Sarah Mohn
Goiânia – Achei que demoraria mais tempo para ver isso acontecer, até que na semana passada um colega de trabalho trouxe à pauta de conversa uma informação que me deixou muito satisfeita. Pai de um garoto dois anos, meu colega me informou que na escola de seu filho não mais são comemorados o Dia dos Pais e o Dia das Mães. Agora, nas mesmas datas, comemora-se o Dia da Família.
Talvez a essa mudança seja novidade só para pessoas que, como eu, ainda não têm filhos. Provavelmente, a alteração no cronograma festivo de escolas mais avançadas, especialmente as que seguem a linha construtivista, já venha sendo implementada há alguns anos. Mesmo assim, essa modificação é um marco histórico e precisa ser comemorada.
Ela merece ser celebrada, em primeiro lugar, porque a escola cumpre o papel de segunda casa de qualquer criança e, portanto, precisa se aproximar o mais fielmente possível do que se define como lar. E os lares mudaram ao longo das últimas décadas. Queiram ou não, a concepção de família hoje é mais ampla.
As figuras de pai e mãe continuam sendo funções tradicionalmente dominantes na cultura ocidental. Mas uma nova estrutura familiar, encabeçada por duas mães ou dois pais, é cada vez mais pujante. São famílias formadas por casais que optaram por constituir um núcleo amparado na maior de todas as bases, o amor, e esse sentimento independe de classificação de gênero.
Essas novas estruturas familiares nada mais são do que um reflexo da nossa realidade. Elas existem e precisam ser reconhecidas como o que são: família. Portanto, nada melhor do que levar esses princípios para a segunda casa dos filhos desses novos grupos sociais. É fundamental que as escolas reconheçam e convalidem a nova realidade.
Não se trata de ensinar as crianças que todas as famílias serão agora formadas por casais homossexuais. Esse é um argumento frágil e inconsistente. O que a nova educação propõe não é a imposição de orientação sexual, mas a tolerância e igualdade de direitos civis. Bom que princípios humanitários e díspares de preconceito comecem a ser ensinados logo na educação infantil.
É absurdo que uma criança seja excluída de festejos escolares por não possuir um pai ou uma mãe, enquanto é educada por duas (ou mais) pessoas do mesmo sexo que desempenham o papel que é primordial à educação de qualquer ser humano: o da criação pautada no amor.
Vejo como cruel e inaceitável imaginar que uma criança sofra no ambiente escolar a discriminação que seus pais ou suas mães lutam diariamente para combater na difícil lide diária de um país machista e preconceituoso.
Por isso me sinto feliz ao saber que a escola do filho do meu colega de trabalho existe. É real e existe em Goiânia, uma capital não tão cosmopolita e pouco aberta a ousadias contemporâneas. Parabenizo a coragem e a ousadia dela e a de todas as escolas que estão, aos poucos, plantando a sementinha do sonho de um mundo mais justo, humanitário e diversificado.
É claro que a escola não é 100% responsável pela formação do caráter e da personalidade de ninguém. Mas é corresponsável. Portanto, deve cumprir seu papel de buscar formar cidadãos responsáveis, íntegros e tolerantes. Se não o de conseguir formar, ao menos o de ensinar o caminho das pedras.