Na semana em que se comemora o dia mundial do meio ambiente, vivemos um momento crucial, no Brasil. O que faremos com nossas leis ambientais, que determinarão nossa relação com o meio ambiente? O projeto de lei que desmonta a legislação brasileira e autoriza a concessão de licenças, sem estudos de impacto ambiental, na grande maioria dos casos, está na Câmara dos Deputados e será levado ao presidente da República.
Ninguém deveria se furtar a este questionamento e todos deveriam estar engajados em busca da melhor solução. Enfrentamos o maior desafio da humanidade de todos os tempos: a crise climática e suas implicações para o planeta e para a vida dos que nele habitam.
A realidade se impõem a despeito dos negacionistas. As enchentes no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia, as queimadas no Pantanal. Catástrofes com dimensões nunca vividas, comprovam os alertas da ciência.
Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC, de 2022 apontam que o planeta sofrerá um aumento ou excederá 1,5% grau na temperatura média do planeta, até 2030 - acima da temperatura média de 1880, quando os dados começaram a ser coletados em escala global. Para um leigo pode parecer pouco, mas os cientistas há muito alertam para as consequências desse aquecimento, como o degelo do Ártico, o aumento do nível dos oceanos, a acidificação das águas, a extinção de espécies animais, o aumento das doenças, os eventos de mortalidade em massa, como a pandemia da Covid.
Os gases de efeito estufa levam ao aquecimento do planeta e, no caso brasileiro, a principal causa das emissões é o desmatamento. Estamos destruindo nossos biomas. A Amazônia já perdeu 14% da sua cobertura vegetal nativa, o Cerrado 53%, a Mata Atlântica 71,6% e o Pantanal, a maior planície alagada do mundo, esta se transformando em um lugar cada vez mais seco e inflamável.
Voltamos ao ponto inicial do texto. O controle do desmatamento está diretamente ligado às leis ambientais brasileiras - sob forte ataque da maioria dos parlamentares, do Congresso Nacional - que determinam o que pode ou não ser desmatado, a fiscalização e a punição dos infratores. Sem isso, prevalecerá a sana desenfreada pelo voto na eleição seguinte e o lucro rápido com a exploração predatória dos recursos naturais.
É um tiro no pé! Um exemplo rápido, clareia o raciocínio: o desmatamento da Amazônia, reduz as chuvas; que irrigam o Pantanal e o Cerrado, no centro-oeste, e abastecem a região sudeste; compromete o abastecimento dos rios e nascentes, traz impactos diretos na agricultura e pecuária e resulta em prejuízos econômicos.
É verdade que a agropecuária cresceu 12,2%, no primeiro trimestre de 2025, em relação ao trimestre anterior, e foi a maior alta entre as atividades econômicas, no período, com uma contribuição importante no crescimento da economia do país.
Mas sem chuva, não há milagre e nem tecnologia que dê conta de sustentar estes resultados. O desmatamento e o ciclo das chuvas estão intimamente ligados.
A sociedade parece ter se dado conta do tamanho do risco que corremos, com o o afrouxamento das leis ambientais. Na semana passada, vimos manifestações em muitas cidades brasileiras contra a aprovação do projeto de lei, que ficou conhecido como “PL da Devastação”. Cinquenta organizações da sociedade civil, entre elas o Observatório do Clima, o Instituto Sócio Ambiental e o Greenpeace, redigiram uma carta aberta denunciando os riscos associados ao projeto e foi criado o site
pldadevastacao.org para que cidadãos de todo o país enviem uma mensagem para que o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), não coloque o projeto em votação.
Uma coisa é certa: futuro não está pronto e depende de nossas escolhas.