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Transporte

Seguro de cargas em Goiás cresce mais de 70% e está acima da média nacional

Arrecadação em 2018 atingiu R$ 5,4 milhões | 05.10.18 - 07:40  Seguro de cargas em Goiás cresce mais de 70% e está acima da média nacional (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
Kamylla Rodrigues
 
Goiânia – Cerca de 65% de tudo que é produzido no Brasil vai de um canto a outro sobre rodas. O país tem a maior concentração rodoviária de transporte de cargas entre as principais economias mundiais. Proteger essa mercadoria significa garantir a manutenção do abastecimento e, consequentemente, da economia, visto que só o setor foi responsável pela movimentação de R$ 59,45 bilhões nos primeiros três meses de 2018.
 
O seguro contra roubos e furtos de cargas, chamado de Seguro de Responsabilidade Civil Facultativa por Desvio de Carga (RCF-DC), cresceu 72% em Goiás no primeiro semestre deste ano quando comparado com o mesmo período do ano passado. A arrecadação das empresas de seguro passou de R$ 3,1 milhões em 2017 para R$ 5,4 milhões em 2018. O índice goiano foi maior do que a média brasileira, que apresentou aumento de 11% no período. Os dados são da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
 
“Goiás está em uma região que concentra o agronegócio e, com a safras recordes, você tem mais mercadorias sendo transportadas e tem um aumento na arrecadação”, afirma o presidente da Comissão de Ramos Elementares do Sindicato das Seguradoras (SindSeg) MG/GO/MT/DF, Geraldo Pereira Filho. Ele acrescenta que, com a retomada da economia e uma maior produtividade no campo, a expectativa é de que o índice de contratações de seguro de cargas continue crescendo até o final do ano.
 

Presidente da SindSeg, Geraldo Pereira Filho (Foto: divulgação)
 
Geraldo acredita que, mesmo curto, já que o cenário econômico não tem dado espaço para novos investimentos, o resultado no país também deverá ser positivo. “Com a economia retraída e com as manifestações, como o caso da greve dos caminhoneiros, o número de mercadorias circulando diminuiu. Mesmo diante disso, percebemos que a arrecadação do acumulado do ano e dos últimos 12 meses não decresceu. De certa forma, isso mostra a força do mercado de seguros”, comemora.
 
Criminalidade
Outro ponto destacado para justificar o aumento significativo na arrecadação de seguros de transporte de cargas é a criminalidade. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Goiás, os furtos de cargas no Estado subiram 19% de janeiro a agosto deste ano. A comparação é com o mesmo período do ano passado. Só neste ano foram 183 ocorrências envolvendo esse tipo de crime. Em contrapartida, os casos de roubos de cargas caíram. Enquanto no primeiro semestre de 2017 o número de ocorrências foi de 357, este ano o índice foi de 317. “Mesmo assim é um número considerável e que não elimina o estado de alerta e a necessidade de prevenção dos transportadores”, afirma Geraldo.

Para o delegado Alexandre Bruno Barros, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar), as organizações criminosas estão "cada vez mais especializadas" nesses dois tipos de crime. “Os grupos possuem uma divisão bem definida. Dentro da quadrilha existem os ladrões, responsáveis pela ação criminosa de roubo ou furto, os transportadores, que fazem o transbordo da carga e levam para os galpões, e aqueles que fazem a comercialização do produto, além do receptador que compra essas mercadorias. Existe toda uma logística do crime”, explica o delegado, lembrando de um dos casos que chamaram a atenção da polícia.
 

Delegado Alexandre Bruno Barros (Foto: enviada via WhatsApp)
 
Em julho deste ano, durante a operação Líquido Dourado VI, a Polícia Civil de Goiás prendeu Rodrigo Fernandes Goulão de Almeida, de 30 anos, considerado um dos maiores ladrões de carga do Estado e que estava foragido. Segundo o delegado Alexandre, só este ano a organização criminosa liderada por Rodrigo foi responsável pelo roubo de 300 mil litros de combustíveis. O suspeito foi detido em uma clínica de estética, em Goiânia, onde tentava fazer procedimentos para mudar o rosto. De acordo com a polícia, a transformação na aparência era uma estratégia corriqueira adotada por Rodrigo para que ele não fosse reconhecido durante as abordagens policiais.
 
O homem também é apontado como especialista no roubo de açúcar. “Durante as diligências, nós identificamos um galpão em Senador Canedo, onde foram apreendidas máquinas usadas pelo grupo para reempacotar cargas roubadas e revender para o estado do Pará”, conta o delegado. Essa quadrilha, segundo a polícia, agia há um ano.

A equipe de reportagem conversou com um caminhoneiro, que pediu para não ser identificado. Ele disse que já sofreu oito assaltos ao longo de 10 anos de carreira e em todos os casos, a ação durou menos de dez minutos. "É tão rápido, que quando passa, você fica em estado de choque tentando acreditar. São quadrilhas que mantêm um padrão de roubo. Agem sempre da mesma forma. Costumam abordar nos trechos com subida, quando o caminhão fica mais lento, sobem na cabine, mandam encostar em algum local onde outro veículo já está aguardando e fazem o transbordo. Em todos os casos em que eu fui vítima, nunca levaram o caminhão. O interesse é na carga", relata o caminhoneiro ao informar que já foi agredido mesmo sem reagir. 
 
Operações policiais 
De janeiro a agosto deste ano, a Decar realizou 52 operações e prendeu 184 pessoas ligadas ao roubo e furtos de cargas. Receptadores estão entre os destidos. Só em Goiás, quatro postos de combustíveis foram fechados nos últimos meses por revenderem carga roubada. “A Polícia Civil, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com o Comando de Operações de Divisas (COD), tem realizado um trabalho integrado para desmantelar essas organizações criminosas. Estamos dando respostas rápidas para o crime”, informa o delegado Alexandre.
 
Ele ressalta que, mesmo diante das ações positivas das forças de segurança, é necessário prevenir. “Nossa ação é de investigação e repressão e, por isso, os empresários devem buscar formas de evitar prejuízos. O seguro de carga, por exemplo, é uma forma de minimizar as perdas, já que as seguradoras possuem uma gama de ferramentas que dá mais tranquilidade ao comerciante”.
 
Proteção
Na Região Centro-Oeste, furto e roubo de cargas geraram um prejuízo de R$ 66 milhões em 2017, o maior índice dos últimos quatro anos, segundo o Instituto Comjovem de Desenvolvimento Mercadológico NTC & Logística. No período, o número de ocorrências foi de 640. Em todo o país, os prejuízos somaram 1,5 bilhão, com mais de 25 mil ocorrências no ano passado. Em cinco anos, o valor perdido com o roubo e furto de cargas cresceu 63% no Brasil.  
 
E é justamente buscando mitigar possíveis prejuízos que Raphael Vilela Nascimento, diretor financeiro da Boa Vista alimentos, utiliza o Seguro RCF-DC, há 17 anos. A indústria de carne bovina e derivados atende todo o território nacional e importantes mercados internacionais. A matéria-prima da indústria é a carne, que está entre os três produtos mais visados por assaltantes de cargas em Goiás.  
 
“A empresa conta com frota própria, composta por caminhões modernos e com variadas capacidades de carga. Além do seguro para a frota, não dispensamos o seguro da carga, que é muito visada devido a seu alto valor e rápida venda”, conta Raphael, que tem investido cada vez mais em itens de segurança aliados ao seguro, como rastreadores dos veículos e das cargas. 
 
Outras importantes estratégias são, para Raphael, fundamentais para evitar que a carga seja alvo de criminosos. “Nós confiamos muito em nossos motoristas, que estão conosco há mais de sete anos. Nós seguimos orientações da própria seguradora ao não trafegar em horários de maior risco e em locais com maior registro de crime. Contamos ainda com uma empresa de monitoramento, que acompanha a saída e chegada dos caminhões”, pontua. 
 
A empresa sofreu quatro roubos de cargas no ano passado. Em um dos casos, os criminosos levaram o caminhoneiro como refém. O homem foi liberado sem ferimentos pouco tempo após o crime. “A orientação para nossos profissionais é nunca reagir. A vida deles é mais importante do que qualquer carga”. Este ano, a empresa não teve nenhum sinistro com crime. 
 
Para Raphael, o investimento com medidas de segurança vale a pena. “Já colocamos na ponta do lápis se valia a pena nós mesmos bancarmos esse risco, mas esse não é nosso negócio. A seguradora tem mecanismos para evitar os crimes, atender as ocorrências em casos de acidente e repor parte do prejuízo. Nosso negócio é vender carne. Por isso, a parte de segurança e consultoria de risco a gente deixa para quem é especializado nisso. O seguro para pequenas e grandes empresas se tornou indispensável, porque arriscar perder uma carga de alto valor pode significar fechar as portas do negócio”, ressalta.  

 
Como funciona
Atualmente, apenas o seguro de acidentes, chamado de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Cargas (RCTR-C), é obrigatório pela legislação brasileira. Ele pode ser contratado tanto pelo proprietário da carga (embarcador), quanto pela transportadora. Essa modalidade oferece cobertura para eventuais danos causados aos bens ou mercadorias de terceiros colocados sob sua responsabilidade. 
 
Já o seguro contra roubos e desparecimentos de cargas não é obrigatório nem para o embarcador, nem para o transportador, mas é recomendado. Quando contratado, ele deverá ser emitido em conjunto com o RCTR-C. Essa modalidade de seguro cobre, pelo menos, o desaparecimento total da carga junto com o veículo e o roubo da mercadoria. 
 
 
 
O custo Seguro de Carga na modalidade RCF-DC varia em razão da carga transportada, o valor da mercadoria, destino de entrega, embalagem utilizada no transporte, tipo de cobertura (se completa ou parcial), frequência de desaparecimento de cargas entre várias outras particularidades. Por isso, não existe uma apólice padrão. Para regiões com baixa frequência de ilícitos, o valor do seguro é menor. Em Goiás, a coparticipação em caso de sinistro pode chegar a 30%, de acordo com todas as variantes já citadas. No Rio de Janeiro, por exemplo, esse índice pode chegar a 40%. 

Cada seguradora exige critérios para fechar o seguro com o cliente, sejam para os procedimentos de distribuição da carga em regiões críticas, rotas traçadas ou medidas adotadas pelo segurado quanto à prevenção de perdas. As seguradoras procuram buscar clientes que investem em prevenção e adotam medidas para minimizar esse tipo de exposição, justamente porque o desvio de carga tem sido um dos principais fatores responsáveis pela alta sinistralidade do ramo.

As gerenciadoras de riscos e equipamentos exigidos nos contratos de seguros viabilizam a aceitação de cargas e operações de maior risco, possibilitando um melhor equilíbrio no resultado das contas. “São medidas de precaução, porque a seguradora sabe dos riscos de determinadas cargas. A empresa pode estabelecer os horários de circulação do caminhão, a instalação de ‘iscas’, que são rastreadores colocados na carga, rastreadores do caminhão, inteligência embarcada, que manda sinais de localização, e até escolta, dependendo da carga e do destino”, explica o corretor de seguros Jovane Rodrigues Moreira, da Genoma Corretora de Seguros. 
 
O investimento em tecnologia é parte importante desse processo de gerenciamento de riscos exigido na contratação do seguro. O coordenador do Instituto Comjovem de Desenvolvimento Mercadológico NTC & Logística, Marcelo Rodrigues, cita o monitoramento ostensivo em tempo real do deslocamento da carga como ferramenta. "Saber onde a carga está, por onde está passando e se está na direção certa é uma forma de dar resposta rápida em caso de furto ou roubo. Carga de medicamento, por exmplo, se roubada, o empresário não consegue repor do dia para a noite. Existem trâmites burocráticos e, por isso, perder essa carga gera crise tanto para a empresa que envia o produto quanto para aquela que receberia".
 

Marcelo Rodrigues (Foto: divulgação)

Ele ressalta que a adoção dessas práticas preventivas, como o seguro e a tecnologia, gera gastos. "O custo pode parecer alto à primeira vista, mas se paga ao longo do tempo e dá segurança para a continuidade do negócio. O seguro de carga é 100% importante para o país, apesar do transporte rodoviário representar 60% dos modais. Aliar essa proteção à tecnologia diminui as chances de grandes perdas". 

O papel do corretor
De acordo com Jovane Rodrigues, cada apólice é feita de forma criteriosa. “O corretor vai até a empresa, aplica um questionário, observa todos os pontos que interferem no valor e diante disso a seguradora sugere um plano de gerenciamento de risco”, explica ao frisar a importância do trabalho do corretor na busca de veracidade dos dados repassados pelo cliente. 


Corretor de seguros, Jovane Rodrigues (Foto: divulgação)
 
“Não adianta você fazer uma apólice de qualquer jeito, sem a intermediação de um corretor credenciado e preparado, porque se houver um sinistro, a empresa seguradora pode negar o pagamento. O corretor faz um trabalho jornalístico, de apuração mesmo, para que nenhum dos lados seja prejudicado em um eventual problema”, reforça. 
 
A Genoma atua no mercado há 25 anos e, segundo Jovane, a empresa prioriza a formação e atualização de seus profissionais. “O mercado tem mudado cada vez mais rápido e o corretor tem que estar preparado para atender as demandas dos clientes, sejam elas estruturais ou tecnológicas". 
 
Carlos Polízio, diretor de seguros aeronáutico, cascos marítimo e transporte do grupo segurador Banco do Brasil e Mapfre, acrescenta que quanto mais o corretor estiver envolvido nas operações, maior o benefício a todos. “Por se tratar de um ramo cuja carga operacional é elevada, face a quantidade de faturamentos mensais, é essencial a aproximação entre corretor e seguradora para o monitoramento permanente das atividades dos clientes”, diz. 
 
Rose Matos, gerente do Porto Seguro Transportes, também ressalta esse trabalho que ajuda o cliente a encontrar soluções mais adequadas ao perfil de cada empresa. “O corretor é essencial em todo processo. Ele tem um papel fundamental para esclarecer todas as condições técnicas sobre o seguro e oferecer o produto mais adequado, de acordo com as necessidades do cliente”, ressalta. A empresa coloca à disposição dos corretores uma equipe de Consultores de Negócios que apoia todo o processo de negociação. 
 
 
 
 

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