Sarah Mohn
Goiânia – De uns tempos para cá, venho ouvindo com muita frequência considerações do tipo "mulher elegante é mulher com salto alto" ou "mulher fica mais feminina com salto alto" ou ainda "mulher de verdade tem que usar salto". Ouço isso não só de homens, pasmem, mas de muitas mulheres. Para esse pensamento eu tenho uma resposta: vocês são machistas.
A feminilidade, a elegância, a sensualidade e até mesmo a sexualidade de uma mulher estão muito mais ligadas à postura, ao comportamento e à personalidade dela do que ao tamanho do salto do sapato que ela usa. A constatação me parece meio óbvia, mas pelo jeito para muita gente não é.
O fato de ainda existirem pensamentos como estes me faz concluir que nossa sociedade ainda é muito machista e formada, não apenas por homens, mas por mulheres machistas que se subjugam à pressão e à imposição psicológicas de um universo que aprisiona e determina regras absurdas, quando na verdade deveriam se valer de resistência e reação.
Quero deixar claro que não sou contrária ao uso de salto alto. Eu gosto e uso com frequência. Mas questiono a obrigatoriedade desse acessório de vestuário como pré-requisito para definição de perfil e, o que é pior, até mesmo do gênero de uma mulher. Chega de subserviência a estereótipos!
Mundo, sociedade, todos vocês, apenas parem. Nós, mulheres, não somos obrigadas a coadunar com determinações tolas. Estamos no século 21, não na hipócrita e arruinada corte francesa de 1750. Precisamos aprender com os erros da humanidade e evoluir enquanto espécie animal.
É preciso enxergar e combater todo indício de machismo, mesmo os considerados "menos graves". Por isso, discordo inclusive do argumento de que algumas profissões exigem que mulher use salto. Mentira. Eu trabalho em ambientes formais, que me demandam vestimenta mais conservadora, mas nem por isso sou obrigada a usar todo santo dia um sapato com um salto deeeeste tamanho. Em muitas ocasiões, até desconfortável. É perfeitamente possível ficar elegante e bem vestida sem precisar de salto alto.
Essa discussão pode parecer fútil, mas não é. Quando o assunto são direitos femininos, todo debate é importante. Mesmo que tentem reduzi-lo à insignificância. Enquanto defensora da minha liberdade de ser humano e de cidadã, meu objetivo primeiro será sempre evitar que minha voz seja aprisionada. Não sei vocês, mas eu decidi que nessa vida não serei eu a acatar dogmas sociais travestidos de cláusulas da lei que voga pela moral e os bons costumes.