possui maior aprovação, consolidando-se como o candidato da continuidade. Nos bastidores, integrantes da chapa indicam que "monitorar as pesquisas nos ajuda a identificar onde estamos bem posicionados e onde precisamos redobrar esforços. Isso garante que a mensagem do candidato chegue de maneira eficaz a todos os eleitores."
Fred Rodrigues (PL), ao perceber a ascensão de adversários nas pesquisas, revisou parte de sua estratégia, mudando o foco de sua campanha para temas de saúde e segurança pública, questões prioritárias para o eleitorado de Goiânia. A reportagem do jornal A Redação ouviu nos bastidores que "as pesquisas mostram onde estão as preocupações dos eleitores. Isso nos permite adaptar as propostas e direcionar o discurso para os temas que mais afetam a população."
Sandro Mabel (União Brasil) e Adriana Accorsi (PT) também têm ajustado suas campanhas com base nas pesquisas. Nos bastidores, integrantes das chapas afirmam que as pesquisas têm revelado a necessidade de reforçar a mensagem de propostas concretas e de contato mais próximo com os eleitores. A equipe de Mabel ressaltou que "entender o cenário das pesquisas nos ajuda a focar em ações que dialoguem com o que a população realmente espera."
Matheus Ribeiro (PSDB) também tem utilizado os dados das pesquisas para refinar suas abordagens. Nos bastidores, foi comentado que "adaptar as campanhas de acordo com as pesquisas é essencial para garantir que o candidato se conecte com as expectativas dos eleitores e maximize suas chances de sucesso nas urnas."
Candidatos que enfrentam dificuldades nas pesquisas, como Professor Pantaleão (UP), optam por adotar um tom mais crítico, direcionado principalmente aos líderes nas intenções de voto. Pantaleão tem intensificado suas críticas às gestões anteriores, buscando se posicionar como uma alternativa às políticas tradicionais.
O efeito das pesquisas no comportamento dos candidatos
Para os candidatos, os dados das pesquisas servem como uma bússola para ajustar estratégias e direcionar esforços, enquanto para os eleitores, elas oferecem um retrato momentâneo do cenário político. No entanto, é preciso cautela: as pesquisas são apenas um reflexo de intenções temporárias, e o verdadeiro resultado só será conhecido nas urnas.
As pesquisas eleitorais não afetam apenas o eleitor, mas também o comportamento dos próprios candidatos. “Candidatos que aparecem bem nas pesquisas podem se sentir mais confiantes para adotar um discurso moderado e de continuidade, enquanto aqueles que estão atrás na corrida eleitoral tendem a adotar uma postura mais agressiva, buscando atrair atenção e recuperar terreno”, avalia Mendonça.
A cautela necessária com os números
Apesar da importância das pesquisas eleitorais, é fundamental que tanto os eleitores quanto os candidatos as encarem com cautela. Um erro comum é tratar os números como definitivos, ignorando o fato de que as campanhas são dinâmicas e que a opinião pública pode mudar rapidamente. Eventos inesperados, como debates, denúncias ou mesmo erros estratégicos, podem reconfigurar o cenário eleitoral em poucas semanas.
Para o cientista político Carlos Mendonça, “as pesquisas são uma ferramenta valiosa, mas não devem ser vistas como uma previsão infalível. O comportamento do eleitor pode mudar até o último momento, especialmente em eleições acirradas como as de Goiânia.” Ele também ressalta que a maneira como as pesquisas são divulgadas e interpretadas pode criar uma narrativa que favorece ou prejudica determinados candidatos, influenciando o voto de maneira indireta.
O voto útil e o impacto das pesquisas
Um fenômeno amplamente observado nas eleições brasileiras é o voto útil, quando o eleitor decide votar em um candidato que acredita ter maiores chances de vencer, em vez de seguir sua primeira escolha. As pesquisas eleitorais são fundamentais para a formação desse comportamento, uma vez que os eleitores acompanham os resultados para identificar os candidatos com maior viabilidade eleitoral.
Em Goiânia, as pesquisas também moldam o voto útil, especialmente nas fases finais da campanha. Eleitores que inicialmente apoiavam candidatos com pouca expressão nas pesquisas podem migrar para candidatos mais bem posicionados para evitar que o adversário preferido não tenha chances reais de vencer. Essa dinâmica pode ser decisiva em uma eleição acirrada, como é esperado em 2024.
O professor em Direito Eleitoral, Alexandre Azevedo, explica que esse comportamento é frequentemente utilizado por candidatos mais bem colocados nas pesquisas para atrair votos de eleitores indecisos ou que apoiam concorrentes com menos chances. Segundo ele, "o candidato que está à frente ou em uma posição de destaque tenta convencer eleitores de outros candidatos a transferirem seus votos, com o argumento de que ‘se você não votar em mim, quem será eleito é o fulano de tal’. Esse discurso do voto útil funciona até certo ponto, e vimos isso nas eleições presidenciais passadas."
Azevedo também destaca a importância do voto útil em cidades como Goiânia, onde há uma forte tendência de realização de segundo turno. "Aqui em Goiânia, temos candidaturas com percentuais significativos, e o voto útil se aplica muito bem nesse contexto. No entanto, é uma questão de estratégia política dos candidatos, que precisam se apresentar como a melhor opção viável para o eleitor."
A influência das pesquisas, portanto, não apenas informa a intenção de voto, mas também direciona os eleitores que estão inclinados a votar de forma estratégica, optando pelo candidato que consideram mais capaz de vencer, mesmo que não seja sua primeira escolha. Essa prática pode alterar significativamente o rumo de uma eleição, principalmente quando há a possibilidade de segundo turno, como frequentemente ocorre.
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