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Eliane de Carvalho .
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Eliane de Carvalho é jornalista e mestre em Rel. Intern. Foi repórter na CBN e em programas de TV da Globo, Band e Cultura; comandou programa de entrevistas na TV Câmara SP; apresentadora de telejornal na TV Alesp e correspondente do SBT, na Espanha. / jornalistas@aredacao.com.br

Inquietudes

O mundo visto por elas

| 08.08.25 - 17:12 O mundo visto por elas diretora Petra Costa (Foto: Arquivo pessoal)
 
Assistir a um bom filme é com certeza um dos meus programas favoritos, porque o cinema tem a capacidade de nos levar para realidades desconhecidas, de nos tirar o ar, de trazer à tona alegrias e tristezas e, por outro lado, de cravar nossos pés no chão e nos revelar situações, que muitas vezes nos escapam pela incapacidade de alcançar a complexidade de algumas questões.
 
Tive muitas dessas sensações ao assistir a dois filmes nacionais e impactantes, nos últimos dias: "Apocalipse nos Trópicos” e “Manas”. O primeiro, disponível nas plataformas de streaming, escancara a manipulação de milhares de evangélicos por pastores, que ao invés de focar na espiritualidade, se dedicam ao convencimento político dos fiéis e na conquista de poder pessoal. O segundo, em cartaz nos cinemas, trata da exploração sexual infantil de duas irmãs, na Ilha de Marajó. São dois casos de Brasil na veia, de choque de realidade nua e crua. Imperdíveis!
 
Mas outro ponto comum, me chamou a atenção. São filmes dirigidos por mulheres, Petra Costa e Marianna Brennand, respectivamente. E o que me pareceu mais interessante foi o olhar feminino sobre os temas tratados. Petra é parte ativa no documentário, ela faz a locução do filme e nos conduz conforme avança a dominação dos fiéis, no país. Já Marianna, dirige um filme de ficção com muita sensibilidade, sem apelar para o explícito, com respeito aos corpos das adolescentes vítimas de abusos.
 
As mulheres sempre tiveram lugar de destaque no cinema, mas como atrizes, na maioria das vezes. Na direção, sempre foram minoria. Se a perspectiva masculina predomina, isso impacta a forma como uma história é contada, diretamente.
 
Dos 250 filmes de maior bilheteria, nos Estados Unidos, em 2023, apenas 16% foram dirigidos por mulheres. Quando o trabalho feminino extrapolou a direção e incluiu ainda roteiro, produção executiva, edição e cinematografia, as mulheres representaram 22%, segundo uma pesquisa do Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade de San Diego. A situação é ainda mais restrita, quando o foco se volta para mulheres negras, nestas posições.
 
Como ter voz expressiva, com uma participação tão baixa no papel de direção, na indústria cinematográfica? Sem uma maior presença de mulheres nesta posição, não há como garantir a diversidade de vozes e perspectivas, um cinema mais inclusivo e representativo.
 
Nos últimos tempos, posturas como da atriz australiana, Nicole Kidman, tiveram destaque na mídia internacional. Uma atriz consagrada, com o poder de escolha dos diretores com quem trabalha, decidiu que, a cada um ano e meio, atuará em filmes dirigidos por mulheres. Marcou posição e assim tem sido. "Babygirl", dirigido por Halina Reijn, é um exemplo recente e um sucesso de público.
 
Mas ainda há muitas dificuldades de ser uma cineasta no Brasil e no mundo. Desde chefiar equipes majoritariamente masculinas e em jornadas de trabalho de muitas horas, até o desafio de conciliar a carreira com tarefas não remuneradas, como o cuidado dos pais e filhos. Diretoras também enfrentam mais dificuldade para conseguir financiamento para seus filmes e muitas vezes têm que se adaptar a orçamentos enxutos, com reflexo na qualidade da produção.
 
Nas premiações mais importantes do cinema mundial, as mulheres não são maioria e não chegam a representar nem a metade dos indicados. E não é por falta de qualidade do que produzem, mas, provavelmente, porque não existe paridade de gênero na composição dos votantes, na direção dos festivais. Quando mais mulheres fizerem longa metragens, com orçamento grande, é possível que esta realidade mude.
 
Em quase um século de existência do Oscar, apenas sete mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção e só duas levaram a estatueta. Quanto mais mulheres receberem prêmios como o Oscar, o Globo de Ouro, o BAFTA, a Palma de Ouro, o Leão de Ouro e o Urso de Ouro, todos com grande visibilidade internacional, mais delas se sentirão encorajadas a trabalhar na direção.
 
Ainda não há uma mudança significativa visível. Mas sim, existem muitos exemplos de mulheres cineastas, que venceram as barreiras e tiveram grandes conquistas, em todos os cantos do planeta.
 
Vou me centrar, aqui, em alguns nomes de diretoras brasileiras, além das duas já citadas acima, até para deixar como dica: Adélia Sampaio (“Amor Maldito”), Anita Rocha da Silveira (“Mate-me Por Favor”), Anna Muylaert (“Que Horas Ela Volta?”), Gabriela Amaral Almeida (“As Boas Maneiras”) e Laís Bodanzky (“Bicho de Sete Cabeças”).
 
Não posso terminar sem mencionar que “Apocalipse nos Trópicos” ganhou o prêmio David Carr Award for Truth in Non-Fiction Filmmaking e o Special Juri Prize, no Montclair Film Festival, ambos nos EUA. E “Manas” conquistou o Director’s Award, no Festival de Veneza, além do “Women in Motion”, no Festival de Cannes, ao lado de Nicole Kidman, e pode ser a aposta do Brasil, no Oscar, em 2026. 

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