Goiânia - São 4 horas da madrugada e acordo assustada com o coração disparado. Entre os instantes em que abro os olhos e compreendo que não estou dentro de um pesadelo, me dou conta de que fui despertada por choro e uivos do cachorro da casa ao lado.
O fato não é novo, pelo contrário, se tornou recorrente. Há mais de uma semana, os responsáveis pelo escritório G.& A. Advogados Associados, que fica ao lado do meu prédio, no Jardim América, decidiram, literalmente, largar um cachorro no local, aparentemente para que ele vigie o estabelecimento comercial.
Desde então, o cão não para de chorar e uivar dia e noite, ininterruptamente. Nas madrugadas, quando permanece sozinho, o cachorro parece enlouquecer e ter um surto psicótico de desespero. O choro constante deixa evidente essa condição.
Não sei se está sendo alimentado e se há água para que ele beba. Não sei também se está doente. Por várias vezes, vejo pela janela alguns vizinhos fazendo carinho no cachorro através do portão do escritório. Ele se acalma por alguns minutos, mas logo recomeça a agonizar em choramingos e mais uivos.
Há alguns dias, resolvi ligar no escritório e pedi para falar com o advogado responsável, o senhor N.G.G. Narrei o que acontecia com o cachorro enquanto o escritório ficava às favas. Grosseiramente, ele me respondeu que eu e meus vizinhos "teríamos que aguentar" a situação, pois o cão estava se adaptando. Impaciente, ainda me mandou "tomar as medidas judiciais cabíveis", caso eu me sentisse incomodada.
Desliguei o telefone incrédula, sem querer acreditar que pode existir alguém tão egoísta. Egoísta com o próprio cão, que se fosse mesmo "de estimação" estaria na casa de seu dono, e não sozinho em um estabelecimento de trabalho. Egoísta com dezenas de famílias que, apesar de se solidarizarem com a abandono do cachorro, estão sendo perturbadas por um barulho muito incômodo, há vários dias.
A esse senhor eu deixo dois recados: sim, estou tomando as medidas judiciais cabíveis contra sua negligência. E não, nós não temos que “aguentar”essa situação, pois não fomos nós que criamos esse problema. E quando eu digo "nós" eu incluo eu, meus vizinhos e, principalmente, o cachorro.
Esse cão já deu todos os indícios de que não está disposto a trabalhar voluntariamente como cão de guarda, muito menos está feliz enfrentando a dualidade de ser abandonado e feito prisioneiro por seu próprio dono. Esse cão não quer ficar jogado no escritório de advocacia como um bibelô de decoração, durante o dia, e um artefato de intimidação a bandidos, durante a noite.
Senhor advogado, se quer garantir a segurança de seu escritório, contrate um guarda humano, invista em câmeras e alarmes. Profissionalize a segurança. Não deposite sobre um animal, que não é cão de guarda, a responsabilidade de trabalhar para um negócio que não é dele, mas seu.
Eu procurei a AMMA, a DEMA, o Disque-Denúncia 197 e até mesmo o 190 para relatar os maus tratos ao animal. Mas nenhuma dessas esferas púbicas quis aceitar minha denúncia. Por fim, me disseram que a saída seria fazer um Boletim de Ocorrência por "perturbação", no Distrito Policial do meu bairro. Assim o fiz na tentativa de repreender o dono do animal.
Mas e quanto ao cachorro? Nada pode ser feito? O que resta a ele é aceitar uma vida de choro e uivos ininterruptos em sua rotina diária? Esse animal merece continuar vivendo sob a negligência e o egoísmo de um dono cruel e irresponsável?
Eu espero que esse artigo chegue às associações que atuam na defesa dos animais e sirva para que a situação seja resolvida. Desejo que as entidades que lutam pelo bem-estar dos bichinhos se sensibilizem com esse caso, porque se depender de amor e cuidado do responsável, o cachorro vai continuar agonizando até desenvolver alguma doença emocional, como depressão. Se é que já não a tem.