Carla Lacerda
Goiânia - Um espaço de 56 metros quadrados, com tons neutros, brinquedos expostos na parte inferior de uma estante moderna e uma parede com a frase “Na profundeza do olhar, nota-se o brilho do azul”. Até o mais desavisado apreciador de ambientes da Casa Cor Goiás 2021 deve ter dado uma paradinha quando entrou no Quarto Be Blue, projetado pela arquiteta Fernanda Gemus. Os mais curiosos ou detalhistas - que perceberam uma meia com estampa de quebra-cabeça* colorido deixada sobre um puff e também um livro escrito pelo apresentador, agora global, Marcos Mion** - certamente lançaram a pergunta: “Tem algum significado especial?” Ao que Fernanda respondeu:
“Tem sim. É um quarto pensado para um menino com autismo. Conversei com uma psicóloga (Leana Bernardes) e uma terapeuta ocupacional (Rejane Damaceno) para desenvolver o projeto”, conta Fernanda, cujo sobrinho foi diagnosticado dentro do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) durante a pandemia.
Pois foi ele, o pequeno Rafael Batista Gemus, de apenas 3 anos, que deu a inspiração que se mostrou capaz de tirar a palavra inclusão do dicionário: pela primeira vez em 20 anos, a maior mostra de arquitetura, paisagismo e design de interiores de Goiás traz um ambiente planejado para uma criança com autismo.
Rafael Batista Gemus: inspiração para o quarto Be Blue (Arquivo Pessoal)
“A proposta era evitar excesso de estímulo visual e criar um clima de aconchego. A iluminação é de céu estrelado para ter a dimerização; o espaço de estudar é dentro de uma casinha; tem o balanço; e o tapete que mistura com a textura do porcelanato”, detalha Fernanda.
O projeto da arquiteta é, na verdade, um quarto conjugado da criança com o dos pais, que têm sua privacidade garantida por uma porta de correr, mas que, ao mesmo tempo, almejam a tranquilidade de estar bem próximo ao filho.
E até a cor azul na parede onde está escrita a frase tem um motivo: o tom foi escolhido porque o autismo - uma condição neurológica que afeta, principalmente, a comunicação e os comportamentos sociais - é quatro vezes mais comum em meninos do que meninas.
(Foto: Studio Gemus)
“O público têm se emocionado com o ambiente. Muitos ficaram com os olhos cheios de lágrimas”, disse Fernanda ao jornal
A Redação. “Fico feliz de estar tocando as pessoas”.
Funcionamento
A Casa Cor Goiás começou nesse sábado (28/8) e segue até 12 de outubro em uma área anexa ao Flamboyant Shopping, com entrada pelo garden do shopping. Os horários de funcionamento são de terça à sexta-feira, das 15h às 22 horas; e sábados, domingos, das 12h às 22h. O tempo total máximo de permanência na mostra é de duas horas e meia.
Os ingressos para visitação custam R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia entrada). Crianças até 10 anos não pagam; acima dessa idade, o valor cobrado é a meia entrada. Os organizadores destacam que a visita obedece a todos os protocolos de segurança e proteção relacionados à covid-19.
Notas:
*O quebra-cabeça é considerado um dos símbolos do autismo, porque até hoje a comunidade cientifíca tenta desvendar as causas do transtorno - importante frisar que não é uma doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas no mundo estão dentro do TEA. No Brasil, a estimativa é de 2 milhões.
** O apresentador Marcos Mion tem um filho com autismo