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Eliane de Carvalho .
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Eliane de Carvalho é jornalista e mestre em Rel. Intern. Foi repórter na CBN e em programas de TV da Globo, Band e Cultura; comandou programa de entrevistas na TV Câmara SP; apresentadora de telejornal na TV Alesp e correspondente do SBT, na Espanha. / jornalistas@aredacao.com.br

INQUIETUDES

A disputa por terras raras em Goiás e no mundo

| 19.07.25 - 09:42 A disputa por terras raras em Goiás e no mundo A disputa por terras raras em Goiás e no mundo (foto: Netzsch)

Você já ouviu falar em terras raras? As terras raras não são terras e nem são raras. Na verdade, são elementos químicos encontrados em minerais na natureza, mas que requerem uma tecnologia extremamente avançada para a extração e processamento, daí serem considerados raros, e com alto valor comercial.
 
Estes elementos se tornaram os recursos mais estratégicos do planeta, por serem matérias-primas necessárias para produtos fundamentais da economia global, como turbinas eólicas, baterias de carros elétricos, foguetes, equipamentos médicos, armas e dispositivos eletrônicos, como os celulares. 
 
A China possui a maior reserva do mundo e responde por 49% das terras raras. O Brasil vem em segundo lugar com 23% das reservas. A partir daí, as reservas caem significativamente, nos demais países. Em terceiro lugar vem a Índia com 7,7% das terras raras. Os Estados Unidos estão bem atrás, na sétima posição, com apenas 2,1% e em oitavo lugar, a Groenlândia com 1,7%. Os dados são do Serviço Geológico dos EUA.
 
As terras raras se tornaram uma ferramenta importante na geopolítica, ou seja, nas relações de poder entre os países. A escassez desses minerais nos Estados Unidos explica a ameaça do presidente Donald Trump de anexar a Groenlândia aos EUA e a pressão de Trump para assinar um acordo com a Ucrânia, em condições totalmente desfavoráveis para aquele país em guerra, com o objetivo de explorar os minerais ucranianos.
 
Vale a pena entender, porque o mundo se tornou dependente da China, quando o assunto são as terras raras. Não basta ter reservas, o que agrega valor na cadeia produtiva é a tecnologia capaz de separar os elementos químicos dos minerais para serem usados como matérias-primas, na indústria.
 
Há décadas, o país asiático investe no desenvolvimento da tecnologia de refino - que é o processamento e a a separação química dos elementos presentes nos minérios, os ETR - e na fabricação dos imãs de alta potência usados nas turbinas eólicas e baterias dos carros elétricos. E mais, a China patenteou o processamento dos minérios. 
 
Vamos aos números que realmente importam. Hoje, a China responde por 69% da produção mundial. O país é responsável por 85% do refino dos elementos químicos e 90% da produção dos imãs. O país domina todas as etapas da cadeia produtiva, da mina ao imã.  
 
Para entender o peso da China, a Malásia ocupa o segundo lugar no refino mundial e responde por apenas 5% e a Estônia está na terceira posição com 3%. 
 
Quanto a produção dos imãs, o Japão está em segundo lugar, com apenas 5% do mercado, seguido pela União Europeia com menos de 1%. São muitos dados, mas são fundamentais para a compreensão da relação de força global. 
 
Foi neste cenário, que Trump impôs tarifas de exportação elevadas à China e precisou recuar, em seguida. Logo após o anúncio, a China restringiu a exportação dos elementos e dos imãs aos EUA, com impacto expressivo na produção de carros, caças e sistemas de mísseis americanos. Estava exposta a vulnerabilidade estadunidense.
 
E o Brasil neste tabuleiro? Como disse acima, o país tem a segunda maior reserva de terras raras, mas responde por apenas 1% da produção mundial, porque não domina a tecnologia de refino dos minerais. Ou melhor, o Brasil perdeu o bonde, porque deteve esta tecnologia, no passado.
 
Segundo reportagem publicada no Jornal da USP, em 19/11/21, a primeira jazida brasileira de terras raras foi descoberta, em 1886, na praia de Cumuruxatiba, na Bahia. Em 1915, o Brasil era o maior fornecedor mundial de monazita, um mineral que contém os tais elementos químicos ou terras raras. Na época, eles eram usados para produzir mantas incandescentes para que lampiões à gás emitissem luz branca. 
 
Em 1946, o químico e professor da USP, Pawell Krumholz, criou a técnica de separação dos elementos da monazita e, em 1957, foi criada a linha de pesquisa sobre terras raras, na universidade. Mas nesta época, tinham poucas aplicações tecnológicas significativas das terras raras e quando o elemento neodímio extraído da monazita passou a ser usado em imãs de alta potência, o Brasil já havia perdido espaço, no mercado mundial.
 
Hoje esta riqueza não é explorada no Brasil, porque o país já não domina a tecnologia necessária e devido ao alto custo para extração e separação dos elementos, o que leva o país a importar a matéria-prima da China. 
 
Mas agora, o estado de Goiás está na mira de investidores japoneses, porque possui jazidas de terras raras, na cidade de Minaçu. O governador Ronaldo Caiado acaba de voltar de uma viagem ao Japão, quando ficou acertada a vinda de uma comitiva daquele país à Goiás, com foco na exploração das terras raras, na segunda quinzena de agosto. 
 
O Japão não possui jazidas, não domina a tecnologia de separação dos elementos dos minérios, mas desenvolveu a tecnologia para a produção dos imãs de alta potência. O Japão quer diminuir a dependência da China, mas ainda depende da matéria-prima chinesa para produzir os imãs.
 
A Goiás e ao Brasil interessa menos vender o minério monazita, com baixo valor agregado, e sim negociar a transferência de tecnologia japonesa para a produção dos imãs por aqui. Será preciso muita habilidade na negociação.  
 
O governo do estado pode somar forças com a diplomacia brasileira, com capacidade reconhecida mundialmente neste tipo de negociação.
 
Na Universidade de São Paulo, grupos de pesquisa realizam estudos com terras raras, com resultados promissores, como um método de separação não poluente dos elementos químicos, baseado em nanotecnologia. 
 
A universidade paulista também coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, INCT, voltado aos estudos para o domínio de todas as etapas da cadeia produtiva da fabricação dos superimãs. Atualmente, o INCT colabora com a instalação de uma fábrica de imãs em Minas Gerais, que também possui jazidas de terras raras.
 
Na Câmara dos Deputados, tramita um projeto de lei que institui a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos e, em janeiro, o BNDES e o FINEP lançaram a Chamada Pública de Planos de Negócios para Investimentos em Transformação de Minerais Estratégicos, com recursos de R$ 5 bilhões.
 
São muitos interesses em jogo, mas Goiás e o Brasil têm condições para se destacar nessa disputa e o país recuperar a dianteira de um setor tão estratégico para a economia global.

Comentários

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  • 19.07.2025 12:55 Luciani Stival

    Bom saber! Obrigada pelo texto claro e fácil de entender! Bjs

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