Carolina Pessoni
Goiânia - No cenário tranquilo do Lago das Rosas, uma estrutura de concreto ainda chama a atenção de quem passeia pelo parque: o trampolim. Inaugurado por volta de 1942, ele foi erguido pouco depois da criação do lago como balneário e se tornou um dos símbolos do lazer público na Goiânia em formação.
Com estrutura em concreto armado, frisos escalonados e corrimão em ferro fundido, o trampolim segue fielmente o estilo art déco, que marcou a arquitetura da nova capital. Formas geométricas simples, volumes bem definidos e proporções simétricas fazem dele um exemplar que dialoga com outros marcos da época, como o coreto da Praça Cívica e o Palácio das Esmeraldas.
“O trampolim foi projetado com dupla finalidade: estética e funcional”, explica a arquiteta Renata Barros. “Além de compor a paisagem do balneário com sua linguagem arquitetônica moderna, ele foi construído para uso direto da população, permitindo mergulhos e saltos recreativos no lago.”
Crianças e adolescentes usavam o trampolim para se divertirem nos anos 1940 e 1950 (Foto: Hélio de Oliveira)
Nos anos 1940 e 1950, a estrutura era ponto de encontro para famílias e jovens. Em um tempo em que o Lago das Rosas abrigava pescarias, passeios e banhos de sol, o trampolim se destacava como símbolo de diversão. Mais que um objeto arquitetônico, era parte viva da rotina de lazer da cidade.
A importância histórica e cultural da peça foi reconhecida oficialmente. Assim como a mureta do lago, o trampolim foi tombado em nível federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2003, integrando o Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia. Também possui tombamento estadual, que abrange todo o Parque Lago das Rosas como bem cultural de interesse coletivo.
“Qualquer intervenção ou restauração deve seguir critérios específicos, respeitando os materiais originais e as características visuais e construtivas do estilo art déco, como frisos, volumes escalonados e o uso de concreto armado e ferro fundido”, explica Renata. Ela lembra que a Portaria nº 201/2024 do Iphan trouxe diretrizes de preservação e critérios de intervenção para as áreas tombadas, incluindo o conjunto art déco do qual o trampolim faz parte.
Trampolim e mureta do Lago das Rosas foram tombados como patrimônio histórico pelo Iphan em 2003 (Foto: Alois Feichtenberger/MIS)
Para a arquiteta, a peça representa muito mais do que um elemento decorativo. “O trampolim simboliza a preocupação com a qualidade de vida e com a modernidade urbana planejada da nova capital. É um marco afetivo e histórico, que conecta gerações ao passado urbano de Goiânia.”
Hoje, mergulhos e saltos já não fazem parte da paisagem. Mas o trampolim permanece como testemunha silenciosa da história, preservando não apenas a memória de um tempo em que o Lago das Rosas era balneário, mas também o valor da gênese de uma cidade que uniu planejamento urbano, estética e espaços de convivência.