São Paulo - Os jornais do Brasil e do mundo cada vez mais serão lidos em dispositivos portáteis, como smartphones e tablets. Se a tendência é irreversível, o caminho é a inovação radical.
Na busca por estratégias diante do desafio de produzir e entregar notícias nesta nova realidade, editores e publishers dos maiores jornais do Brasil e do mundo, entre eles A Redação, participam desde quarta-feira (1º/10), em São Paulo, do seminário Internacional da Inma (International News Media Association).
“Está na hora de pensarmos diferente”, avisou o professor Alan Mutter logo na abertura. “Temos de criar valor com novos produtos amparados por notícias de qualidade.”
Especialista em tendências digitais no Vale do Silício, o professor da Universidade da Califórnia, Mutter destacou que o Brasil lidera, entre outros, o ranking mundial de consumo de notícias online. “É também o país com maior atividade nas mídias sociais.”
(Foto: Rogério Lorenzoni/INMA)
Ele destacou que a profusão de boas ideias nos meios digitais esbarra na viabilidade econômica: “13% das startups (empresas com produtos digitais) no Vale do Silício fecham nos primeiros 12 meses, não é fácil.”
Mutter gerou polêmica entre os editores e donos de jornais ao dizer que as empresas de notícias estão se tornando empresas de tecnologia. Mas encontrou ressonância entre os brasileiros. “Nosso desafio é passarmos de produtores de conteúdo para criadores de tecnologias”, comentou Roberto Gazzi, diretor do grupo O Estado de S. Paulo.
Apesar das dificuldades de obter lucro com as plataformas móveis, o tema praticamente dominou os painéis de debates: “A tendência não é mais o digital first; agora é o digital only”, vaticinou Sérgio Augusto Ávila Maria, vice-presidente de Desenvolvimento do Google.
Sérgio Augusto Ávila Maria, vice-presidente de Desenvolvimento do Google (Foto: Rogério Lorenzoni/INMA)
Em sua apresentação sobre o mercado britânico, Toby Moore, diretor do Telegraph, também destacou a ascensão dos dispositivos móveis e seus efeitos sobre o mercado. “O anunciante quer mostrar seu produto de forma cada vez mais criativa, aproveitando todos os recursos que o mobile oferece”, afirmou.
A maioria dos palestrantes mostrou experiências bem sucedidas ou embrionárias envolvendo jornalismo digital e mídias sociais. “Realizar projetos bons é melhor que ficar buscando a perfeição”, repetia Frida Boise, editora-chefe do jornal sueco Expressen. “Reconhecer rápido um fracasso diminui os prejuízos.“
Os representantes dos jornais de papel procuraram destacar números positivos sobre esta mídia, forçando dados para parecer que a impressão de jornais ainda é um negócio lucrativo e viável. “Nosso foco ainda é o papel”, avisou o porta-voz da Associação Nacional de Jornais (ANJ).
Se os mais velhos não se digitalizarem e aceitarem a revolução digital, seus negócios não vão sobreviver diante dos nativos digitais. “Não dá pra fazer jornal digital com cabeça analógica”, afirmou Caio Túlio Costa, da MVL Comunicação. "Estamos em um momento de disrupção na indústria de notícias."